Haddad: resultado fiscal decorre da decisão de pagar precatórios e de acordo com governadores

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta segunda-feira, 29, que o resultado das contas do Governo Central, cujo déficit em 2023 foi de R$ 230,535 bilhões, ou seja, 2,1% do Produto Interno Bruto (PIB), foi resultado da decisão do governo federal de pagar os precatórios (dívidas da União com trânsito em julgado) e do acordo feito com governadores a respeito do ICMS sobre combustíveis.

“A decisão, na minha opinião, foi acertada. Ela foi amplamente divulgada. Nós fomos ao Supremo defender a tese de que aquele calote era inconstitucional e eu penso que a opinião pública, formada e informada, deveria levar em consideração esse gesto do governo de colocar ordem nas contas”, justificou Haddad.

O ministro se queixou das manchetes desta segunda-feira da imprensa sobre o Relatório do Tesouro Nacional ao dizer que elas não correspondiam ao esforço que o governo fez de “passar a régua” no que ele chamou de “legado tenebroso de desorganização das contas públicas”.

Haddad disse ainda que o déficit real se aproximou do número mencionado por ele no ano passado, de 1% do PIB. “Penso que o mercado entendeu e reagiu bem ao que estava programado”, afirmou.

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VÍDEO: grupo de 26 venezuelanos refugiados chegam em situação de desnutrição no MS

Um grupo de 26 refugiados venezuelanos, chegaram ao Centro de Apoio aos Migrantes (Cedami), na noite dessa sexta-feira (26), em Campo Grande. Segundo a associação, os imigrantes foram recolhidos com sinais de desnutrição e cansados.

De acordo com a Cedami, ao todo são 12 adultos e 14 crianças, que saíram do país de origem por falta de acessos básicos para sobrevivência. Veja o vídeo acima.

Segundo o coordenador da Cedami, Átilla Leiguisamon, os refugiados entraram no país de forma legal, através dos municípios de Puerto Quijarro e Puerto Suarez, cidades bolivianas, que fazem divisa com Corumbá, e também por Pacaraima (RR).

Ainda conforme o coordenador, em 2023, foram cerca de 500 refugiados venezuelanos acolhidos pela associação, que tem como objetivo ajudar os imigrantes a se reestabelecer no Brasil. Átilla detalha que no Centro de Apoio são oferecidos refeições como café da manhã, almoço e jantar, além de ajudarem na procura por emprego e validação de documentos.

DOAÇÃO

Há quase 40 anos, o Cedami desenvolve um trabalho de acolhimento aos refugiados, que chegam, em sua maioria, da fronteira da Bolívia e do Paraguai. O local conta com um coordenador, uma assistente social, dois serviços gerais e dois vigias noturnos, todos vinculados à Associação de Auxílio ao Hanseniano, que também faz parte do Hospital São Julião, em Campo Grande.

Com a crise na Venezuela, a procura pelo local temporário tem enfrentado dificuldade e aceitam doações de alimentos, roupas e materiais de higiene básica. Para ajudar, entre em contato através do número (67) 3325-7819.

Entenda a crise na Venezuela

A crise na Venezuela se arrasta há mais de 10 anos, que resulta em dezenas de cidadãos que fogem do país e se encontram no Brasil.

O último relatório de “Refúgios em Números”, indica que o Brasil recebeu mais de 50 mil solicitações de refugiados em 2022, provenientes de 139 países. O maior número desses imigrantes são de venezuelanos, com 67%, segundo o Conselho Nacional para os Refugiados (Conare).

Na fronteira com Roraima, de acordo com a Casa Civil, o número aumentou em 23,40% no primeiro trimestre de 2022, com 31.898 venezuelanos entrando por Paracaima. Em Campo Grande, muitos refugiados não conseguiram se reestabelecer e pedem ajuda financeira nos semáforos.

*Estagiária sob supervisão de Débora Ricalde

Veja mais vídeos de Mato Grosso do Sul:

Lula diz que Vale “nada fez” para reparar destruição em Brumadinho

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou a Vale, nesta quinta-feira (25/1). Por meio das redes sociais, o chefe do Executivo chamou de crime a ruptura da barragem da mineradora em Brumadinho (MG) e disse que a empresa “nada fez” para reparar a destruição.

“Hoje faz 5 anos do crime que deixou Brumadinho debaixo de lama, tirando vidas e destruindo o meio ambiente. 5 anos e a Vale nada fez para reparar a destruição causada. É necessário o amparo às famílias das vítimas, recuperação ambiental e, principalmente, fiscalização e prevenção em projetos de mineração, para não termos novas tragédias como Brumadinho e Mariana”, escreveu.

Hoje faz 5 anos do crime que deixou Brumadinho debaixo de lama, tirando vidas e destruindo o meio ambiente. 5 anos e a Vale nada fez para reparar a destruição causada. É necessário o amparo às famílias das vítimas, recuperação ambiental e, principalmente, fiscalização e prevenção…

— Lula (@LulaOficial) January 25, 2024

O forte posicionamento de Lula ocorre em meio a pressão que tem feito para emplacar o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega na empresa. A reunião para decisão do Conselho ocorrerá no próximo dia 31. O salário para o cargo é de R$ 4,9 milhões.

Por meio das redes sociais, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, defendeu a indicação de Mantega para o Conselho de Administração da Vale. Ela alegou que ele é qualificado para o cargo e já provou inocência.

“Pouquíssimos brasileiros são tão qualificados quanto Guido Mantega para compor o Conselho da Vale, uma empresa estratégica para o país e na qual o governo tem participação e responsabilidades, mesmo depois de sua privatização danosa ao patrimônio público. É qualificado para esta ou qualquer outra missão importante, que exija capacidade e compromisso com o país. Guido Mantega foi alvo de mentiras e acusações falsas do lavajatismo. Provou sua inocência, foi absolvido de tudo, mas nada vai reparar seu sofrimento pessoal nesses anos de perseguição”, pontuou.

Ela também citou números enquanto o ministro estava à frente da pasta da Economia, como crescimento do PIB e inflação controlada.

Vamos falar a verdade sobre Guido Mantega, um dos brasileiros mais injustiçados de nossa época. Ele foi ministro da Fazenda de março de 2006 a dezembro de 2014, nos dois primeiros governos @LulaOficial e no primeiro mandato da presidenta Dilma. Vamos lembrar o que aconteceu com a…

— Gleisi Hoffmann (@gleisi) January 25, 2024

Nesta quinta-feira (25/1), o gramado da Esplanada dos Ministérios, em Brasília, foi preenchido com 272 cruzes em memória às vítimas do rompimento da barragem da empresa Vale na Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, Minas Gerais. A tragédia completou exatos cinco anos.

O Correio entrou em contato com a Vale e questionou a empresa sobre a declaração de Lula, mas não recebeu resposta até a última atualização da reportagem. O espaço segue em aberto para futuras manifestações.

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Por que a confiança do consumidor segue o mercado de ações?

Uma coisa engraçada aconteceu a caminho das eleições de 2024. Bem, na verdade, muitas coisas engraçadas aconteceram. (Ron DeSantis!) Mas estou falando da economia.

Como escrevi em minha última coluna, parece ter havido uma repentina melhora na confiança do consumidor, que finalmente está começando a acompanhar a realidade de que a inflação despencou enquanto o desemprego permaneceu baixo.

E eu realmente quero dizer que foi repentino. Aqui está um gráfico da pesquisa de Michigan, a medida mais amplamente referenciada sobre confiança do consumidor:

Tudo bem, essa é apenas uma pesquisa, e parte do que estamos vendo pode ser ruído estatístico; outras pesquisas também mostram percepções melhoradas da economia, mas não uma quebra tão repentina.

Ainda assim, é interessante perguntar o que poderia ter levado a um aumento na forma como os americanos se sentem em relação à economia. E um candidato óbvio é um mercado de ações em alta.

De fato, há boas razões para acreditar que os preços das ações afetam as percepções da economia. O que é menos claro é o porquê.

Então, deixe-me mostrar uma visão sentimental do mercado de ações —ou seja, analisar sua relação com o sentimento do consumidor. (Não, não tenho sentimentos calorosos e fofinhos em relação ao Dow Jones.)

A evidência de que o mercado de ações afeta o sentimento do consumidor se baseia em parte em relações estatísticas médias; veja, por exemplo, esta análise do Federal Reserve [o banco central americano] de 1999. Também se baseia em alguns casos impressionantes.

Aqui está meu exemplo preferido, a confiança do consumidor durante 1987-88:

Por que o sentimento do consumidor despencou por alguns meses em meados de 1987 e depois se recuperou? Não estava acontecendo muita coisa na economia real —nenhuma grande mudança no desemprego, inflação ou crescimento econômico.

O que aconteceu foi a chamada segunda-feira negra, em 19 de outubro de 1987, quando o Dow Jones despencou repentinamente 22,6% sem motivo óbvio.

Os consumidores devem se importar quando o mercado de ações oscila? Possivelmente, a maioria deles não deveria.

É verdade que apenas uma minoria dos americanos possui ações diretamente, mas a maioria tem alguma exposição ao mercado quando se leva em conta as participações indiretas, especialmente os planos de aposentadoria.

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Mas mesmo quando se incluem esses investimentos indiretos, a participação da maioria das pessoas no mercado é pequena.

Em 2022, de acordo com o Federal Reserve, a família americana média possuía diretamente ou indiretamente quase US$ 500 mil em ações. Mas essas participações estavam concentradas nos 10% mais ricos da população; a família mediana possuía apenas US$ 52 mil.

Portanto, a maioria dos americanos não deve se importar muito com o que acontece com os preços das ações, pelo menos em termos do efeito direto em suas finanças.

Ainda assim, o mercado de ações não prevê o futuro da economia como um todo? Não.

Em 1966, o grande economista Paul Samuelson brincou que o mercado de ações havia previsto nove das últimas cinco recessões. A experiência subsequente confirmou seu ceticismo. O crash de 1987 não antecipou uma recessão; o mesmo aconteceu com o mercado em baixa de 1998:

Em primeiro lugar, ninguém é bom em prever recessões, fato que foi espetacularmente demonstrado pelo fracasso de todas aquelas previsões de recessão de 2022 se concretizarem.

Os investidores às vezes têm insights especiais sobre (ou informações privilegiadas sobre) empresas específicas, mas quando se trata da economia como um todo, eles têm o mesmo problema que todos os previsores: é realmente difícil prever pontos de virada.

Em segundo lugar, os preços das ações são impulsionados ainda mais pela psicologia humana —pela esperança, medo e ganância— do que a maioria dos outros preços de ativos. Portanto, as ações frequentemente sobem ou despencam sem motivo real.

Por fim, nem mesmo está claro se a perspectiva de uma recessão deve levar a preços mais baixos das ações. Sim, uma recessão leva a lucros menores, o que, tudo o mais constante, deve prejudicar as ações.

Mas o Fed normalmente responde às recessões cortando as taxas de juros, o que, tudo o mais constante, deve ajudar as ações. Qual efeito vai predominar? Não é óbvio.

Aliás, esse último ponto sugere que o mercado de títulos, que em grande parte reflete as expectativas sobre a política futura do Fed, deve ser um melhor guia para o futuro da economia.

Além disso, os títulos não são tão atraentes quanto as ações, então a negociação de títulos provavelmente é mais racional.

Historicamente, uma curva de rendimento invertida —taxas de juros de curto prazo acima das taxas de longo prazo— tem sido um indicador útil de recessão. Mas não desta vez, pelo menos até agora.

De qualquer forma, o ponto é que os americanos comuns não devem julgar a economia olhando para o mercado de ações. No entanto, muitos deles claramente o fazem. Por quê?

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Uma resposta é que, embora o mercado de ações possa ser um indicador fraco do estado da economia, ele é altamente visível. A última movimentação das ações está constantemente aparecendo na sua TV ou no seu smartphone, de uma forma que outros dados econômicos não estão.

Portanto, é um tanto natural para as pessoas julgarem a economia pelos números que veem o tempo todo.

Outra resposta é que a cobertura jornalística da economia pode ser fortemente afetada pelos preços das ações, mesmo que não devesse ser. A movimentação das ações, afinal, é um gancho fácil para a reportagem.

E ousaria dizer que os executivos das notícias, em média, certamente têm um interesse muito maior no mercado de ações do que o americano médio.

