Recuperação judicial da Americanas afetou ao menos 371 atividades econômicas

A crise da Americanas afetou de gigantes do setor bancário a microempresas. Ao menos, 371 atividades econômicas listadas em 19 das 21 seções da Cnae (Classificação Nacional de Atividades Econômicas) sofreram impactos com o pedido de recuperação judicial da rede varejista.

Há um ano, a empresa recorreu à Justiça após vir à tona uma fraude contábil que resultou em R$ 42,5 bilhões em dívidas.

Entre quem tem dinheiro a receber da empresa há 36 bancos e instituições financeiras, que juntos concentram 83,4% do total do crédito. No entanto, 3.607 micro e pequenas empresas constam da lista de credores, além de mais de 5.000 médias e grandes empresas.

A Folha extraiu esses dados da lista de credores do plano de recuperação judicial, divulgado em junho. Depois, cruzou-a com o CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica) da Receita Federal, que menciona a atividade econômica exercida pela empresa.

“Edição de livros”, por exemplo, é uma atividade econômica listada na seção “informação e comunicação”. “Fabricação de vinho” fica na categoria maior “indústria de transformação”, e “serviços advocatícios”, em “atividades profissionais, científicas e técnicas”.

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Na lista de credores, há desde fornecedores de doces (indústria alimentícia), passando por farmácias de manipulação e transportadoras de todos os portes e até dois dentistas.

Veja às quais seções da Cnae pertencem as empresas credoras da Americanas

Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura

Indústrias extrativas

Indústrias de transformação

Eletricidade e gás

Água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação

Construção

Comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas

Transporte, armazenagem e correio

Alojamento e alimentação

Informação e comunicação

Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados

Atividades imobiliárias

Atividades profissionais, científicas e técnicas

Atividades administrativas e serviços complementares

Administração pública, defesa e seguridade social

Educação

Saúde humana e serviços sociais

Artes, cultura, esporte e recreação

Outras atividades de serviço

O critério para validação da assembleia que aprovou o plano de recuperação judicial da Americanas, entretanto, desconsiderava essa diversidade. Requeria que os credores participantes deveriam representar 50,01% da dívida. Participaram da assembleia de dezembro 2.041, das quais 1.860 aprovaram o plano.

A principal frente de negociação aberta pela Americanas foi com as instituições financeiras. Ainda no fim de novembro, a empresa anunciou que havia fechado acordo com Bradesco, BTG Pactual, Itaú e Santander, que detêm 35% da dívida.

Os credores que tinham a opção de comprar parte das ações a um preço predefinido (stock option) ainda receberam uma sinalização da Americanas: R$ 12 bilhões em ações.

As mais de 3.600 pequenas e micro, por sua vez, ficam em um grupo próprio de credores e recebem tratamento favorecido, desde reforma na Lei de Recuperação Judicial de 2014.

Segundo o plano proposto pela Americanas, não haverá desconto para esse conjunto, e o pagamento será feito em até 30 dias após a homologação.

As médias e grandes empresas de outros setores, porém, ficaram espremidas nesse jogo de preferências e foram as menos consideradas no plano final, de acordo com o professor da Faculdade de Direito da USP Carlos Pagano, especialista em direito comercial.

“Esses negócios também têm um grande volume de funcionários e estão mais vulneráveis ao baque de um calote da Americanas do que um grande banco, que tem ativos mais diversificados”, diz Pagano.

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“Os próprios credores podem ser levados a uma situação de recuperação judicial e dispensa em massa de funcionários por essa situação”, afirma.

Procurada pela Folha, a Americanas diz que a proposta, aprovada em primeira convocação de assembleia de credores, com 91,14% de adesão entre os votantes e 97,19% em volume de dívida, demonstra que o plano de recuperação judicial é factível e bem aceito entre as partes.

“Os esforços dos acionistas de referência, com a injeção de capital de R$ 12 bilhões, e as amplas discussões com credores permitiram a criação da cláusula para ‘Credor Fornecedor Colaborador’, com a destinação de R$ 4 bilhões para atendê-los e priorização de pagamentos ao fornecedor que estiver de acordo com os termos”, diz a empresa.

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Os fornecedores colaboradores, entretanto, tinham de aceitar as condições propostas pelas Americanas e continuar abastecendo a empresa, após o escândalo contábil. A cláusula apresentada em março indicava que os interessados deveriam voltar a trabalhar com a varejista até abril para não ter deságio.

As empresas de tecnologia listadas entre os credores também receberam condições especiais no plano.

A Americanas ainda cita que os quirografários —credores sem garantia real—, credores de quantias de até R$ 12 mil ou com valores acima, mas que aceitem receber R$ 12 mil pelo pagamento de seus créditos, serão pagos em parcela única no prazo de até 30 dias após a homologação do plano.

A varejista deve mais de R$ 12 mil a 2.676 credores considerados quirografários.

Além disso, algumas das 371 atividades econômicas afetadas pela recuperação judicial da Americanas ficaram sem tratamento especial.

Essenciais para um negócio que atende todo o país, as transportadoras, por exemplo, ainda estão sem garantias. Dessas empresas, 17 têm débitos a receber da varejista acima dos R$ 100 mil e são consideradas quirografárias.