De fato, o índice de confiança de notícias do Fed de San Francisco —que acompanha o tom da cobertura jornalística em vez do humor dos consumidores— aumentou acentuadamente quando a atual alta das ações começou:

Então, o que devemos fazer com a melhora da confiança do consumidor?

Por um lado, ela faz muito sentido, dada a realidade de uma economia com baixo desemprego e inflação. Por outro lado, o momento pode ter sido impulsionado por um indicador financeiro que a maioria dos americanos na verdade deveria ignorar. Ah, bem.

Comício na Sé, que completa 40 anos, selou frente ampla nas Diretas Já

[RESUMO] O comício-monstro realizado na praça da Sé em 25 de janeiro de 1984, aniversário de São Paulo, cimentou o consenso de partidos e organizações da sociedade civil em defesa do voto direto para presidente, movimento decisivo para colocar o povo na equação do poder nos estertores da ditadura militar. A convergência não se refletiu na cobertura da imprensa, que variou da minimização do ato, pela TV Globo, ao engajamento intenso da Folha na campanha.



Mais tardio do que a memória da festa cívica do verão de 1984 faz supor, o consenso em torno da campanha das Diretas Já resultou de uma complexa construção política, social e midiática que teve no comício da praça da Sé, em 25 de janeiro daquele ano, um trampolim que projetou o país no ar ainda rarefeito da democracia.

Hoje, 40 anos depois, a lembrança das multidões tomando as ruas deixa a impressão de que, desde a mais remota origem do movimento, havia uma convergência de energia emanada da sociedade em defesa do voto direto para presidente da República, um direito suprimido pela ditadura militar instalada 20 anos antes. É uma impressão errada.

Havia, claro, a perspectiva de que o processo de abertura política, que se arrastava entre avanços e recuos desde meados da década anterior, desembocasse na eleição direta do chefe do Executivo nacional. Afinal, após a volta da eleição dos governadores em fins de 1982, esse seria, naturalmente, o passo seguinte.

O projeto que reintroduziria o pleito, no entanto, foi recebido com indiferença. Quando o deputado Dante de Oliveira (PMDB-MT) obteve as assinaturas necessárias de parlamentares para submeter a emenda ao Congresso —em 2 de março de 1983, no primeiro dia de trabalho da nova legislatura—, o feito do peemedebista estreante na Câmara mal foi noticiado pela imprensa.

Na época, a estratégia da esquerda —sobretudo do recém-fundado PT e de parte do PMDB, que crescera como oposição durante a ditadura— focava a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte, que varreria o “entulho autoritário”, aquele conjunto de leis, decretos, normas e atos institucionais baixados nos anos anteriores sem respaldo popular. No primeiro semestre de 1983, a perspectiva de sair às ruas para exigir eleições diretas não figurava no alto da agenda de reivindicações dos partidos de oposição.

Raciocinava-se, nesse campo, que a eleição, embora bem-vinda, não resolveria os problemas sociais históricos, como a má distribuição da renda, agravados pelo desemprego e pela recessão. A visão marxista dominante na esquerda privilegiava a análise econômica sobre o jogo político. Era mais importante mexer nas estruturas sociais, via Constituinte, que no calendário eleitoral, via Diretas Já.

Tal entendimento não estava restrito à esquerda e se estendia ao centro do espectro ideológico. “Nossa ideologia é a Constituinte”, discursou Ulysses Guimarães, então presidente do PMDB, no mesmo dia em que Dante de Oliveira, seu afilhado, apresentava a proposta das Diretas.

Foi só aos poucos e pelas beiradas que a pauta passou a sensibilizar os partidos de oposição. Depois de um tempo hibernando em uma comissão da bancada do PMDB na Câmara, a proposta começou a ganhar adeptos no próprio partido.

Entre os caciques, o próprio Ulysses teve papel decisivo. Sem recuar publicamente da ideia da Constituinte, agregou a defesa das Diretas, que logo passaria a ser sua prioridade. Afinal, os dois objetivos, independentemente da ordem em que fossem alcançados, levariam à redemocratização.

Com o prestígio de ser o principal líder da oposição, Ulysses formalizou em fins de maio, três meses após o anúncio da proposta de Dante de Oliveira, um acordo com o petista Luiz Inácio Lula da Silva, a grande novidade da política no início dos anos 1980, para atuarem juntos em uma campanha nacional a favor das Diretas.

Ambos tinham poder de mobilização popular, mas não dispunham de máquinas administrativas capazes de financiar os megacomícios que poderiam inverter a relação de forças no Congresso e aprovar as Diretas. Para tanto, precisavam do empenho dos governadores de oposição ao governo federal, que cumpriam o primeiro mandato em meio a dificuldades crescentes derivadas da aguda crise econômica.

A ajuda oficial demorou, mas saiu. Quase oito meses depois da proposta de Dante, esses governadores selaram, em reunião em Foz do Iguaçu (PR), o compromisso de dar apoio material à campanha. Entre os chefes dos executivos estaduais, destacavam-se Franco Montoro, de São Paulo, Tancredo Neves, de Minas Gerais, e o anfitrião José Richa, do Paraná.

A fruta das Diretas Já estava madura, mas ninguém a colhia. São Paulo fez uma primeira tentativa frustrada em fins de novembro. O que era para ser um evento suprapartidário se restringiu a um comício petista esvaziado, em frente ao estádio do Pacaembu, em que Montoro não se sentiu à vontade para comparecer.

Na hesitação de São Paulo, a primazia coube ao Paraná, que realizou em meados de janeiro o primeiro megacomício, já nos moldes que mais tarde seriam multiplicados e aperfeiçoados país afora, com a convocação maciça da população, palcos gigantescos e potentes sistemas de som. Na Boca Maldita, no centro de Curitiba, um número estimado de 50 mil manifestantes engrossou o coro pelas Diretas Já.

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O sucesso do comício no estado vizinho animou Montoro. Um comitê executivo com representantes de partidos e de dezenas de entidades da sociedade civil projetou para o feriado de 25 de janeiro, aniversário da cidade, o que seria o primeiro comício-monstro, aqueles com mais de 100 mil pessoas. No fim, cravou-se a presença de uma multidão de 300 mil, um número superestimado, como se confirmaria mais tarde.

Mas o inchaço da estatística, comum a todos os outros comícios, não diminui a relevância histórica do evento. Como disse Ulysses no palanque, são os 130 milhões de brasileiros —a população da época— que estão na praça.

Nas reuniões preparatórias, o Executivo paulista contou com Jorge da Cunha Lima, secretário das Comunicações de Montoro. Como o governador, era um quadro saído das fileiras do movimento católico progressista, com bom trânsito entre artistas e intelectuais. No PT, a tarefa coube a José Dirceu, secretário do partido no estado. Ex-militante da luta armada, era uma das estrelas em ascensão na legenda.

Além dos partidos, o apoio veio de todos os lados. O cardeal dom Paulo Evaristo Arns, com tradição na luta pela democracia, convocou os católicos. Os chefes das torcidas organizadas dos maiores times do futebol paulista entraram em campo estimulando os torcedores a irem à praça. Os dirigentes da União Estadual dos Estudantes incumbiram universitários de distribuir o farto material de propaganda produzido pelo governo do estado.

Montoro não economizou. Cartazes e panfletos se contavam aos milhões, com a mensagem política enfatizada em 600 outdoors. Rádios e TVs veicularam anúncios pagos. As catracas do metrô foram liberadas. Prefeitos de cidades do interior providenciaram numerosas comitivas que chegaram à capital em ônibus fretados. Venderam-se milhares de camisetas amarelas, com a frase “Eu quero votar pra presidente” estampada e a renda revertida para a campanha. Isso, no entanto, cobria apenas uma parte ínfima dos gastos.

A maior parte do dinheiro vinha dos cofres públicos, o que levou o governo militar a denunciar o uso da máquina pública a serviço do partido. Embora a crítica tenha sido encampada pela imprensa mais refratária à campanha, prevaleceu a percepção de que a defesa da democracia era um fim nobre para os recursos obtidos com os impostos. A força moral da reivindicação cobria de legitimidade a ação do governo estadual.

O comício consolidou Osmar Santos como apresentador oficial da campanha. Tendo estreado na função em Curitiba, duas semanas antes, o mais popular locutor esportivo do país dominava a cena. “Diretas quando?”, ele perguntava ao microfone. “Já!”, a multidão respondia. E assim se fixou, nas duas palavras justapostas, o nome da campanha: Diretas Já. Apesar de próximo do PMDB —havia participado da campanha de Montoro em 1982—, Osmar Santos ajudou a garantir o clima suprapartidário do comício.

O palanque era também palco. Na abertura, Moraes Moreira finalmente cantou o aguardado “Frevo das Diretas”, com letra do poeta Paulo Leminski: “Se a meta é a democracia/ Se a democracia é a meta/ Eleição é direta/ Eleição é direta/ Eleição é direta”.

Composta com antecedência, a marchinha contagiante não chegou a ser apresentada na Boca Maldita por não ter sido liberada a tempo pela censura. Em São Paulo, fez sucesso, embora não tenha realizado seu potencial de se tornar o hino das Diretas. Talvez por não ter sido gravada em disco, o que limitou suas possibilidades de reprodução. Talvez porque a concorrência fosse muito forte.

A trilha sonora das Diretas ficou a cargo de Chico Buarque e, principalmente, de Milton Nascimento, dois dos muitos artistas que emprestaram seu prestígio pessoal à causa democrática. Na Sé, Chico entoou, sem acompanhamento, “Apesar de Você”, música de protesto da década anterior cuja letra continuava pertinente. Quanto a Milton, também presente na praça, emplacaria “Coração de Estudante”, “Nos Bailes da Vida” e a infalível “Menestrel das Alagoas” durante os três meses da campanha.

O menestrel do título da canção de Milton e Fernando Brant é o senador peemedebista Teotônio Vilela, um inspirador das Diretas, que em 1983 defendia a redemocratização enquanto enfrentava um câncer devastador. Morrera havia dois meses, no mesmo dia em que a campanha iniciou o trabalho de parto, no comício do Pacaembu.

Desde então, era reverenciado como mártir da democracia. Sua imagem pairava no ar em balões infláveis, multiplicava-se em camisetas no icônico desenho do cartunista Henfil, que o retratou brandindo a bengala de bambu sob o slogan da campanha, e era saudada na voz de Fafá de Belém.

Presença obrigatória nos maiores comícios, aquela que seria chamada de “musa das Diretas” estreou na campanha na praça da Sé. Não estivera em Curitiba por falta de convite do PMDB. Aliás, se dependesse do partido, também não subiria no palanque em São Paulo. Fafá de Belém conta que só acabou participando por insistência de Lula, de quem era próxima. Os dois foram juntos ao evento, ela com a caixinha em que levava uma pomba branca que voaria no clímax de sua apresentação —uma marca registrada das Diretas.

Mais aplaudido que seus pares, Lula teve o mérito de contribuir decisivamente para o caráter suprapartidário do comício. Quando Montoro se preparava para discursar, a claque petista ensaiou uma vaia, mas foi logo enquadrada pelo líder, e o governador terminou ovacionado.

Outros peemedebistas de peso, como o senador e futuro presidente Fernando Henrique Cardoso, tiveram direito aos três minutos combinados sem serem importunados. Com a superação do sectarismo que sublinhara a festa petista do Pacaembu, o comício da Sé selou a natureza de frente ampla das Diretas.

O consenso na praça, no entanto, não se refletiu nos telejornais da noite nem nos jornais do dia seguinte. A cobertura jornalística do megacomício estabeleceu uma nítida clivagem na imprensa. De um lado, os veículos entusiastas da campanha, com a Folha à frente; de outro, os críticos da iniciativa.

O dissenso já podia ser percebido desde fins de 1983, pelo tratamento dispensado aos comícios anteriores. No noticiário sobre o comício-monstro da praça da Sé, a divisão apenas foi explicitada pela própria magnitude que a campanha atingira, não podendo mais ser simplesmente ignorada.

Por sua óbvia importância e por seu histórico de alinhamento com o governo militar, o Jornal Nacional, da TV Globo, foi o alvo favorito das críticas dos manifestantes.

Na primeira vez que abordou a pauta em nível nacional, o jornal televisivo de maior audiência do país, na escalada de manchetes, descreveu o ato político como um show musical por ocasião do aniversário da cidade. Na reportagem que se seguiu, a razão de ser do comício só é mencionada brevemente, como se fosse mais um item de uma solenidade municipal. “O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo”, cantava-se nas praças.

Na outra ponta da política editorial, a TV Bandeirantes decidiu transmitir ao vivo imagens do comício em seu jornal de âmbito nacional. A opção teve um preço alto.

Na sequência, o dono da emissora, João Saad, foi chamado ao gabinete do presidente da República. O empresário se preparava para ter uma emissora em Brasília. Com a documentação em mãos, aguardava apenas a assinatura de João Figueiredo. Em represália pela atitude da Bandeirantes, o presidente, conhecido por seus rompantes, rasgou o decreto em meio à audiência.

TVs e rádios, por serem concessões públicas, estão mais sujeitas a pressões de governos. No caso de um governo autoritário, a ameaça é potencializada.

Executivos da Globo relataram advertências oriundas do meio militar para que a emissora minimizasse a importância dos atos públicos a favor das Diretas. No auge da campanha, quando a rede embarcou em uma cobertura entusiasmada das manifestações, Roberto Marinho, dono da Globo, testemunhou um helicóptero militar pairando de maneira inequivocamente intimidadora a poucos metros de sua sala.

No dia seguinte, os principais jornais com sede em São Paulo, a Folha e O Estado de S. Paulo, saíram com destaques que refletiam leituras divergentes sobre o momento político. O Estadão deu uma manchete discreta e privilegiou uma declaração de Tancredo: “A radicalização já está nas ruas”. O governador mineiro não havia comparecido ao comício —recepcionava Figueiredo em Belo Horizonte. Previu “consequências desastrosas” do processo, o que coincidia com a posição do jornal.

Criticar as Diretas Já não significava, no caso da imprensa, ser contra a redemocratização. A divergência se restringia ao caminho para se chegar ao mesmo objetivo: o fim da ditadura.

Não faltavam argumentos consistentes aos que se opunham aos rumos da campanha. Temia-se um eventual retrocesso na abertura política, caso o governo cedesse aos militares ligados à repressão, que receavam o que entendiam como revanchismo. Acreditava-se também que tal risco não valia a pena, dada a pequena chance de a emenda Dante de Oliveira ser aprovada pelo Congresso.

A Folha, em linha diametralmente oposta, fazia intensa campanha pró-Diretas desde os preparativos do comício do Pacaembu. Por decisão do publisher, Octavio Frias de Oliveira, que acatou sugestão de seu filho e futuro diretor de Redação, Otavio Frias Filho, o jornal estimulava o movimento, a ponto de se confundir com ele. Ricardo Kotscho, repórter veterano que também sugerira que o jornal se engajasse na campanha, deu o tom do noticiário com uma narrativa que, com frequência, beirava o ufanismo.

Ao longo daquele verão agitado, a Folha convocou a população às ruas, cobrou o compromisso dos políticos de oposição, criticou ambiguidades de seus líderes, denunciou a proeminência de ambições pessoais e, desafiando a aritmética da política partidária, continuou acreditando na possibilidade remota de reverter a tendência do Congresso.

O comício-monstro da praça da Sé foi um divisor de águas das Diretas Já. A partir de 25 de janeiro de 1984, seria impossível ignorar a mensagem das ruas. Aos poucos, foi sendo vencida a resistência dos setores mais refratários da imprensa e da política partidária (inclusive no partido governista), e, na reta final da campanha, o país testemunhou uma rara convergência em sua história.

Como se sabe, a exuberância e o vigor das Diretas não foram suficientes para aprovar a emenda. A tática do governo —que incluiu a censura prévia ao rádio e à TV e o cerco a Brasília, para proteger a imagem de parlamentares contrários às Diretas— impediu que se formasse a maioria necessária na Câmara.

Na votação de 25 de abril, embora 298 deputados tenham cravado “sim”, faltaram 22 votos para a aprovação, uma margem muito mais estreita do que se imaginava meses antes. A derrota, no entanto, abriu espaço para que um candidato de oposição, Tancredo Neves, derrotasse o governista Paulo Maluf no Colégio Eleitoral, pondo fim à ditadura militar.

O comício da Sé teve o mérito de galvanizar um desejo da população, sem o que o desfecho da ditadura militar poderia ter dependido apenas de acordos intramuros. Se o ciclo autoritário provavelmente terminaria em breve com ou sem Diretas Já, pois se encontrava em seus estertores, a campanha foi decisiva para colocar o povo na equação do poder.

Parabéns, Sampa!

Empresas voltam ao mercado de dinheiro depois da roubança da Americanas

Na segunda metade do ano, o mercado de capitais no Brasil ressuscitou. É importante. Trata-se do atacadão de dinheiro, onde as empresas tomam o que grosso modo são empréstimos por meio de títulos de dívida privada (como debêntures) e vendem novas ações.

Lá arrumam recursos a fim de expandir suas atividades ou arrumar suas contas, tentando melhorar suas dívidas (alongar prazos, pagar taxas de juros menores).

Se as empresas têm confiança de levantar dinheiro e encontram investidores dispostos a fazer negócio, é um indício de que a economia pode vir a crescer mais.

O primeiro semestre de 2023 havia sido o pior desde 2018, desde que há dados públicos disponíveis e desde quando o mercado de capitais começou a se tornar mais relevante no país.

Em janeiro de 2023, como se sabe, se teve notícia da lambança criminosa no balanço das Americanas. Pouco depois ouviram-se também rumores de outros grandes pedidos de recuperação judicial e houve estranhezas, por assim dizer, em outros balanços. Falava-se de “credit crunch” (seca abrupta de crédito).

Não é possível cravar que o mutretaço da Americanas tenha sido o fator dominante do encolhimento do mercado de capitais. Havia outros motivos de medo.

No início do ano, estreava no Brasil um novo governo com política econômica ainda desconhecida.

A estimativa de crescimento do PIB era de um quase nada. As taxas de juros estavam em alturas ainda mais horríveis do que as de agora. Havia incerteza sobre o que seria de inflação e juros nos EUA e Europa. Em março, houve quebras de bancos nos Estados Unidos; foi à breca um bancão, o Credit Suisse.

O clima estava péssimo. No entanto, conversas com banqueiros graúdos e gestores de fundos de investimento (administradores de dinheiro grosso de terceiros) sugerem que o detonador da crise doméstica foram os crimes na Americanas.

É fácil perceber que o investidor vai para a retranca se não pode confiar em nada do que consta do balanço de uma empresa grande, com anos na praça e que tinha como donos mais importantes alguns dos maiores bilionários do planeta.

Mesmo os maiores bancos do país, que deveriam ser mais avisados, levaram um espeto de mais de R$ 14 bilhões.

Voltando à vaca fria, agora mais quentinha, o mercado de capitais passou a se recuperar a partir de junho.

Na primeira metade de 2023, o total de dinheiro levantado pelas empresas havia sido de R$ 154,1 bilhões. No segundo semestre, foi a R$ 309,6 bilhões.

Folha Mercado

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Uma virada considerável, embora, no total do ano, a captação tenha sido de R$ 463,7 bilhões, ante os R$ 544,8 bilhões de 2022, baixa de quase 15% (em valores nominais).

O mercado para a venda de novas ações (“IPOs”) está catatônico desde o fim de 2021, mas essa é outra história; há o zum-zum de que voltaria a brotar neste ano. Pelo menos, essa é a campanha enfática dos bancos de investimento.

Sem um mercado de capitais confiável, com muito dinheiro e com grande número de investidores e de negociações secundárias (revenda de papéis), o financiamento das empresas fica mais difícil.

Note-se que este mercado tem participação relevante de pessoas físicas (no caso de debêntures e instrumentos “híbridos”, pessoas físicas fizeram 20% dos negócios em 2023).

As punições para a bandalheira no mercado financeiro do Brasil, quando há, são pífias. Economistas muito falantes sobre “quebras de contratos” por parte do setor público saem de fininho quando há lambança gorda no setor privado, esbulho de direito de consumidor e desgraça enorme tal como a de milhares de trabalhadores que foram para o olho da rua, que foi o caso na Americanas.

Para haver um mercado confiável, mais gente precisa ir para a cadeia ou ser expulsa da praça financeira.

Famílias de SP estão mais otimistas com a economia, mas ainda endividadas

As famílias paulistanas fecharam o ano de 2023 menos inadimplentes do que começaram. É o que mostra a pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), elaborada pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) e divulgada na terça-feira (16/1). Segundo o levantamento, o número de lares com contas em atraso no último ano diminuiu em 2,9%, embora se mantenha alto, com 22,7%, em dezembro.

Os números favoráveis se explicam pela inflação, que está voltando a uma trajetória mais comportada desde o início de 2023, apontou a pesquisa da FecomercioSP. Além disso, o consequente início do ciclo de corte da taxa Selic (taxa básica de juros), que deve fechar o ano de 2024 de volta à casa de um dígito — estima-se 9% —, também é um fator citado como explicação.

Conforme a Peic, o endividamento das famílias também caiu, de 74% para 69% em um ano, resultado que se justifica, segundo a FecomercioSP, pelo elevado custo do crédito. Para a entidade, porém, o fato de 10,1% das casas em SP não terem condições de pagar suas dívidas é preocupante.

Além disso, as taxas de juros ainda elevadas dificultaram a quitação de muitas dívidas antes do encerramento do ano, junto ao fato de que muitas famílias estarem priorizando gastos essenciais e deixando a reorganização financeira para o futuro.

Mutirões de renegociação das instituições financeiras e programas de desconto, como o Desenrola Brasil, também não tiveram impacto significativo, de acordo com o levantamento, o que colaborou para um cenário de manutenção das dificuldades financeiras das famílias.

O percentual de famílias com renda mensal de até 10 salários mínimos e que têm contas em atraso caiu de 25,5% para 22,7% em um ano. Por outro lado, a proporção de famílias com renda maior que 10 salários mínimos e, ainda assim, inadimplentes, subiu de 11,1% para 11,8%.

Para 84,9% dos endividados, o cartão de crédito foi o principal fator para o endividamento das famílias em dezembro. O uso de outras modalidades de crédito também aumentou. O cheque especial passou de ser utilizado por 5,2% para 6,1% das famílias em um ano; o crédito pessoal saltou de utilizado por 10,6% para 14,1% das famílias; e o financiamento imobiliário, de 9% para 13,1%.

Outro dado que preocupa a FecomercioSP é a parcela da renda familiar comprometida com dívidas. Em dezembro, elas representavam 31,8% dos rendimentos das famílias paulistanas, enquanto 27,3% desses lares revelaram ter mais de 50% da renda comprometida com a quitação de despesas parceladas, apontando uma maior necessidade do uso de crédito.

Em relação a gastos, as famílias de São Paulo fecharam o ano de 2023 com alta na intenção de consumo. A pesquisa de Intenção de Consumo das Famílias paulistanas (ICF), da FecomercioSP, passou de 94,7 pontos em dezembro de 2022 para 113,3 pontos, em dezembro de 2023, mostrando alta de 19,6% no período.

Segundo a entidade, o número foi puxado pela melhora das condições atuais de renda e emprego e por um aumento da confiança em relação à perspectiva profissional, que passou de 116,8 para 125,4 pontos em um ano.

O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) confirma a percepção positiva, deixando os 122,8 pontos para 133,5 pontos em um ano. Assim como no caso do endividamento, a melhora no indicador se dá em razão de uma menor pressão da inflação, da queda dos juros e da evolução da renda.

Ainda segundo a FecomercioSP, esse otimismo foi o responsável pelo avanço das vendas no comércio paulistano em 2023, que atingiram o melhor nível desde 2008, assim como pelo faturamento recorde das lojas no período que antecedeu o natal.

*Estagiário sob a supervisão de Andreia Castro

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Lula sanciona lei que cria o Ministério do Empreendedorismo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou, nesta terça-feira (16/1), a lei que cria o Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte. O ato foi assinado em agenda fechada com o comandante da pasta, Márcio França, no Palácio do Planalto.

Este é o 38º ministério na composição do governo petista. O ministério foi criado originariamente por uma MP em setembro de 2023 e foi aprovado em dezembro no plenário da Câmara.

Segundo o Planalto, a nova pasta “visa fortalecer políticas, programas e ações voltadas para o apoio e formalização de negócios, arranjos produtivos locais, artesanato, além de estimular o microcrédito e facilitar o acesso a recursos financeiros”.

“O Ministério do Empreendedorismo assume um papel estratégico na condução de iniciativas que impactam diretamente a economia, a geração de empregos e o desenvolvimento regional. A formalização desse novo ministério representa um marco no compromisso do governo brasileiro em criar um ambiente favorável para o crescimento do empreendedorismo no Brasil, promovendo a inovação, a sustentabilidade e a inclusão social”, emendou em nota.