A maior dívida ultrapassa os R$ 2,5 milhões e se refere à Bertolini Transportes. Uma das maiores transportadoras do país, a empresa afirma, em nota enviada à reportagem, que teve capacidade de absorver o prejuízo em meio aos seus ativos que somam R$ 40 bilhões, mas chamou a dívida de expressiva.

A Bertolini Transportes se absteve de participar da assembleia de credores por considerar que “não contribuiria em nada” na aprovação da proposta, “quando comparada à participação das instituições financeiras”.

“É muito triste que as transportadoras, de modo geral, e que são responsáveis pelo transporte e logística de toda a carga que mantém a atividade comercial da Americanas, tenham sido prejudicadas pela má gestão dos administradores dessa sociedade”, afirma o fundador da Bertolini, Irani Bertolini, que também preside a Fetramaz (Federação das Empresas de Logística, Transporte e Agenciamento de Cargas da Amazônia).

A pressão sob os fornecedores e transportadores por preços mais baixos e para protelar pagamentos eram centrais ao modelo de negócios da Americanas.

A varejista recorria a uma operação chamada risco sacado, em que conseguia crédito bancário para antecipar pagamentos a fornecedores e abaixar o preço final.

Ainda em janeiro, quando foram anunciadas as inconsistências contábeis, os antigos donos da Forte Minas Logística e Transporte afirmaram à BBC News Brasil que foram à falência em 2021, após a Americanas não pagar por R$ 7 milhões em serviços prestados. A varejista, que respondia por 85% das receitas da transportadora, nega a dívida.

O escândalo das Americanas eclodiu quando a gigante do varejo foi incapaz de acertar as contas com os bancos. Assim, ficou evidente a situação incompatível com os balanços apresentados pela empresa. Isso porque a Americanas não registrava as operações de risco sacado como dívida.

A atual gestão da varejista afirma que essa manobra contábil acobertou uma fraude de R$ 20 bilhões por parte de antigos gestores para maquiar resultados e aumentar ganhos próprios —os acusados negam.

Pagano, da USP, lembra que a dívida da varejista vale cerca de 0,5% do PIB do Brasil. “Com a fraude da Americanas, é como se esse montante fosse subtraído da economia do país.”

“Isso tem efeitos muito reais sobre a economia: outras empresas fecham; pessoas são demitidas; os bancos cobram mais juros em empréstimos após um golpe dessa dimensão”, diz.

Para o professor, as empresas menores são incapazes de se defender de crises do sistema financeiro —seus gestores não têm tempo para considerar esses desastres. “É essencial ter um regulador muito forte e proativo que identifique e previna as fraudes e aplique punições muito severas.”

No caso da Americanas, autoridades ainda não chegaram a uma lista de culpados pelo rombo de quase R$ 42,5 bilhões. A CPI (comissão parlamentar de inquérito) instaurada para investigar o caso disse apenas que as provas indicaram a participação de ex-executivos e ex-diretores.

A CPI deixou como legado quatro propostas de leis contra corrupção corporativa.

Uma delas cria o crime da infidelidade patrimonial, definido como o abuso dos poderes de administração de um patrimônio alheio, com o fim de obter vantagem mediante infração do dever de salvaguarda, causando prejuízo ao patrimônio administrado.

Pelos indícios disponíveis, essa descrição se enquadra no que ocorreu na Americanas, mas, por enquanto, não há crime nem culpado.

Com perseguição judicial, Arévalo prestes a assumir Presidência da Guatemala

O social-democrata Bernardo Arévalo deve assumir a Presidência da Guatemala no próximo domingo (14/1), depois de enfrentar uma perseguição judicial implacável, a qual atribui à sua promessa de resgatar a frágil democracia da Guatemala da elite corrupta que, segundo ele, se mantém no poder.

Este ex-diplomata e sociólogo, de 65 anos, que denunciou essa ofensiva como uma tentativa de “golpe de Estado”, será empossado no Teatro Nacional Miguel Ángel Astúrias, em sessão solene de um Congresso que lhe será adverso.

Desde que passou para o segundo turno, em junho, contrariando todas as previsões, conseguiu se desviar das tentativas do Ministério Público de suspender sua imunidade e anular o resultado eleitoral, mas deve enfrentar a suspensão de seu partido, Semilla, e o risco de que seus deputados tenham pouca margem de manobra.

Apoiado por Estados Unidos, União Europeia, pelos países latino-americanos e por organizações internacionais, Arévalo substituirá o direitista Alejandro Giammattei, a quem seus apoiadores acusam de apoiar a procuradora-geral Consuelo Porras, ponta de lança da investida judicial.

A tarefa será imensa. “Ele governará coexistindo com a procuradora que o atacou e afetou a democracia em níveis inimagináveis”, disse à AFP Edie Cux, diretora da Acción Ciudadana, versão local da Transparência Internacional.

Arévalo criou enormes expectativas em uma sociedade farta da corrupção, atormentada pela violência das gangues e pelo tráfico de drogas, e onde seis em cada dez guatemaltecos vivem na pobreza.

“É, sem dúvida, uma enorme responsabilidade. Mas as pessoas sabem que não é uma tarefa que se resolve da noite para o dia”, comentou Arévalo em entrevista à AFP no final de dezembro.

Filho do primeiro presidente democrático da Guatemala, Juan José Arévalo (1945-1951), gestor de reformas sociais, o futuro governante prometeu fechar a torneira do dinheiro público que enriqueceu as elites, enquanto a população sofre dificuldades.