“A pasta, agora, poderá tratar de cooperativismo e associativismo, promover cultura empreendedora inclusiva, identificação de pequenos empreendedores e profissionais autônomos, estímulo ao empreendedorismo feminino e na juventude, além de ações para desburocratização do ambiente de negócios e tratamento distinto a pequenas empresas”, concluiu.

De acordo com o Sebrae, as microempresas e as empresas de pequeno porte representam uma parte significativa do cenário empreendedor brasileiro, totalizando quase 21 milhões de empreendimentos. Eles correspondem a aproximadamente 99% do total das empresas nacionais, contribuindo com 27% do PIB nacional e sustentando 54% dos empregos formais no país.

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Recuperação judicial da Americanas afetou ao menos 371 atividades econômicas

A crise da Americanas afetou de gigantes do setor bancário a microempresas. Ao menos, 371 atividades econômicas listadas em 19 das 21 seções da Cnae (Classificação Nacional de Atividades Econômicas) sofreram impactos com o pedido de recuperação judicial da rede varejista.

Há um ano, a empresa recorreu à Justiça após vir à tona uma fraude contábil que resultou em R$ 42,5 bilhões em dívidas.

Entre quem tem dinheiro a receber da empresa há 36 bancos e instituições financeiras, que juntos concentram 83,4% do total do crédito. No entanto, 3.607 micro e pequenas empresas constam da lista de credores, além de mais de 5.000 médias e grandes empresas.

A Folha extraiu esses dados da lista de credores do plano de recuperação judicial, divulgado em junho. Depois, cruzou-a com o CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica) da Receita Federal, que menciona a atividade econômica exercida pela empresa.

“Edição de livros”, por exemplo, é uma atividade econômica listada na seção “informação e comunicação”. “Fabricação de vinho” fica na categoria maior “indústria de transformação”, e “serviços advocatícios”, em “atividades profissionais, científicas e técnicas”.

AdChoices

ADVERTISING

Na lista de credores, há desde fornecedores de doces (indústria alimentícia), passando por farmácias de manipulação e transportadoras de todos os portes e até dois dentistas.

Veja às quais seções da Cnae pertencem as empresas credoras da Americanas

Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura

Indústrias extrativas

Indústrias de transformação

Eletricidade e gás

Água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação

Construção

Comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas

Transporte, armazenagem e correio

Alojamento e alimentação

Informação e comunicação

Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados

Atividades imobiliárias

Atividades profissionais, científicas e técnicas

Atividades administrativas e serviços complementares

Administração pública, defesa e seguridade social

Educação

Saúde humana e serviços sociais

Artes, cultura, esporte e recreação

Outras atividades de serviço

O critério para validação da assembleia que aprovou o plano de recuperação judicial da Americanas, entretanto, desconsiderava essa diversidade. Requeria que os credores participantes deveriam representar 50,01% da dívida. Participaram da assembleia de dezembro 2.041, das quais 1.860 aprovaram o plano.

A principal frente de negociação aberta pela Americanas foi com as instituições financeiras. Ainda no fim de novembro, a empresa anunciou que havia fechado acordo com Bradesco, BTG Pactual, Itaú e Santander, que detêm 35% da dívida.

Os credores que tinham a opção de comprar parte das ações a um preço predefinido (stock option) ainda receberam uma sinalização da Americanas: R$ 12 bilhões em ações.

As mais de 3.600 pequenas e micro, por sua vez, ficam em um grupo próprio de credores e recebem tratamento favorecido, desde reforma na Lei de Recuperação Judicial de 2014.

Segundo o plano proposto pela Americanas, não haverá desconto para esse conjunto, e o pagamento será feito em até 30 dias após a homologação.

As médias e grandes empresas de outros setores, porém, ficaram espremidas nesse jogo de preferências e foram as menos consideradas no plano final, de acordo com o professor da Faculdade de Direito da USP Carlos Pagano, especialista em direito comercial.

“Esses negócios também têm um grande volume de funcionários e estão mais vulneráveis ao baque de um calote da Americanas do que um grande banco, que tem ativos mais diversificados”, diz Pagano.

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“Os próprios credores podem ser levados a uma situação de recuperação judicial e dispensa em massa de funcionários por essa situação”, afirma.

Procurada pela Folha, a Americanas diz que a proposta, aprovada em primeira convocação de assembleia de credores, com 91,14% de adesão entre os votantes e 97,19% em volume de dívida, demonstra que o plano de recuperação judicial é factível e bem aceito entre as partes.

“Os esforços dos acionistas de referência, com a injeção de capital de R$ 12 bilhões, e as amplas discussões com credores permitiram a criação da cláusula para ‘Credor Fornecedor Colaborador’, com a destinação de R$ 4 bilhões para atendê-los e priorização de pagamentos ao fornecedor que estiver de acordo com os termos”, diz a empresa.

Folha Mercado

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Os fornecedores colaboradores, entretanto, tinham de aceitar as condições propostas pelas Americanas e continuar abastecendo a empresa, após o escândalo contábil. A cláusula apresentada em março indicava que os interessados deveriam voltar a trabalhar com a varejista até abril para não ter deságio.

As empresas de tecnologia listadas entre os credores também receberam condições especiais no plano.

A Americanas ainda cita que os quirografários —credores sem garantia real—, credores de quantias de até R$ 12 mil ou com valores acima, mas que aceitem receber R$ 12 mil pelo pagamento de seus créditos, serão pagos em parcela única no prazo de até 30 dias após a homologação do plano.

A varejista deve mais de R$ 12 mil a 2.676 credores considerados quirografários.

Além disso, algumas das 371 atividades econômicas afetadas pela recuperação judicial da Americanas ficaram sem tratamento especial.

Essenciais para um negócio que atende todo o país, as transportadoras, por exemplo, ainda estão sem garantias. Dessas empresas, 17 têm débitos a receber da varejista acima dos R$ 100 mil e são consideradas quirografárias.

A maior dívida ultrapassa os R$ 2,5 milhões e se refere à Bertolini Transportes. Uma das maiores transportadoras do país, a empresa afirma, em nota enviada à reportagem, que teve capacidade de absorver o prejuízo em meio aos seus ativos que somam R$ 40 bilhões, mas chamou a dívida de expressiva.

A Bertolini Transportes se absteve de participar da assembleia de credores por considerar que “não contribuiria em nada” na aprovação da proposta, “quando comparada à participação das instituições financeiras”.

“É muito triste que as transportadoras, de modo geral, e que são responsáveis pelo transporte e logística de toda a carga que mantém a atividade comercial da Americanas, tenham sido prejudicadas pela má gestão dos administradores dessa sociedade”, afirma o fundador da Bertolini, Irani Bertolini, que também preside a Fetramaz (Federação das Empresas de Logística, Transporte e Agenciamento de Cargas da Amazônia).

A pressão sob os fornecedores e transportadores por preços mais baixos e para protelar pagamentos eram centrais ao modelo de negócios da Americanas.

A varejista recorria a uma operação chamada risco sacado, em que conseguia crédito bancário para antecipar pagamentos a fornecedores e abaixar o preço final.

Ainda em janeiro, quando foram anunciadas as inconsistências contábeis, os antigos donos da Forte Minas Logística e Transporte afirmaram à BBC News Brasil que foram à falência em 2021, após a Americanas não pagar por R$ 7 milhões em serviços prestados. A varejista, que respondia por 85% das receitas da transportadora, nega a dívida.

O escândalo das Americanas eclodiu quando a gigante do varejo foi incapaz de acertar as contas com os bancos. Assim, ficou evidente a situação incompatível com os balanços apresentados pela empresa. Isso porque a Americanas não registrava as operações de risco sacado como dívida.

A atual gestão da varejista afirma que essa manobra contábil acobertou uma fraude de R$ 20 bilhões por parte de antigos gestores para maquiar resultados e aumentar ganhos próprios —os acusados negam.

Pagano, da USP, lembra que a dívida da varejista vale cerca de 0,5% do PIB do Brasil. “Com a fraude da Americanas, é como se esse montante fosse subtraído da economia do país.”

“Isso tem efeitos muito reais sobre a economia: outras empresas fecham; pessoas são demitidas; os bancos cobram mais juros em empréstimos após um golpe dessa dimensão”, diz.

Para o professor, as empresas menores são incapazes de se defender de crises do sistema financeiro —seus gestores não têm tempo para considerar esses desastres. “É essencial ter um regulador muito forte e proativo que identifique e previna as fraudes e aplique punições muito severas.”

No caso da Americanas, autoridades ainda não chegaram a uma lista de culpados pelo rombo de quase R$ 42,5 bilhões. A CPI (comissão parlamentar de inquérito) instaurada para investigar o caso disse apenas que as provas indicaram a participação de ex-executivos e ex-diretores.

A CPI deixou como legado quatro propostas de leis contra corrupção corporativa.

Uma delas cria o crime da infidelidade patrimonial, definido como o abuso dos poderes de administração de um patrimônio alheio, com o fim de obter vantagem mediante infração do dever de salvaguarda, causando prejuízo ao patrimônio administrado.

Pelos indícios disponíveis, essa descrição se enquadra no que ocorreu na Americanas, mas, por enquanto, não há crime nem culpado.

Recuperação judicial da Americanas afetou ao menos 371 atividades econômicas

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Há um ano, a empresa recorreu à Justiça após vir à tona uma fraude contábil que resultou em R$ 42,5 bilhões em dívidas.

Entre quem tem dinheiro a receber da empresa há 36 bancos e instituições financeiras, que juntos concentram 83,4% do total do crédito. No entanto, 3.607 micro e pequenas empresas constam da lista de credores, além de mais de 5.000 médias e grandes empresas.

A Folha extraiu esses dados da lista de credores do plano de recuperação judicial, divulgado em junho. Depois, cruzou-a com o CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica) da Receita Federal, que menciona a atividade econômica exercida pela empresa.

“Edição de livros”, por exemplo, é uma atividade econômica listada na seção “informação e comunicação”. “Fabricação de vinho” fica na categoria maior “indústria de transformação”, e “serviços advocatícios”, em “atividades profissionais, científicas e técnicas”.

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Na lista de credores, há desde fornecedores de doces (indústria alimentícia), passando por farmácias de manipulação e transportadoras de todos os portes e até dois dentistas.

Veja às quais seções da Cnae pertencem as empresas credoras da Americanas

Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura

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Eletricidade e gás

Água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação

Construção

Comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas

Transporte, armazenagem e correio

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Educação

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Artes, cultura, esporte e recreação

Outras atividades de serviço

O critério para validação da assembleia que aprovou o plano de recuperação judicial da Americanas, entretanto, desconsiderava essa diversidade. Requeria que os credores participantes deveriam representar 50,01% da dívida. Participaram da assembleia de dezembro 2.041, das quais 1.860 aprovaram o plano.

A principal frente de negociação aberta pela Americanas foi com as instituições financeiras. Ainda no fim de novembro, a empresa anunciou que havia fechado acordo com Bradesco, BTG Pactual, Itaú e Santander, que detêm 35% da dívida.

Os credores que tinham a opção de comprar parte das ações a um preço predefinido (stock option) ainda receberam uma sinalização da Americanas: R$ 12 bilhões em ações.

As mais de 3.600 pequenas e micro, por sua vez, ficam em um grupo próprio de credores e recebem tratamento favorecido, desde reforma na Lei de Recuperação Judicial de 2014.

Segundo o plano proposto pela Americanas, não haverá desconto para esse conjunto, e o pagamento será feito em até 30 dias após a homologação.

As médias e grandes empresas de outros setores, porém, ficaram espremidas nesse jogo de preferências e foram as menos consideradas no plano final, de acordo com o professor da Faculdade de Direito da USP Carlos Pagano, especialista em direito comercial.

“Esses negócios também têm um grande volume de funcionários e estão mais vulneráveis ao baque de um calote da Americanas do que um grande banco, que tem ativos mais diversificados”, diz Pagano.

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Americanas fechou 1 loja a cada 3 dias, demitiu 1/4 da equipe e caiu de vice para 5º lugar

Ex-presidente e diretores da Americanas são investigados por informação privilegiada

Depoimentos de ex-CEOs da Americanas citam futebol, marmita e canalha

“Os próprios credores podem ser levados a uma situação de recuperação judicial e dispensa em massa de funcionários por essa situação”, afirma.

Procurada pela Folha, a Americanas diz que a proposta, aprovada em primeira convocação de assembleia de credores, com 91,14% de adesão entre os votantes e 97,19% em volume de dívida, demonstra que o plano de recuperação judicial é factível e bem aceito entre as partes.

“Os esforços dos acionistas de referência, com a injeção de capital de R$ 12 bilhões, e as amplas discussões com credores permitiram a criação da cláusula para ‘Credor Fornecedor Colaborador’, com a destinação de R$ 4 bilhões para atendê-los e priorização de pagamentos ao fornecedor que estiver de acordo com os termos”, diz a empresa.

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Os fornecedores colaboradores, entretanto, tinham de aceitar as condições propostas pelas Americanas e continuar abastecendo a empresa, após o escândalo contábil. A cláusula apresentada em março indicava que os interessados deveriam voltar a trabalhar com a varejista até abril para não ter deságio.

As empresas de tecnologia listadas entre os credores também receberam condições especiais no plano.

A Americanas ainda cita que os quirografários —credores sem garantia real—, credores de quantias de até R$ 12 mil ou com valores acima, mas que aceitem receber R$ 12 mil pelo pagamento de seus créditos, serão pagos em parcela única no prazo de até 30 dias após a homologação do plano.

A varejista deve mais de R$ 12 mil a 2.676 credores considerados quirografários.

Além disso, algumas das 371 atividades econômicas afetadas pela recuperação judicial da Americanas ficaram sem tratamento especial.

Essenciais para um negócio que atende todo o país, as transportadoras, por exemplo, ainda estão sem garantias. Dessas empresas, 17 têm débitos a receber da varejista acima dos R$ 100 mil e são consideradas quirografárias.

A maior dívida ultrapassa os R$ 2,5 milhões e se refere à Bertolini Transportes. Uma das maiores transportadoras do país, a empresa afirma, em nota enviada à reportagem, que teve capacidade de absorver o prejuízo em meio aos seus ativos que somam R$ 40 bilhões, mas chamou a dívida de expressiva.

A Bertolini Transportes se absteve de participar da assembleia de credores por considerar que “não contribuiria em nada” na aprovação da proposta, “quando comparada à participação das instituições financeiras”.

“É muito triste que as transportadoras, de modo geral, e que são responsáveis pelo transporte e logística de toda a carga que mantém a atividade comercial da Americanas, tenham sido prejudicadas pela má gestão dos administradores dessa sociedade”, afirma o fundador da Bertolini, Irani Bertolini, que também preside a Fetramaz (Federação das Empresas de Logística, Transporte e Agenciamento de Cargas da Amazônia).

A pressão sob os fornecedores e transportadores por preços mais baixos e para protelar pagamentos eram centrais ao modelo de negócios da Americanas.

A varejista recorria a uma operação chamada risco sacado, em que conseguia crédito bancário para antecipar pagamentos a fornecedores e abaixar o preço final.

Ainda em janeiro, quando foram anunciadas as inconsistências contábeis, os antigos donos da Forte Minas Logística e Transporte afirmaram à BBC News Brasil que foram à falência em 2021, após a Americanas não pagar por R$ 7 milhões em serviços prestados. A varejista, que respondia por 85% das receitas da transportadora, nega a dívida.

O escândalo das Americanas eclodiu quando a gigante do varejo foi incapaz de acertar as contas com os bancos. Assim, ficou evidente a situação incompatível com os balanços apresentados pela empresa. Isso porque a Americanas não registrava as operações de risco sacado como dívida.

A atual gestão da varejista afirma que essa manobra contábil acobertou uma fraude de R$ 20 bilhões por parte de antigos gestores para maquiar resultados e aumentar ganhos próprios —os acusados negam.

Pagano, da USP, lembra que a dívida da varejista vale cerca de 0,5% do PIB do Brasil. “Com a fraude da Americanas, é como se esse montante fosse subtraído da economia do país.”

“Isso tem efeitos muito reais sobre a economia: outras empresas fecham; pessoas são demitidas; os bancos cobram mais juros em empréstimos após um golpe dessa dimensão”, diz.

Para o professor, as empresas menores são incapazes de se defender de crises do sistema financeiro —seus gestores não têm tempo para considerar esses desastres. “É essencial ter um regulador muito forte e proativo que identifique e previna as fraudes e aplique punições muito severas.”

No caso da Americanas, autoridades ainda não chegaram a uma lista de culpados pelo rombo de quase R$ 42,5 bilhões. A CPI (comissão parlamentar de inquérito) instaurada para investigar o caso disse apenas que as provas indicaram a participação de ex-executivos e ex-diretores.

A CPI deixou como legado quatro propostas de leis contra corrupção corporativa.

Uma delas cria o crime da infidelidade patrimonial, definido como o abuso dos poderes de administração de um patrimônio alheio, com o fim de obter vantagem mediante infração do dever de salvaguarda, causando prejuízo ao patrimônio administrado.

Pelos indícios disponíveis, essa descrição se enquadra no que ocorreu na Americanas, mas, por enquanto, não há crime nem culpado.

Com perseguição judicial, Arévalo prestes a assumir Presidência da Guatemala

O social-democrata Bernardo Arévalo deve assumir a Presidência da Guatemala no próximo domingo (14/1), depois de enfrentar uma perseguição judicial implacável, a qual atribui à sua promessa de resgatar a frágil democracia da Guatemala da elite corrupta que, segundo ele, se mantém no poder.

Este ex-diplomata e sociólogo, de 65 anos, que denunciou essa ofensiva como uma tentativa de “golpe de Estado”, será empossado no Teatro Nacional Miguel Ángel Astúrias, em sessão solene de um Congresso que lhe será adverso.

Desde que passou para o segundo turno, em junho, contrariando todas as previsões, conseguiu se desviar das tentativas do Ministério Público de suspender sua imunidade e anular o resultado eleitoral, mas deve enfrentar a suspensão de seu partido, Semilla, e o risco de que seus deputados tenham pouca margem de manobra.

Apoiado por Estados Unidos, União Europeia, pelos países latino-americanos e por organizações internacionais, Arévalo substituirá o direitista Alejandro Giammattei, a quem seus apoiadores acusam de apoiar a procuradora-geral Consuelo Porras, ponta de lança da investida judicial.

A tarefa será imensa. “Ele governará coexistindo com a procuradora que o atacou e afetou a democracia em níveis inimagináveis”, disse à AFP Edie Cux, diretora da Acción Ciudadana, versão local da Transparência Internacional.

Arévalo criou enormes expectativas em uma sociedade farta da corrupção, atormentada pela violência das gangues e pelo tráfico de drogas, e onde seis em cada dez guatemaltecos vivem na pobreza.

“É, sem dúvida, uma enorme responsabilidade. Mas as pessoas sabem que não é uma tarefa que se resolve da noite para o dia”, comentou Arévalo em entrevista à AFP no final de dezembro.

Filho do primeiro presidente democrático da Guatemala, Juan José Arévalo (1945-1951), gestor de reformas sociais, o futuro governante prometeu fechar a torneira do dinheiro público que enriqueceu as elites, enquanto a população sofre dificuldades.

Uma em cada duas crianças com menos de cinco anos sofre de desnutrição e o analfabetismo chega a 18%. A maior economia da América Central expulsa dezenas de milhares de pessoas todos os anos, que saem em busca trabalho nos Estados Unidos, cujas remessas ajudam a sustentar o país (20% do PIB), segundo dados oficiais.

Mas para avançar socialmente, segundo Arévalo, a “luta sustentada e gradual” deve começar a resgatar instituições que ele diz terem sido “cooptadas” pelas “elites corruptas”, como o Ministério Público, o Congresso, os tribunais ou a Controladoria.

“É um problema sistêmico”, afirma ele.

Sua estratégia inclui a criação de uma comissão para propor reformas que impeçam o enriquecimento ilícito e o clientelismo político em uma Guatemala que ocupa o 30º lugar no ranking de corrupção da Transparência Internacional, entre 180 países.

“Ele tem uma tarefa muito importante e urgente de reconstruir a democracia” e alcançar a governabilidade, disse à AFP o ex-advogado de direitos humanos Jordán Rodas, exilado em Washington. Sua experiência na resolução de conflitos, diz Rodas, pode ajudar.

Arévalo também é filósofo, estudou em Israel e na Holanda e fala cinco línguas. Nasceu em Montevidéu e viveu sua infância na Venezuela, no México e no Chile, no exílio de seu pai após o golpe de Estado orquestrado por Washington contra o progressista Jacobo Árbenz (1951-1954).

Durante meses temeu-se que os ataques do Ministério Público, que chegou a invadir a sede do tribunal eleitoral e a confiscar cédulas de votação, impedissem Arévalo de assumir o poder.

Ao longo do caminho houve vários detidos e exilados, uma pilha de ações judiciais a favor e contra Arévalo, e uma bateria de sanções de Washington contra promotores, juízes, funcionários e cerca de 100 deputados a quem acusou de corrupção e de minar a democracia.

O Tribunal Constitucional exigiu garantias para a transição do poder e, ainda na quinta-feira, concedeu uma “proteção” à vice-presidente eleita, Karin Herrera, devido aos rumores de um mandado de prisão.

Arévalo afirma que uma das primeiras coisas que fará como presidente será pedir a renúncia de Porras. Mas os analistas alertam que a ofensiva contra ele está longe de acabar.

“Eles vão deixar o presidente em uma emboscada, no primeiro descuido vão querer suspender sua imunidade e destituí-lo”, afirmou à AFP Manfrendo Marroquín, cofundador da Acción Ciudadana.

Em seu percurso até a posse, Arévalo contou com o apoio decisivo dos jovens, muito ativos nas redes sociais, e dos indígenas, historicamente marginalizados e que representam 40% dos 17,8 milhões de guatemaltecos.

Dormindo ao ar livre, grupos de indígenas permaneceram em frente ao Ministério Público por mais de 100 dias para exigir a renúncia de Porras.

“Terá que responder às suas expectativas. Mas não se pode esperar que venha com uma varinha mágica”, disse Rodas.

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Kim Jong-un: 5 mistérios sobre líder norte-coreano, que estaria fazendo 40 anos

Kim Jong-un está completando 40 anos. Será verdade?

O Líder Supremo da Coreia do Norte faz aniversário, segundo se acredita, nesta segunda-feira, 8 de janeiro. Mas não há tanto consenso sobre o ano do seu nascimento.

E esse não é o único mistério sobre Kim.

Confira abaixo cinco perguntas ainda sem respostas sobre o líder norte-coreano, que chegou ao poder em 2011.

1. Quando Kim Jong-un nasceu?

Na verdade, não sabemos com certeza.

“Existem muitas discussões sobre o ano em que ele nasceu — se foi em 1982, 1983 ou 1984”, diz à BBC Edward Howell, o professor de política da Universidade de Oxford, na Inglaterra, e especialista em Coreia do Norte.

Seu suposto aniversário em 8 de janeiro é um dia normal de trabalho no país comunista.

Já o aniversário do seu pai, Kim Jong-il (1941-2011), é celebrado todos os anos no dia 16 de fevereiro, como o “Dia da Estrela Brilhante”.

E o aniversário do seu avô, Kim Il-sung (1912-1994), considerado o fundador da Coreia do Norte, é comemorado como o Dia do Sol, em 15 de abril.

Mas existem muitos detalhes sobre sua família ainda cercado de grandes mistérios.

Segundo Howell, Kim tem meios-irmãos.

Um deles, Kim Jong-nam (1971-2017), foi assassinado na Malásia em 2017.

Acredita-se que o pai de Kim Jong-un tenha tido pelo menos quatro cônjuges diferentes, mas seus relacionamentos eram mantidos longe dos holofotes públicos.

Acredita-se também que sua mãe, Ko Yong-hui (1952-2004), tenha nascido no Japão e chegado à Coreia do Norte nos anos 1960, para trabalhar como dançarina.

Rumores dizem que ela teria sido a consorte favorita de Kim Jong-il.

Em 2018, foram encontradas fotos de Ko Yong-hui durante sua visita ao Japão em 1973.

Mas, segundo o jornal sul-coreano The Korea Times, a Coreia do Norte não deu muito destaque a Ko devido ao seu passado como dançarina e à sua origem japonesa.

“Por ter nascido no Japão, que havia ocupado a península coreana durante a Segunda Guerra Mundial, ela normalmente teria sido relegada a uma classe social mais baixa”, explica Howell.