Uma em cada duas crianças com menos de cinco anos sofre de desnutrição e o analfabetismo chega a 18%. A maior economia da América Central expulsa dezenas de milhares de pessoas todos os anos, que saem em busca trabalho nos Estados Unidos, cujas remessas ajudam a sustentar o país (20% do PIB), segundo dados oficiais.

Mas para avançar socialmente, segundo Arévalo, a “luta sustentada e gradual” deve começar a resgatar instituições que ele diz terem sido “cooptadas” pelas “elites corruptas”, como o Ministério Público, o Congresso, os tribunais ou a Controladoria.

“É um problema sistêmico”, afirma ele.

Sua estratégia inclui a criação de uma comissão para propor reformas que impeçam o enriquecimento ilícito e o clientelismo político em uma Guatemala que ocupa o 30º lugar no ranking de corrupção da Transparência Internacional, entre 180 países.

“Ele tem uma tarefa muito importante e urgente de reconstruir a democracia” e alcançar a governabilidade, disse à AFP o ex-advogado de direitos humanos Jordán Rodas, exilado em Washington. Sua experiência na resolução de conflitos, diz Rodas, pode ajudar.

Arévalo também é filósofo, estudou em Israel e na Holanda e fala cinco línguas. Nasceu em Montevidéu e viveu sua infância na Venezuela, no México e no Chile, no exílio de seu pai após o golpe de Estado orquestrado por Washington contra o progressista Jacobo Árbenz (1951-1954).

Durante meses temeu-se que os ataques do Ministério Público, que chegou a invadir a sede do tribunal eleitoral e a confiscar cédulas de votação, impedissem Arévalo de assumir o poder.

Ao longo do caminho houve vários detidos e exilados, uma pilha de ações judiciais a favor e contra Arévalo, e uma bateria de sanções de Washington contra promotores, juízes, funcionários e cerca de 100 deputados a quem acusou de corrupção e de minar a democracia.

O Tribunal Constitucional exigiu garantias para a transição do poder e, ainda na quinta-feira, concedeu uma “proteção” à vice-presidente eleita, Karin Herrera, devido aos rumores de um mandado de prisão.

Arévalo afirma que uma das primeiras coisas que fará como presidente será pedir a renúncia de Porras. Mas os analistas alertam que a ofensiva contra ele está longe de acabar.

“Eles vão deixar o presidente em uma emboscada, no primeiro descuido vão querer suspender sua imunidade e destituí-lo”, afirmou à AFP Manfrendo Marroquín, cofundador da Acción Ciudadana.

Em seu percurso até a posse, Arévalo contou com o apoio decisivo dos jovens, muito ativos nas redes sociais, e dos indígenas, historicamente marginalizados e que representam 40% dos 17,8 milhões de guatemaltecos.

Dormindo ao ar livre, grupos de indígenas permaneceram em frente ao Ministério Público por mais de 100 dias para exigir a renúncia de Porras.

“Terá que responder às suas expectativas. Mas não se pode esperar que venha com uma varinha mágica”, disse Rodas.

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Kim Jong-un: 5 mistérios sobre líder norte-coreano, que estaria fazendo 40 anos

Kim Jong-un está completando 40 anos. Será verdade?

O Líder Supremo da Coreia do Norte faz aniversário, segundo se acredita, nesta segunda-feira, 8 de janeiro. Mas não há tanto consenso sobre o ano do seu nascimento.

E esse não é o único mistério sobre Kim.

Confira abaixo cinco perguntas ainda sem respostas sobre o líder norte-coreano, que chegou ao poder em 2011.

1. Quando Kim Jong-un nasceu?

Na verdade, não sabemos com certeza.

“Existem muitas discussões sobre o ano em que ele nasceu — se foi em 1982, 1983 ou 1984”, diz à BBC Edward Howell, o professor de política da Universidade de Oxford, na Inglaterra, e especialista em Coreia do Norte.

Seu suposto aniversário em 8 de janeiro é um dia normal de trabalho no país comunista.

Já o aniversário do seu pai, Kim Jong-il (1941-2011), é celebrado todos os anos no dia 16 de fevereiro, como o “Dia da Estrela Brilhante”.

E o aniversário do seu avô, Kim Il-sung (1912-1994), considerado o fundador da Coreia do Norte, é comemorado como o Dia do Sol, em 15 de abril.

Mas existem muitos detalhes sobre sua família ainda cercado de grandes mistérios.

Segundo Howell, Kim tem meios-irmãos.

Um deles, Kim Jong-nam (1971-2017), foi assassinado na Malásia em 2017.

Acredita-se que o pai de Kim Jong-un tenha tido pelo menos quatro cônjuges diferentes, mas seus relacionamentos eram mantidos longe dos holofotes públicos.

Acredita-se também que sua mãe, Ko Yong-hui (1952-2004), tenha nascido no Japão e chegado à Coreia do Norte nos anos 1960, para trabalhar como dançarina.

Rumores dizem que ela teria sido a consorte favorita de Kim Jong-il.

Em 2018, foram encontradas fotos de Ko Yong-hui durante sua visita ao Japão em 1973.

Mas, segundo o jornal sul-coreano The Korea Times, a Coreia do Norte não deu muito destaque a Ko devido ao seu passado como dançarina e à sua origem japonesa.