“Mas, como se casou com Kim Jong-il, teve uma vida luxuosa”, acrescenta o especialista.

2. Quem é a esposa de Kim Jong-un?

Também não temos certeza. Sabemos que ele tem uma esposa, Ri Sol-ju, mas não se sabe ao certo quando eles se casaram. Especula-se que o casamento pode ter ocorrido em 2009.

Também pouco se sabe sobre a “Camarada Ri Sol-ju”.

Seria ela uma antiga cantora que chamou a atenção de Kim durante uma performance?

Afinal, existe uma artista norte-coreana com o seu nome, mas nunca foi confirmado oficialmente que se trata da mesma pessoa.

Segundo informações atribuídas à inteligência sul-coreana, Ri Sol-ju visitou a Coreia do Sul durante o Campeonato Asiático de Atletismo de 2005, como parte da equipe de líderes de torcida da Coreia do Norte — e estudou canto na China.

A Coreia do Norte não dá nenhum detalhe sobre Ri Sol-ju, limitando-se a afirmar que ela é apenas a esposa de Kim Jong-un.

3. Quantos filhos Kim Jong-un tem?

Esse é mais um detalhe familiar difícil de ser determinado.

Em 2016, surgiram especulações de que Ri Sol-ju estaria grávida, quando ela desapareceu da cena pública.

Mas a gravidez nunca foi oficialmente confirmada.

Acredita-se que dois filhos anteriores tenham nascido em 2010 e 2013, mas não se sabe se algum deles é menino — o que faria dele um potencial sucessor de Kim.

Na verdade, sabemos pouco sobre as crianças.

Kim Jong-un tem comparecido em público com uma filha, Kim Ju-ae.

Acredita-se que ela seja a segunda filha mais velha do líder norte-coreano e teria 10 anos.

Ela é a mais conhecida publicamente, já que fez pelo menos cinco aparições públicas em 2023.

“Ainda não conhecemos toda a história dos seus filhos”, conta Howell.

“Ele (Kim Jong-un) tem outros filhos, mas sabemos muito pouco sobre eles. Não sabemos quem são suas mães.”

Howell relembra que foi o antigo astro do basquete americano Dennis Rodman, um improvável amigo próximo de Kim Jong-un, quem revelou o nome da filha do líder norte-coreano, em uma entrevista em 2013.

Diferentemente de muitos analistas (e da própria agência de inteligência da Coreia do Sul), Howell diz não acreditar que Kim Ju-ae esteja sendo preparada para ser a próxima Líder Suprema da Coreia do Norte.

Ela ainda é jovem e a influente irmã de Kim Jong-un, Kim Yo-jong, tem mais experiência e melhores conexões com a elite do país.

Esses fatores podem fazer com que ela seja a candidata mais provável à sucessão do seu irmão.

Howell acredita que “o líder norte-coreano tem sido visto com sua jovem filha em lançamentos de mísseis, banquetes ou jogos de futebol porque ele quer ser visto como um líder benevolente e homem de família”.

4. Como Kim Jong-un consegue viver com luxo se o país é tão pobre?

Há anos, a Coreia do Norte e seu líder enfrentam fortes sanções impostas pelas Nações Unidas e por países ocidentais, devido ao desenvolvimento de armas nucleares e mísseis balísticos pelo país.

Mas Howell afirma que Kim Jong-un faz tudo o que pode para se esquivar das sanções.

“O país tem um fundo secreto especificamente criado para uso pelo regime”, detalha o professor.

“Kim quer mantê-lo porque deseja que ele e sua família continuem tendo uma vida de luxo.”

Howell diz que existam redes de países em todo o mundo dispostos a fornecer dinheiro para a Coreia do Norte.

E há quem afirme que o país também pode receber fundos de outras maneiras.

“As pessoas costumam pensar que a Coreia do Norte é um país isolado que não tem internet. Ela tem internet estatal e a guerra cibernética se tornou uma estratégia importante (no xadrez geopolítico mundial)”, afirma Howell.

“O regime de Kim faz ataques cibernéticos contra sistemas de computador de outros países para roubar dinheiro e levar a cabo sua economia e seu programa nuclear.”

5. Kim Jong-un se preocupa com seu povo?

Um discurso durante uma parada militar em 2020 mostrou um lado diferente do Líder Supremo da Coreia do Norte.

Kim agradeceu às suas tropas pelos esforços contra a pandemia e em desastres naturais recentes.

E, em dado momento, ele enxugou as lágrimas enquanto falava sobre as dificuldades do país.

Foi uma rara demonstração de emoção de um líder norte-coreano.

Alguns observadores indicaram que ele poderia estar tentando mostrar humildade, enquanto o país enfrenta uma crise econômica crescente.

Mas um exame da vida extravagante do líder da Coreia do Norte indica o contrário.

Kim Jong-un mantém a tradição — iniciada por seu avô, Kim Il-sung — de viajar longas distâncias em trens luxuosos.

O comandante militar russo Konstantin Pulikovsky, que acompanhou Kim Jong-il em sua viagem à Rússia em 2001, comentou a opulência do trem no seu livro de memórias, intitulado Orient Express.

“Era possível pedir qualquer prato da cozinha russa, chinesa, coreana, japonesa e francesa”, escreveu ele.

Lagostas vivas e vinhos finos franceses de Bordeaux e da Borgonha também eram importados de Paris.

Essas e outras formas de transporte luxuosas, incluindo aviões particulares, representam forte contraste com a vida empobrecida do povo norte-coreano.

Norte-coreanos entrevistados pela BBC afirmam que a escassez de alimentos no país é tão grande que seus vizinhos morreram de fome.

Segundo especialistas, a situação atual é a pior desde os anos 1990.

O que isso diz sobre as prioridades de Kim Jong-un?

Para Edward Howell, “ele quer simplesmente preservar não só o regime, mas sua própria liderança tirânica e opressiva. Ele não parece se preocupar com os 26 milhões de habitantes do seu país.”

“Será que ele acha que esta é uma estratégia viável para seguir adiante?”

Distância entre dólar financeiro e oficial na Argentina aumenta nos primeiros dias de Milei

O dólar CCL (Contado con Liqui), um dos mais utilizados em operações no mercado financeiro argentino, atingiu a maior distância ante o câmbio oficial desde a desvalorização do peso feita logo após a posse de Javier Milei.

Nesta sexta-feira (5), o CCL era negociado acima de 1.140 pesos, um patamar superior aos 1.110 registrados em 20 de outubro, último dia útil antes do primeiro turno das eleições presidenciais.

A alta em relação ao fechamento de quinta-feira (4) é de 4,9%, e o valor de 1.140 é 41% mais alto do que o dólar oficial.

Em 13 de dezembro, já com o novo governo e com a desvalorização do dólar oficial, o CCL estava em 1.012 pesos (26,5% maior).

O dólar CCL é uma das principais taxas de câmbio financeiras do país, juntamente com o dólar MEP (Mercado de Pagamentos Eletrônicos).

O CCL é uma ferramenta que permite que os pesos sejam trocados por dólares no exterior, o que o torna a principal forma de muitas empresas e investidores comprarem moeda estrangeira, enquanto o MEP é voltado para o mercado argentino.

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A operação consiste na compra e venda de ações ou títulos de dívida em pesos cotados no país e em outro mercado estrangeiro.

Com a redução da demanda pela divisa argentina ocorrendo antes do esperado pelos analistas, os investidores têm buscado se proteger da inflação por meio da compra da moeda norte-americana, um movimento que acaba ampliando a diferença em relação ao dólar oficial. O CCL está em sua quarta alta consecutiva.

Já o dólar livre, ou “blue”, estava cotado a 1.025 pesos. O “blue” é a cotação de dólar mais utilizada na Argentina. Apesar de ser clandestina, ela é a referência para a economia local, e não o “dólar oficial”, cuja cotação é controlada pelo BCRA (Banco Central da República Argentina). O MEP era cotado a 1.104 pesos.

Logo que assumiu a Presidência, Milei implementou uma forte desvalorização do peso argentino e revogou controles de preços, o que provocou uma série de reajustes.

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Em dezembro, o FMI (Fundo Monetário Internacional) elogiou as medidas econômicas “ousadas” anunciadas pelo ministro da Economia argentino, Luis Caputo, que, além da forte desvalorização do peso, incluía cortes nos gastos do Estado.

O governo suspendeu obras públicas, reduziu o repasse às províncias e aumentou impostos temporariamente.

“Uma implementação decisiva ajudará a estabilizar a economia e a estabelecer as bases para um crescimento mais sustentável e liderado pelo setor privado”, disse em comunicado o FMI, que tem um empréstimo de US$ 44 bilhões (R$ 215,1 bilhões) com o país vizinho.

A partir desta sexta-feira, a equipe econômica terá uma série de reuniões com representantes do fundo. Essa é a primeira visita de altos representantes do FMI desde 2020, e o objetivo é tratar da dívida do país.

De acordo com a imprensa argentina, técnicos do vice-diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI, Luis Cubeddu, vão se reunir com funcionários do Banco Central. Ao longo do fim de semana, também estão previstas reuniões com integrantes do Ministério da Economia.

O encontro oficial com o ministro da Economia, Luis Caputo, e o chefe de Gabinete do governo, Nicolás Posse, está marcado para a próxima segunda-feira (8).

O governo argentino quer retomar negociações com o FMI para desbloquear de imediato um desembolso que permita o pagamento de US$ 2 bilhões (R$ 9,8 bilhões) de vencimentos previstos para janeiro. A Casa Rosada também deve tentar uma nova revisão do acordo.

Os vizinhos enfrentam uma crise econômica severa, com uma inflação que caminha para os 200%, falta de reservas em moeda estrangeira e elevação da pobreza.

A intenção é sinalizar aos credores que o novo governo está disposto a cumprir as principais metas acordadas com o FMI —de controle fiscal e de emissão monetária e acumulação de reservas—, além de melhorar a relação do país com o fundo em relação ao governo passado, de Alberto Fernández.

O governo espera levantar US$ 3,2 bilhões (R$ 15,72 bilhões) em moeda forte para pagar dívida por meio de uma emissão de títulos de dez anos para o BC, de acordo com decreto publicado no Diário Oficial do país.

Nesta sexta, o ex-ministro do governo anterior e responsável pela renegociação da dívida, Martín Guzmán, quebrou o silêncio que vinha mantendo ao longo da campanha de 2023 e fez duras críticas a Milei.

Em entrevista à emissora Radio con Vos, o economista disse que o governo já começou a dolarizar a economia via emissão de títulos em moeda norte-americana, e afirmou que este é o único plano do presidente.

“Há um conjunto de operações para converter o passivo remunerado do Banco Central em pesos em um passivo em dólar. Acredito que o governo já começou a dolarizar a economia, e nada seria tão grave para a Argentina”, disse.

Folha Mercado

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Milei quer poderes autoritários e fazer em um mês reformas que Brasil fez em três décadas

Por alguns meses, discutiu-se qual seria o plano econômico de Javier Milei para a Argentina. No limite, um grande problema de seu programa seriam enormidades tais como acabar com o Banco Central e a dolarização. Milei ainda diz que esses dois objetivos são o ponto final de sua administração. Mas isso que pareciam duas reviravoltas terminais parecem mais abstrações perdidas na névoa do futuro. A revolução de Milei é agora.

Não há ainda ou propriamente um plano econômico, nem mesmo um projeto de dar cabo do déficit do governo, um objetivo central. Existe é um plano de virar o país do avesso de tal modo que essa Argentina refeita quase por decreto terá estabilidade de preços, ganhos de produtividade e crescimento duradouro. Não há plano de implementação progressiva, articulado com a sociedade, metas, mudanças institucionais que fundamentem o próximo passo, nada disso. A ideia é explodir esta Argentina de fato decrépita e esperar que, quando os seus pedaços voltarem ao chão, todos se encaixem, de modo novo e funcional.

Milei quer mudar os códigos legais, desregulamentar a economia inteira, privatizar tudo, mudar a lei trabalhista, limitando o direito de greve, limitar o direito de reunião e manifestação, fazer com que o “acordado” possa se sobrepor ao legislado pelos códigos civis e comerciais, quer fazer uma reforma previdenciária, alterar o código penal. Quer colocar na lei a figura de emergências econômicas, sociais, fiscais e tributárias, o que, mais ou menos, em cada caso, permitiriam a Milei governar por decreto (sim, até com impostos).