“Por ter nascido no Japão, que havia ocupado a península coreana durante a Segunda Guerra Mundial, ela normalmente teria sido relegada a uma classe social mais baixa”, explica Howell.

“Mas, como se casou com Kim Jong-il, teve uma vida luxuosa”, acrescenta o especialista.

2. Quem é a esposa de Kim Jong-un?

Também não temos certeza. Sabemos que ele tem uma esposa, Ri Sol-ju, mas não se sabe ao certo quando eles se casaram. Especula-se que o casamento pode ter ocorrido em 2009.

Também pouco se sabe sobre a “Camarada Ri Sol-ju”.

Seria ela uma antiga cantora que chamou a atenção de Kim durante uma performance?

Afinal, existe uma artista norte-coreana com o seu nome, mas nunca foi confirmado oficialmente que se trata da mesma pessoa.

Segundo informações atribuídas à inteligência sul-coreana, Ri Sol-ju visitou a Coreia do Sul durante o Campeonato Asiático de Atletismo de 2005, como parte da equipe de líderes de torcida da Coreia do Norte — e estudou canto na China.

A Coreia do Norte não dá nenhum detalhe sobre Ri Sol-ju, limitando-se a afirmar que ela é apenas a esposa de Kim Jong-un.

3. Quantos filhos Kim Jong-un tem?

Esse é mais um detalhe familiar difícil de ser determinado.

Em 2016, surgiram especulações de que Ri Sol-ju estaria grávida, quando ela desapareceu da cena pública.

Mas a gravidez nunca foi oficialmente confirmada.

Acredita-se que dois filhos anteriores tenham nascido em 2010 e 2013, mas não se sabe se algum deles é menino — o que faria dele um potencial sucessor de Kim.

Na verdade, sabemos pouco sobre as crianças.

Kim Jong-un tem comparecido em público com uma filha, Kim Ju-ae.

Acredita-se que ela seja a segunda filha mais velha do líder norte-coreano e teria 10 anos.

Ela é a mais conhecida publicamente, já que fez pelo menos cinco aparições públicas em 2023.

“Ainda não conhecemos toda a história dos seus filhos”, conta Howell.

“Ele (Kim Jong-un) tem outros filhos, mas sabemos muito pouco sobre eles. Não sabemos quem são suas mães.”

Howell relembra que foi o antigo astro do basquete americano Dennis Rodman, um improvável amigo próximo de Kim Jong-un, quem revelou o nome da filha do líder norte-coreano, em uma entrevista em 2013.

Diferentemente de muitos analistas (e da própria agência de inteligência da Coreia do Sul), Howell diz não acreditar que Kim Ju-ae esteja sendo preparada para ser a próxima Líder Suprema da Coreia do Norte.

Ela ainda é jovem e a influente irmã de Kim Jong-un, Kim Yo-jong, tem mais experiência e melhores conexões com a elite do país.

Esses fatores podem fazer com que ela seja a candidata mais provável à sucessão do seu irmão.

Howell acredita que “o líder norte-coreano tem sido visto com sua jovem filha em lançamentos de mísseis, banquetes ou jogos de futebol porque ele quer ser visto como um líder benevolente e homem de família”.

4. Como Kim Jong-un consegue viver com luxo se o país é tão pobre?

Há anos, a Coreia do Norte e seu líder enfrentam fortes sanções impostas pelas Nações Unidas e por países ocidentais, devido ao desenvolvimento de armas nucleares e mísseis balísticos pelo país.

Mas Howell afirma que Kim Jong-un faz tudo o que pode para se esquivar das sanções.

“O país tem um fundo secreto especificamente criado para uso pelo regime”, detalha o professor.

“Kim quer mantê-lo porque deseja que ele e sua família continuem tendo uma vida de luxo.”

Howell diz que existam redes de países em todo o mundo dispostos a fornecer dinheiro para a Coreia do Norte.

E há quem afirme que o país também pode receber fundos de outras maneiras.

“As pessoas costumam pensar que a Coreia do Norte é um país isolado que não tem internet. Ela tem internet estatal e a guerra cibernética se tornou uma estratégia importante (no xadrez geopolítico mundial)”, afirma Howell.

“O regime de Kim faz ataques cibernéticos contra sistemas de computador de outros países para roubar dinheiro e levar a cabo sua economia e seu programa nuclear.”

5. Kim Jong-un se preocupa com seu povo?

Um discurso durante uma parada militar em 2020 mostrou um lado diferente do Líder Supremo da Coreia do Norte.

Kim agradeceu às suas tropas pelos esforços contra a pandemia e em desastres naturais recentes.

E, em dado momento, ele enxugou as lágrimas enquanto falava sobre as dificuldades do país.

Foi uma rara demonstração de emoção de um líder norte-coreano.

Alguns observadores indicaram que ele poderia estar tentando mostrar humildade, enquanto o país enfrenta uma crise econômica crescente.

Mas um exame da vida extravagante do líder da Coreia do Norte indica o contrário.

Kim Jong-un mantém a tradição — iniciada por seu avô, Kim Il-sung — de viajar longas distâncias em trens luxuosos.

O comandante militar russo Konstantin Pulikovsky, que acompanhou Kim Jong-il em sua viagem à Rússia em 2001, comentou a opulência do trem no seu livro de memórias, intitulado Orient Express.

“Era possível pedir qualquer prato da cozinha russa, chinesa, coreana, japonesa e francesa”, escreveu ele.

Lagostas vivas e vinhos finos franceses de Bordeaux e da Borgonha também eram importados de Paris.

Essas e outras formas de transporte luxuosas, incluindo aviões particulares, representam forte contraste com a vida empobrecida do povo norte-coreano.

Norte-coreanos entrevistados pela BBC afirmam que a escassez de alimentos no país é tão grande que seus vizinhos morreram de fome.

Segundo especialistas, a situação atual é a pior desde os anos 1990.

O que isso diz sobre as prioridades de Kim Jong-un?

Para Edward Howell, “ele quer simplesmente preservar não só o regime, mas sua própria liderança tirânica e opressiva. Ele não parece se preocupar com os 26 milhões de habitantes do seu país.”

“Será que ele acha que esta é uma estratégia viável para seguir adiante?”

Distância entre dólar financeiro e oficial na Argentina aumenta nos primeiros dias de Milei

O dólar CCL (Contado con Liqui), um dos mais utilizados em operações no mercado financeiro argentino, atingiu a maior distância ante o câmbio oficial desde a desvalorização do peso feita logo após a posse de Javier Milei.

Nesta sexta-feira (5), o CCL era negociado acima de 1.140 pesos, um patamar superior aos 1.110 registrados em 20 de outubro, último dia útil antes do primeiro turno das eleições presidenciais.

A alta em relação ao fechamento de quinta-feira (4) é de 4,9%, e o valor de 1.140 é 41% mais alto do que o dólar oficial.

Em 13 de dezembro, já com o novo governo e com a desvalorização do dólar oficial, o CCL estava em 1.012 pesos (26,5% maior).

O dólar CCL é uma das principais taxas de câmbio financeiras do país, juntamente com o dólar MEP (Mercado de Pagamentos Eletrônicos).

O CCL é uma ferramenta que permite que os pesos sejam trocados por dólares no exterior, o que o torna a principal forma de muitas empresas e investidores comprarem moeda estrangeira, enquanto o MEP é voltado para o mercado argentino.

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A operação consiste na compra e venda de ações ou títulos de dívida em pesos cotados no país e em outro mercado estrangeiro.

Com a redução da demanda pela divisa argentina ocorrendo antes do esperado pelos analistas, os investidores têm buscado se proteger da inflação por meio da compra da moeda norte-americana, um movimento que acaba ampliando a diferença em relação ao dólar oficial. O CCL está em sua quarta alta consecutiva.

Já o dólar livre, ou “blue”, estava cotado a 1.025 pesos. O “blue” é a cotação de dólar mais utilizada na Argentina. Apesar de ser clandestina, ela é a referência para a economia local, e não o “dólar oficial”, cuja cotação é controlada pelo BCRA (Banco Central da República Argentina). O MEP era cotado a 1.104 pesos.

Logo que assumiu a Presidência, Milei implementou uma forte desvalorização do peso argentino e revogou controles de preços, o que provocou uma série de reajustes.

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Em dezembro, o FMI (Fundo Monetário Internacional) elogiou as medidas econômicas “ousadas” anunciadas pelo ministro da Economia argentino, Luis Caputo, que, além da forte desvalorização do peso, incluía cortes nos gastos do Estado.

O governo suspendeu obras públicas, reduziu o repasse às províncias e aumentou impostos temporariamente.

“Uma implementação decisiva ajudará a estabilizar a economia e a estabelecer as bases para um crescimento mais sustentável e liderado pelo setor privado”, disse em comunicado o FMI, que tem um empréstimo de US$ 44 bilhões (R$ 215,1 bilhões) com o país vizinho.

A partir desta sexta-feira, a equipe econômica terá uma série de reuniões com representantes do fundo. Essa é a primeira visita de altos representantes do FMI desde 2020, e o objetivo é tratar da dívida do país.

De acordo com a imprensa argentina, técnicos do vice-diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI, Luis Cubeddu, vão se reunir com funcionários do Banco Central. Ao longo do fim de semana, também estão previstas reuniões com integrantes do Ministério da Economia.

O encontro oficial com o ministro da Economia, Luis Caputo, e o chefe de Gabinete do governo, Nicolás Posse, está marcado para a próxima segunda-feira (8).

O governo argentino quer retomar negociações com o FMI para desbloquear de imediato um desembolso que permita o pagamento de US$ 2 bilhões (R$ 9,8 bilhões) de vencimentos previstos para janeiro. A Casa Rosada também deve tentar uma nova revisão do acordo.

Os vizinhos enfrentam uma crise econômica severa, com uma inflação que caminha para os 200%, falta de reservas em moeda estrangeira e elevação da pobreza.

A intenção é sinalizar aos credores que o novo governo está disposto a cumprir as principais metas acordadas com o FMI —de controle fiscal e de emissão monetária e acumulação de reservas—, além de melhorar a relação do país com o fundo em relação ao governo passado, de Alberto Fernández.

O governo espera levantar US$ 3,2 bilhões (R$ 15,72 bilhões) em moeda forte para pagar dívida por meio de uma emissão de títulos de dez anos para o BC, de acordo com decreto publicado no Diário Oficial do país.