Páginas de jornal seriam insuficientes para descrever o tamanho da mudança, exigida por centenas de artigos de um decretaço e um projeto de lei abrangente (“omnibus”). O decretaço tem de ser aprovado ou rejeitado na íntegra. Milei quer ainda a aprovação integral, em regime de urgência, da “Lei de Bases e Pontos de Partida para a Liberdade dos Argentinos” —até o fim de janeiro. Seus ministros dizem que o presidente recebeu um mandato das urnas para mudar, que a ideia de reviravolta estava explícita na campanha. Portanto, o Congresso vai ter de engolir os pacotões.

Recorde-se que, mesmo com aliados, o governo tem por ora um quarto dos deputados; que a Justiça começa a barrar o decretaço, que a maioria dos deputados o considera ilegal, assim como acham que partes da lei “omnibus” é inconstitucional.

Os dois pacotões de Milei contêm reformas que foram feitas ao longo de décadas no Brasil, a começar de 1985, com a redemocratização, como a que deu cabo do financiamento do governo pelo Banco Central e a criação do Tesouro. Mas na linguiça do pacote estão moídas e embutidas reformas à moda de Collor, da liberalização comedida de FHC, das mudanças de Michel Temer e muito mais.

Sim, a Argentina padece de intervenções econômicas muito erradas, alopradas, clientelistas, corruptas. Não tem moeda nem mercado de dívida pública. País e governo não têm crédito. O governo não tem como pagar a dívida externa. Precisa de mudanças radicais e rápidas. Na versão de Milei, isso quer dizer revolução, com poderes de exceção típicos de revoluções.

O Chile do genocida, assassino, falsário e ladrão Pinochet fez tal coisa, mas levou mais tempo, teve tentativa e erro e tinha o poder de matar muita gente e de desmandar sem limite por tempo então que parecia também ilimitado.

Haverá inflação, redução brutal de salários, aposentadorias e benefícios sociais, mexida profunda em interesses, bons e maus. Diz-se que a Argentina tem tradição grande de protesto social. Em tese, pois, ficaria revoltada com a mera lista de dores causada por um plano qualquer de estabilização. O que fará diante desse plano de revolução?

Deputado do PP ganha aval para viabilizar candidatura a prefeito do Rio

O deputado federal Marcelo Queiroz (PP-RJ) ganhou aval do senador Ciro Nogueira (PI), presidente nacional do PP, para tentar viabilizar seu nome para disputar a Prefeitura do Rio de Janeiro.

Queiroz busca espaço após o líder do PP na Câmara, Dr. Luizinho, sinalizar ter desistido da candidatura, que era estimulada pelo governador Cláudio Castro (PL).

O deputado tem argumentado internamente ser importante o PP ter um nome próprio para a disputa. Ele foi o mais votado da sigla na capital na eleição do ano passado para a Câmara.

Queiroz foi secretário municipal no segundo mandato de Eduardo Paes (PSD) na prefeitura, bem como do governo Marcelo Crivella (Republicanos). Ele também comandou uma pasta no governo estadual entre 2019 e 2022, durante as gestões de Wilson Witzel e Cláudio Castro (PL-RJ).

A equipe do governador prefere ter Queiroz como vice do deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), escolhido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como o nome de seu campo político para a disputa. O deputado, porém, avalia ter espaço para uma oposição a Paes com bandeira mais municipal e menos nacional.

Como reforma tributária deve impulsionar economia mesmo com potencial de criar ‘maior IVA do mundo’

Após intensas negociações, o Congresso Nacional aprovou nesta sexta-feira (15/12) a reforma tributária, conjunto de mudanças que busca simplificar a arrecadação de impostos no país, unificando tributos que hoje são cobrados sobre a produção e a comercialização de produtos e serviços.

A aprovação é considerada um feito histórico por políticos e economistas. Por ser tratar de uma ampla mudança que impacta muitos setores econômicos e a arrecadação de União, Estados e municípios, a reforma levou décadas em debate até se conseguir chegar a um consenso.

A unificação dos impostos não entra automaticamente em vigor, no entanto. Ainda será preciso o Congresso regulamentar detalhes do novo sistema, além de um período de teste e transição para calibrar o novo imposto que será criado.

Após esse processo, o Brasil passará a ter um Imposto sobre Valor Adicionado (IVA), modelo usado na maioria dos países e em quase todos os desenvolvidos. A expectativa é que ele esteja plenamente em funcionamento em 2033.

No caso brasileiro, o IVA terá dois componentes: a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), que substituirá três impostos federais (IPI, PIS e COFINS), e o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), que unificará ICMS (estadual) e ISS (municipal).

A futura alíquota do novo imposto, porém, é alvo de questionamentos. Críticos da reforma dizem que o IVA brasileiro vai elevar a carga tributária e citam projeções de economistas indicando que a alíquota pode chegar a 28%, a maior do mundo.

“É inaceitável uma reforma tributária que nos impõe o maior IVA do mundo, ameaça investimentos, competitividade, e pressiona custos que recairão sobre todos nós!”, criticou na rede social X o senador Rogério Marinho (PL-RN), ex-ministro de Desenvolvimento Regional do governo de Jair Bolsonaro (PL), em novembro, quando a reforma estava em debate no Senado.

Embora ainda não seja possível cravar qual será a alíquota do IVA brasileiro, defensores da reforma reconhecem que será alta para padrões internacionais. No entanto, ressaltam que isso reflete o fato de o Brasil ter uma grande parte da sua arrecadação sobre produção e consumo – diferentemente de outros países com IVA menor que arrecadam mais sobre renda e propriedade.

A ideia, destacam os apoiadores da mudança, é que o novo IVA arrecade exatamente o que hoje os cinco impostos (IPI, PIS, COFINS, ICMS, ISS) rendem às três esferas do poder público, sem, portanto, elevar a carga tributária atual.

O objetivo de manter a mesma arrecadação é não desfalcar o caixa dos governos, já que esse dinheiro é usado para bancar serviços públicos, como escolas, hospitais e o funcionamento das polícias.

Entusiastas da reforma dizem que a reorganização e a simplificação do sistema com a unificação dos impostos terão o efeito de impulsionar o crescimento e ampliar o poder de compra da população (entenda melhor ao longo da reportagem).

“A reforma vai ser neutra em termos de não diminuir a arrecadação e não aumentar a carga tributária. Então, sendo neutra, isso quer dizer que os novos tributos (IBS e CBS) têm que arrecadar exatamente a mesma coisa que arrecadam hoje”, sintetiza a especialista em questões tributárias Melina Rocha, diretora de cursos na York University, no Canadá.

“Como a futura alíquota será correspondente à carga tributária de hoje, então o Brasil já tem esse maior IVA do mundo. Só que o novo sistema trará muito mais transparência”, defende.

Melina explica ainda que a alíquota base do IVA também ficará mais alta no Brasil devido aos descontos dados na reforma a alguns setores.

Serviços de saúde e educação, por exemplo, pagarão um IVA equivalente a 40% da alíquota cheia. Já a cesta básica terá alguns itens com isenção total (não pagarão IVA) e alguns itens com alíquota reduzida (40% da alíquota cheia).

Ou seja, para que alguns produtos e serviços tenham imposto menor, a alíquota padrão capaz de garantir a mesma carga tributária de hoje precisa ser maior.

Qual será o IVA brasileiro? E como é no mundo?

Segundo projeções preliminares do Ministério da Fazenda, o novo imposto brasileiro pode ficar entre 25,45% e 27%, mas esse cálculo será revisto, pois foi realizado antes de o Congresso realizar algumas alterações no texto que podem elevar a alíquota final.

Já uma projeção do pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) João Maria Oliveira, também anterior a essas alterações, calculou que o IVA brasileiro poderia chegar a 28,4%.

Hoje, o maior IVA do mundo é o da Hungria (27%). Os países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) têm alíquota média de 19,2%. Dos 38 integrantes da organização, formada principalmente por países ricos, apenas os Estados Unidos não adotam o IVA.

Para Melina Rocha, porém, não faz sentido comparar o IVA de diferentes países sem levar em conta o sistema tributário de cada um deles como um todo.

“Não dá para comparar a alíquota nominal padrão de um país com outro, justamente porque esses outros países, que têm uma alíquota menor do IVA, têm uma alíquota muito maior sobre renda”, argumenta.

Segundo um relatório da Receita Federal com dados de 2020, a carga tributária média dos países da OCDE estava em de 33,5% do Produto Interno Bruto (PIB) naquele ano, enquanto a brasileira era de 30,9% do PIB.

Já ao analisar o tipo de tributo, os dados mostram que a carga tributária sobre renda no Brasil era de 6,9% do PIB, contra 10,6% na média da OCDE.

No caso da tributação sobre bens e consumos, o cenário se inverte: a carga brasileira estava em 13,5% do PIB, contra 10,8% na média da OCDE.

Vale explicar que o PIB é o cálculo de riqueza produzida pelo país em um determinado espaço de tempo. Quando se calcula a carga tributária em proporção ao PIB, basicamente se está analisando o tamanho da arrecadação no ano em relação à riqueza gerada no país no mesmo ano.

Como IVA pode impulsionar a economia?

Estimativas preliminares de diferentes economistas têm apontado forte potencial de crescimento da economia a partir de ganhos de produtividade devido à simplificação tributária trazida pelo IVA.

Uma projeção feita em 2020 por Bráulio Borges, economista-sênior da LCA Consultores e pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV), estimou que a adoção do IVA poderia elevar o PIB potencial brasileiro em 20% em 15 anos.

Já as simulações dos economistas Edson Domingues e Débora Freire Cardoso, professores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), projetaram um ganho um pouco menor, de 12% no mesmo período.

“[O Brasil tem um] Sistema bastante distorcido e complexo”, nota o economista Manoel Pires, também pesquisador da FGV, em um artigo recente sobre a reforma tributária.

“Existem impostos que se diferenciam por produto, várias alíquotas por região, legislações que se multiplicam, obrigações acessórias e elevado custo de conformidade que aumentam custos e conduzem a decisões econômicas ineficientes”, continua, ao abordar os efeitos negativos do sistema atual.

No artigo, Pires cita estudos que mostram impactos positivos da adoção do IVA em países como Canadá e China, como aumento de investimentos, vendas, geração de empregos e produtividade.

Segundo Pires, esses efeitos positivos têm relação com a simplicidade do sistema e com o fato do IVA gerar créditos tributários ao longo da cadeia de produção, evitando o acúmulo de taxação.

Ou seja, quando uma empresa compra um insumo de outra, o IVA incide sobre essa operação, mas, depois, essa empresa pode descontar o que pagou na compra do insumo do IVA que será pago na venda do seu produto. Esses descontos são o que se chama de créditos tributários.

O sistema brasileiro hoje também tem geração de crédito tributários em algumas operações, mas a complexidade do sistema gera distorções e disputas jurídicas.

“[A adoção do IVA] Desonera a cadeia produtiva acabando com a cumulatividade”, diz Pires no artigo.

Outro efeito positivo, afirma o pesquisador, é o IVA incidir sobre o consumo final.

“[A adoção do IVA] Desloca a tributação da produção para o consumo, desonerando investimentos e exportações, aumentando a competitividade da economia”, reforça Pires.

Estudos mostram ainda que a reforma tributária deve aumentar o poder de consumo da população, em especial dos mais pobres. Isso porque a proposta em tramitação no Congresso prevê a criação de um sistema de cashback (devolução de impostos) para os brasileiros de menor renda, algo que já é adotado em outros países que usam o IVA, como Uruguai, Colômbia e Canadá.

Melina Rocha ressalta, porém, que os ganhos esperados com a implementação da reforma tributária levarão tempo.

“Há estudos que estimam aumento do crescimento econômico e da renda da população, mas isso não vai ocorrer de imediato porque o novo sistema só vai ser implementado completamente em 2033 por conta do período de transição”, ressalta.

Fase de testes definirá a alíquota do IVA brasileiro

Não é possível ainda dizer com certeza qual será a alíquota do IVA brasileiro porque isso dependerá da regulamentação da reforma e também de elementos práticos como possíveis perdas por sonegação.

Por isso a projeção inicial da Fazenda estimou um possível intervalo, entre 25,45% e 27%.

Para se calcular qual será a exatamente a alíquota, haverá uma fase de testes em 2026, em que será cobrado um CBS (IVA federal) de 0,9% e um CBS (IVA estadual) de 0,1%.

Nesse momento, os outros cinco impostos continuarão em vigor, mas haverá desconto do que for arrecadado com o testo do CBS e do IBS, para não haver uma dupla tributação.