Nesta sexta, o ex-ministro do governo anterior e responsável pela renegociação da dívida, Martín Guzmán, quebrou o silêncio que vinha mantendo ao longo da campanha de 2023 e fez duras críticas a Milei.

Em entrevista à emissora Radio con Vos, o economista disse que o governo já começou a dolarizar a economia via emissão de títulos em moeda norte-americana, e afirmou que este é o único plano do presidente.

“Há um conjunto de operações para converter o passivo remunerado do Banco Central em pesos em um passivo em dólar. Acredito que o governo já começou a dolarizar a economia, e nada seria tão grave para a Argentina”, disse.

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Milei quer poderes autoritários e fazer em um mês reformas que Brasil fez em três décadas

Por alguns meses, discutiu-se qual seria o plano econômico de Javier Milei para a Argentina. No limite, um grande problema de seu programa seriam enormidades tais como acabar com o Banco Central e a dolarização. Milei ainda diz que esses dois objetivos são o ponto final de sua administração. Mas isso que pareciam duas reviravoltas terminais parecem mais abstrações perdidas na névoa do futuro. A revolução de Milei é agora.

Não há ainda ou propriamente um plano econômico, nem mesmo um projeto de dar cabo do déficit do governo, um objetivo central. Existe é um plano de virar o país do avesso de tal modo que essa Argentina refeita quase por decreto terá estabilidade de preços, ganhos de produtividade e crescimento duradouro. Não há plano de implementação progressiva, articulado com a sociedade, metas, mudanças institucionais que fundamentem o próximo passo, nada disso. A ideia é explodir esta Argentina de fato decrépita e esperar que, quando os seus pedaços voltarem ao chão, todos se encaixem, de modo novo e funcional.

Milei quer mudar os códigos legais, desregulamentar a economia inteira, privatizar tudo, mudar a lei trabalhista, limitando o direito de greve, limitar o direito de reunião e manifestação, fazer com que o “acordado” possa se sobrepor ao legislado pelos códigos civis e comerciais, quer fazer uma reforma previdenciária, alterar o código penal. Quer colocar na lei a figura de emergências econômicas, sociais, fiscais e tributárias, o que, mais ou menos, em cada caso, permitiriam a Milei governar por decreto (sim, até com impostos).

Páginas de jornal seriam insuficientes para descrever o tamanho da mudança, exigida por centenas de artigos de um decretaço e um projeto de lei abrangente (“omnibus”). O decretaço tem de ser aprovado ou rejeitado na íntegra. Milei quer ainda a aprovação integral, em regime de urgência, da “Lei de Bases e Pontos de Partida para a Liberdade dos Argentinos” —até o fim de janeiro. Seus ministros dizem que o presidente recebeu um mandato das urnas para mudar, que a ideia de reviravolta estava explícita na campanha. Portanto, o Congresso vai ter de engolir os pacotões.

Recorde-se que, mesmo com aliados, o governo tem por ora um quarto dos deputados; que a Justiça começa a barrar o decretaço, que a maioria dos deputados o considera ilegal, assim como acham que partes da lei “omnibus” é inconstitucional.

Os dois pacotões de Milei contêm reformas que foram feitas ao longo de décadas no Brasil, a começar de 1985, com a redemocratização, como a que deu cabo do financiamento do governo pelo Banco Central e a criação do Tesouro. Mas na linguiça do pacote estão moídas e embutidas reformas à moda de Collor, da liberalização comedida de FHC, das mudanças de Michel Temer e muito mais.

Sim, a Argentina padece de intervenções econômicas muito erradas, alopradas, clientelistas, corruptas. Não tem moeda nem mercado de dívida pública. País e governo não têm crédito. O governo não tem como pagar a dívida externa. Precisa de mudanças radicais e rápidas. Na versão de Milei, isso quer dizer revolução, com poderes de exceção típicos de revoluções.

O Chile do genocida, assassino, falsário e ladrão Pinochet fez tal coisa, mas levou mais tempo, teve tentativa e erro e tinha o poder de matar muita gente e de desmandar sem limite por tempo então que parecia também ilimitado.

Haverá inflação, redução brutal de salários, aposentadorias e benefícios sociais, mexida profunda em interesses, bons e maus. Diz-se que a Argentina tem tradição grande de protesto social. Em tese, pois, ficaria revoltada com a mera lista de dores causada por um plano qualquer de estabilização. O que fará diante desse plano de revolução?

Deputado do PP ganha aval para viabilizar candidatura a prefeito do Rio

O deputado federal Marcelo Queiroz (PP-RJ) ganhou aval do senador Ciro Nogueira (PI), presidente nacional do PP, para tentar viabilizar seu nome para disputar a Prefeitura do Rio de Janeiro.

Queiroz busca espaço após o líder do PP na Câmara, Dr. Luizinho, sinalizar ter desistido da candidatura, que era estimulada pelo governador Cláudio Castro (PL).

O deputado tem argumentado internamente ser importante o PP ter um nome próprio para a disputa. Ele foi o mais votado da sigla na capital na eleição do ano passado para a Câmara.

Queiroz foi secretário municipal no segundo mandato de Eduardo Paes (PSD) na prefeitura, bem como do governo Marcelo Crivella (Republicanos). Ele também comandou uma pasta no governo estadual entre 2019 e 2022, durante as gestões de Wilson Witzel e Cláudio Castro (PL-RJ).

A equipe do governador prefere ter Queiroz como vice do deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), escolhido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como o nome de seu campo político para a disputa. O deputado, porém, avalia ter espaço para uma oposição a Paes com bandeira mais municipal e menos nacional.

Como reforma tributária deve impulsionar economia mesmo com potencial de criar ‘maior IVA do mundo’

Após intensas negociações, o Congresso Nacional aprovou nesta sexta-feira (15/12) a reforma tributária, conjunto de mudanças que busca simplificar a arrecadação de impostos no país, unificando tributos que hoje são cobrados sobre a produção e a comercialização de produtos e serviços.

A aprovação é considerada um feito histórico por políticos e economistas. Por ser tratar de uma ampla mudança que impacta muitos setores econômicos e a arrecadação de União, Estados e municípios, a reforma levou décadas em debate até se conseguir chegar a um consenso.

A unificação dos impostos não entra automaticamente em vigor, no entanto. Ainda será preciso o Congresso regulamentar detalhes do novo sistema, além de um período de teste e transição para calibrar o novo imposto que será criado.

Após esse processo, o Brasil passará a ter um Imposto sobre Valor Adicionado (IVA), modelo usado na maioria dos países e em quase todos os desenvolvidos. A expectativa é que ele esteja plenamente em funcionamento em 2033.

No caso brasileiro, o IVA terá dois componentes: a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), que substituirá três impostos federais (IPI, PIS e COFINS), e o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), que unificará ICMS (estadual) e ISS (municipal).

A futura alíquota do novo imposto, porém, é alvo de questionamentos. Críticos da reforma dizem que o IVA brasileiro vai elevar a carga tributária e citam projeções de economistas indicando que a alíquota pode chegar a 28%, a maior do mundo.

“É inaceitável uma reforma tributária que nos impõe o maior IVA do mundo, ameaça investimentos, competitividade, e pressiona custos que recairão sobre todos nós!”, criticou na rede social X o senador Rogério Marinho (PL-RN), ex-ministro de Desenvolvimento Regional do governo de Jair Bolsonaro (PL), em novembro, quando a reforma estava em debate no Senado.

Embora ainda não seja possível cravar qual será a alíquota do IVA brasileiro, defensores da reforma reconhecem que será alta para padrões internacionais. No entanto, ressaltam que isso reflete o fato de o Brasil ter uma grande parte da sua arrecadação sobre produção e consumo – diferentemente de outros países com IVA menor que arrecadam mais sobre renda e propriedade.

A ideia, destacam os apoiadores da mudança, é que o novo IVA arrecade exatamente o que hoje os cinco impostos (IPI, PIS, COFINS, ICMS, ISS) rendem às três esferas do poder público, sem, portanto, elevar a carga tributária atual.

O objetivo de manter a mesma arrecadação é não desfalcar o caixa dos governos, já que esse dinheiro é usado para bancar serviços públicos, como escolas, hospitais e o funcionamento das polícias.

Entusiastas da reforma dizem que a reorganização e a simplificação do sistema com a unificação dos impostos terão o efeito de impulsionar o crescimento e ampliar o poder de compra da população (entenda melhor ao longo da reportagem).

“A reforma vai ser neutra em termos de não diminuir a arrecadação e não aumentar a carga tributária. Então, sendo neutra, isso quer dizer que os novos tributos (IBS e CBS) têm que arrecadar exatamente a mesma coisa que arrecadam hoje”, sintetiza a especialista em questões tributárias Melina Rocha, diretora de cursos na York University, no Canadá.

“Como a futura alíquota será correspondente à carga tributária de hoje, então o Brasil já tem esse maior IVA do mundo. Só que o novo sistema trará muito mais transparência”, defende.

Melina explica ainda que a alíquota base do IVA também ficará mais alta no Brasil devido aos descontos dados na reforma a alguns setores.

Serviços de saúde e educação, por exemplo, pagarão um IVA equivalente a 40% da alíquota cheia. Já a cesta básica terá alguns itens com isenção total (não pagarão IVA) e alguns itens com alíquota reduzida (40% da alíquota cheia).

Ou seja, para que alguns produtos e serviços tenham imposto menor, a alíquota padrão capaz de garantir a mesma carga tributária de hoje precisa ser maior.

Qual será o IVA brasileiro? E como é no mundo?

Segundo projeções preliminares do Ministério da Fazenda, o novo imposto brasileiro pode ficar entre 25,45% e 27%, mas esse cálculo será revisto, pois foi realizado antes de o Congresso realizar algumas alterações no texto que podem elevar a alíquota final.

Já uma projeção do pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) João Maria Oliveira, também anterior a essas alterações, calculou que o IVA brasileiro poderia chegar a 28,4%.

Hoje, o maior IVA do mundo é o da Hungria (27%). Os países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) têm alíquota média de 19,2%. Dos 38 integrantes da organização, formada principalmente por países ricos, apenas os Estados Unidos não adotam o IVA.

Para Melina Rocha, porém, não faz sentido comparar o IVA de diferentes países sem levar em conta o sistema tributário de cada um deles como um todo.

“Não dá para comparar a alíquota nominal padrão de um país com outro, justamente porque esses outros países, que têm uma alíquota menor do IVA, têm uma alíquota muito maior sobre renda”, argumenta.