A partir do que for arrecadado com essas alíquotas reduzidas na fase de testes, será possível calibrar qual será a alíquota do novo imposto.

Mas ainda haverá uma fase de transição em que o IVA brasileiro será implementado gradualmente no lugar dos atuais impostos, até entrar totalmente em vigor em 2033.

Essequibo: Venezuela e Guiana prometem não fazer uso de força e marcam reunião no Brasil

Os presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro, e da Guiana, Mohamed Irfaan Ali, prometeram não fazer ameaças e nem o uso de força de um país contra o outro em meio às tensões em torno da região de Essequibo, uma área disputada pelos dois países há mais de 150 anos.

A promessa consta da declaração final de um encontro realizado pelos dois em São Vicente e Granadinas nesta quinta-feira (14/12). Na declaração, os dois presidentes também se comprometem a diminuir as tensões entre as nações e acordaram continuar a debater o assunto em uma reunião no Brasil daqui a três meses.

A reunião entre os dois foi convocada pela Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e contou com a presença de observadores da Organização das Nações Unidas (ONU) e de países como o Brasil. O enviado do governo brasileiro ao encontro foi o assessor especial da Presidência da República pra assuntos internacionais, Celso Amorim.

O encontro entre as delegações da Guiana e da Venezuela começou no final da manhã e a declaração final só foi divulgada por volta das 22h (horário de Brasília).

No texto de três páginas, os dois países se comprometeram a:

O encontro entre Maduro e Irfaan Ali foi o episódio mais recente da escalada de tensões entre os dois países em função da disputa sobre Essequibo.

Após a reunião, Nicolás Maduro comemorou o resultado do encontro.

“Excelente dia de diálogo! […] Conseguimos”, disse o presidente venezuelano em rede social.

Irfaan Ali também se manifestou em suas redes após o encontro.

“Gostaria de agradecer à nossa equipe técnica, incluindo todos os agentes estatais, advogados, diplomatas e especialistas nacionais, regionais e internacionais que nos apoiaram com sua experiência no desafio de hoje”, disse o presidente guianense.

Mais cedo, durante uma entrevista coletiva, o presidente da Guiana disse que havia deixado claro a Maduro que sua posição era de que a questão fosse resolvida pela Corte Internacional de Justiça (CIJ), vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU).

“Não há, absolutamente, nenhum recuo da Guiana em assegurar que esse assunto seja determinado pela CIJ e que o resultado desse caso seja respeitado por todos”, afirmou.

Antes da reunião, Maduro postou em suas redes sociais que havia chegado a São Vicente e Granadinas para defender os direitos da Venezuela.

“Chegamos a São Vicente e Granadinas com o mandato do povo da Venezuela para avançar mediante o diálogo e a palavra de paz, defendendo os direitos do povo e da nossa pátria”, publicou Maduro no X (antigo Twitter).

Origem da disputa

A controvérsia sobre Essequibo tem mais de 150 anos. A região tem 160 km², maior que o Estado do Ceará ou que todo o território da Inglaterra. A área equivale a dois terços do território da Guiana.

No século 19, a Venezuela e o Reino Unido disputaram as fronteiras entre o país sul-americano e a então chamada Guiana Inglesa.

O assunto foi submetido a uma arbitragem internacional e, em 1899, a Sentença Arbitral de Paris decidiu a favor do Reino Unido. As fronteiras atuais da Guiana foram definidas nesta sentença.

Mas em 1949, documentos desse processo foram divulgados e a Venezuela passou a alegar que o processo de arbitragem não teria sido imparcial.

Desde então, o país sustentou que a arbitragem que definiu as fronteiras da Venezuela com a Guiana deve ser considerada nula e sem valor.

Em 1966, quando a Guiana se tornou independente, a Venezuela e o Reino Unido assinaram um acordo que reconheceu a reivindicação venezuelana e que dizia que os países buscariam soluções para resolver a disputa de forma pacífica — mas a área continuou a ser ocupada e administrada pela Guiana.

Esta controvérsia foi revivida por Nicolás Maduro nos últimos anos após a descoberta de reservas de petróleo potencialmente gigantes na costa de Essequibo.

Foram descobertas pelo menos 11 bilhões de barris de petróleo. O início da exploração petrolífera na região vem fazendo com que o produto interno bruto (PIB) da Guiana cresça em velocidade acelerada.

Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o PIB cresceu 62% no ano passado e deverá chegar a 37% este ano.

Escalada de tensões

As tensões em torno de Essequibo aumentaram nas últimas semanas. Em 3 de dezembro, a Venezuela realizou um referendo sobre a criação de um Estado venezuelano nesta área de disputa e o voto “sim” ganhou por uma grande maioria, de acordo com as autoridades da Venezuela.

Apesar disso, há alegações de que a participação no referendo foi baixa.

Após o referendo, Nicolás Maduro anunciou o envio de uma lei para a criação de um estado venezuelano dentro do território de Essequibo e também determinou que a companhia estatal de petróleo do país, a PDVSA, criasse uma divisão especial para iniciar a pesquisa e exploração petrolífera na região, o que foi considerado uma afronta pelo governo da Guiana.

Em resposta, o presidente da Guiana vem afirmando que não abrirá mão da soberania do país.

Em entrevista exclusiva à BBC News Brasil e à BBC News Mundo (serviço em espanhol da BBC), Irfaan Ali disse que fará “o que for necessário” para se defender da Venezuela e não descartou a abertura de uma base militar norte-americana no país.

As tensões deixaram governos da região preocupados. No início do mês, o governo brasileiro anunciou que reforçou o número de tropas estacionadas na fronteira do país com Venezuela e Guiana, no Estado de Roraima.

A região é considerada estratégica no caso de uma tentativa de invasão militar da Venezuela sobre o território de Essequibo.

Na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ofereceu o Brasil e o Ministério das Relações Exteriores para mediar a crise.

Também na semana passada, os governos dos Estados Unidos e da Guiana anunciaram a realização de exercícios militares em território guianense.

Na ocasião, o secretário do Departamento de Estado norte-americano, Antony Blinken, conversou por telefone com Irfaan Ali.

Em nota divulgada pelo órgão, Blinken teria reiterado o apoio “inabalável” dos Estados Unidos à Guiana e defendido que a controvérsia sobre Essequibo fosse resolvida de maneira pacífica.

Inflação ultrapassa 160% em 12 meses e deve crescer com Milei

O governo de Alberto Fernández terminou na Argentina deixando como herança uma taxa de inflação de 160,9% em 12 meses, sendo novembro o mês que registrou o maior índice, com 12,8%. A taxa, porém, deve aumentar até o fim deste ano, principalmente após o pacote de medidas econômicas apresentadas na terça-feira, 12, pelo novo presidente Javier Milei, que provocou uma desvalorização de 55% no valor da moeda.

Os novos dados foram publicados nesta quinta-feira, 13, pelo Indec, o instituto de estatísticas do país. De janeiro a novembro, o país registrou uma variação de 148,2%, o que projeta um 2023 fechando com taxa próxima de 200%, a maior já registrada desde o fim da hiperinflação.

No anúncio das dez medidas econômicas do novo governo, o ministro da Economia, Luis Caputo, previu que o índice de dezembro poderia ser de 20% a 30% e alertou que virão meses difíceis para os argentinos.

O setor que registrou maior aumento foi o de Saúde, com 15,9%, impulsionado por um aumento no preço dos medicamenos, muito ocasionado por uma escassez de insumos de produção. Logo em seguida vem os alimentos e as bebidas não alcoólicas, com 15,7%, sendo que os maiores aumentos foram na água mineral, refrigerante, sucos, verduras e frutas. A comunicação vem em seguida, com 15,2%, devido a um aumento nos preços dos serviços de telefonia móvel e de internet.

A taxa não surpreende, pois já era um valor estimado por muitos economistas e consultoras. No dia a dia, os argentinos já sentiam os reflexos nas últimas semanas. Logo após o segundo turno das eleições presidenciais, chegou ao fim de maneira não-oficial o programa Preços Justos do então ministro e candidato Sergio Massa. O programa mantinha o preço dos alimentos artificialmente mais baixos para amenizar os efeitos da inflação.

O controle de preços chega oficialmente ao fim apenas no fim deste ano, mas desde as eleições os supermercados não recebiam listas atualizadas de controle de preços Com o fim do Preços Justo, muitos argentinos já relatavam uma piora nos preços, com artigos básicos da alimentação, como mate, saindo de 900 pesos para 1200.

As carnes também vinham aumentando e são previstas para registrar um aumento considerável. Sem o programa, fornecedores projetam um aumento de 20 a 25% nos alimentos como macarrão, farinha, pães e óleos.

Os setores que registraram menores variações em novembro foram moradia, água, eletricidade e combustíveis (7,1%) e Educação (8,3%). Muitos desses são serviços subsidiados pelo governo.

Toda essa situação, no entanto, não reflete os impactos da enorme desvalorização promovida por Milei ontem que promete explodir a inflação ainda mais. A aposta do governo é um plano de choque que implica a eliminação do déficit financeiro do país, ao redor de 5,2% do PIB, por meio de uma redução significativa das despesas e também do aumento dos impostos.

Com as medidas de Milei, a expectativa é de que a Argentina termine o ano com uma inflação próxima de 200%, muito maior do que a última antes da hiperinflação dos anos 1990. Em 1991, ano em que foi aplicada a conversibilidade de Carlos Meném, que equiparou o peso ao dólar, a Argentina registrava uma taxa acumulada do ano de 84%.

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BC deve reduzir hoje juro para o menor patamar desde março de 2022

O Banco Central deve anunciar nesta nesta quarta-feira o quarto corte seguido na taxa básica de juros, a Selic. Conforme expectativa majoritária do mercado e indicação da própria autoridade monetária, a queda será de 0,5 ponto percentual.

Com isso, a Selic vai de 12,25% para 11,75% ao ano, o menor patamar desde março de 2022, quando também estava em 11,75%.

Será a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) no ano de 2023. O comitê se reúne a cada 45 para decidir o rumo da taxa básica da economia.

Enquanto neste ano a Selic deve terminar em 11,75%, no ano seguinte, a expectativa de mercado aponta para uma taxa de 9,25%. Os números são do Boletim Focus, divulgado pelo próprio BC.

Governo quer mais

O patamar está longe do desejo do governo. No sábado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, avaliou que as medidas apresentadas ao Congresso para o ajuste fiscal e correções tributárias, aliadas à promulgação da Reforma Tributária sobre o consumo, criam um ambiente para “exigir” o corte da taxa básica de juros.

Nesta terça, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou um movimento de pressão ao chefe do Banco Central, Roberto Campos Neto, para a aceleração da queda da taxa básica de juros.

— Nós temos que mexer com o coração do presidente do Banco Central, ‘reduz um pouco o juro, que as pessoas estão querendo tomar dinheiro emprestado’. Os governadores podem ajudar, fazer pressão — disse, em cerimônia sobre o financiamento dos Bancos Públicos para investimentos nos estados.

Haddad, por sua vez, falou em “gordura” para cortar juros.

— A taxa de juros começou a cair poucos meses atrás e ainda temos gordura na política monetária e nossa taxa real está muito distante do segundo colocado (no mundo) — afirmou o ministro.

Sempre que questionado publicamente, Haddad nega cravar um número considerado ideal pela Fazenda, mas dá indicações. Também neste sábado, ele criticou, por exemplo, o fato de a Selic terminar o ano em 11,75%, quando a inflação está próxima de 4%.

Na última ata do Copom, que detalha a decisão sobre juro, os oito diretores e o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, “anteveem” cortes de 0,50 ponto percentual “nas próximas reuniões”. Eles também avaliam que esse “ritmo (é) apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”.

O corte está sinalizado para, pelo menos, duas reuniões à frente. Essa é a interpretação apresentada pelo próprio Campos Neto em palestra nesta última semana.

A taxa básica ficou estacionada em 13,75% de agosto de 2022 a agosto de 2023.

Fatores de risco

O Banco Central continua com a lupa para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação como risco. As pressões inflacionárias globais e inflação de serviços são alguns dos indicadores mensurados com atenção.

Ou seja, a depender do cenário macroeconômico, a autarquia monetária pode acelerar ou diminuir o ritmo de corte da Selic.

Com impulso nos preços alimentos e passagens aéreas, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15 ) acelerou para 0,33% em novembro, conforme dados do IBGE .