Segundo um relatório da Receita Federal com dados de 2020, a carga tributária média dos países da OCDE estava em de 33,5% do Produto Interno Bruto (PIB) naquele ano, enquanto a brasileira era de 30,9% do PIB.

Já ao analisar o tipo de tributo, os dados mostram que a carga tributária sobre renda no Brasil era de 6,9% do PIB, contra 10,6% na média da OCDE.

No caso da tributação sobre bens e consumos, o cenário se inverte: a carga brasileira estava em 13,5% do PIB, contra 10,8% na média da OCDE.

Vale explicar que o PIB é o cálculo de riqueza produzida pelo país em um determinado espaço de tempo. Quando se calcula a carga tributária em proporção ao PIB, basicamente se está analisando o tamanho da arrecadação no ano em relação à riqueza gerada no país no mesmo ano.

Como IVA pode impulsionar a economia?

Estimativas preliminares de diferentes economistas têm apontado forte potencial de crescimento da economia a partir de ganhos de produtividade devido à simplificação tributária trazida pelo IVA.

Uma projeção feita em 2020 por Bráulio Borges, economista-sênior da LCA Consultores e pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV), estimou que a adoção do IVA poderia elevar o PIB potencial brasileiro em 20% em 15 anos.

Já as simulações dos economistas Edson Domingues e Débora Freire Cardoso, professores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), projetaram um ganho um pouco menor, de 12% no mesmo período.

“[O Brasil tem um] Sistema bastante distorcido e complexo”, nota o economista Manoel Pires, também pesquisador da FGV, em um artigo recente sobre a reforma tributária.

“Existem impostos que se diferenciam por produto, várias alíquotas por região, legislações que se multiplicam, obrigações acessórias e elevado custo de conformidade que aumentam custos e conduzem a decisões econômicas ineficientes”, continua, ao abordar os efeitos negativos do sistema atual.

No artigo, Pires cita estudos que mostram impactos positivos da adoção do IVA em países como Canadá e China, como aumento de investimentos, vendas, geração de empregos e produtividade.

Segundo Pires, esses efeitos positivos têm relação com a simplicidade do sistema e com o fato do IVA gerar créditos tributários ao longo da cadeia de produção, evitando o acúmulo de taxação.

Ou seja, quando uma empresa compra um insumo de outra, o IVA incide sobre essa operação, mas, depois, essa empresa pode descontar o que pagou na compra do insumo do IVA que será pago na venda do seu produto. Esses descontos são o que se chama de créditos tributários.

O sistema brasileiro hoje também tem geração de crédito tributários em algumas operações, mas a complexidade do sistema gera distorções e disputas jurídicas.

“[A adoção do IVA] Desonera a cadeia produtiva acabando com a cumulatividade”, diz Pires no artigo.

Outro efeito positivo, afirma o pesquisador, é o IVA incidir sobre o consumo final.

“[A adoção do IVA] Desloca a tributação da produção para o consumo, desonerando investimentos e exportações, aumentando a competitividade da economia”, reforça Pires.

Estudos mostram ainda que a reforma tributária deve aumentar o poder de consumo da população, em especial dos mais pobres. Isso porque a proposta em tramitação no Congresso prevê a criação de um sistema de cashback (devolução de impostos) para os brasileiros de menor renda, algo que já é adotado em outros países que usam o IVA, como Uruguai, Colômbia e Canadá.

Melina Rocha ressalta, porém, que os ganhos esperados com a implementação da reforma tributária levarão tempo.

“Há estudos que estimam aumento do crescimento econômico e da renda da população, mas isso não vai ocorrer de imediato porque o novo sistema só vai ser implementado completamente em 2033 por conta do período de transição”, ressalta.

Fase de testes definirá a alíquota do IVA brasileiro

Não é possível ainda dizer com certeza qual será a alíquota do IVA brasileiro porque isso dependerá da regulamentação da reforma e também de elementos práticos como possíveis perdas por sonegação.

Por isso a projeção inicial da Fazenda estimou um possível intervalo, entre 25,45% e 27%.

Para se calcular qual será a exatamente a alíquota, haverá uma fase de testes em 2026, em que será cobrado um CBS (IVA federal) de 0,9% e um CBS (IVA estadual) de 0,1%.

Nesse momento, os outros cinco impostos continuarão em vigor, mas haverá desconto do que for arrecadado com o testo do CBS e do IBS, para não haver uma dupla tributação.

A partir do que for arrecadado com essas alíquotas reduzidas na fase de testes, será possível calibrar qual será a alíquota do novo imposto.

Mas ainda haverá uma fase de transição em que o IVA brasileiro será implementado gradualmente no lugar dos atuais impostos, até entrar totalmente em vigor em 2033.

Essequibo: Venezuela e Guiana prometem não fazer uso de força e marcam reunião no Brasil

Os presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro, e da Guiana, Mohamed Irfaan Ali, prometeram não fazer ameaças e nem o uso de força de um país contra o outro em meio às tensões em torno da região de Essequibo, uma área disputada pelos dois países há mais de 150 anos.

A promessa consta da declaração final de um encontro realizado pelos dois em São Vicente e Granadinas nesta quinta-feira (14/12). Na declaração, os dois presidentes também se comprometem a diminuir as tensões entre as nações e acordaram continuar a debater o assunto em uma reunião no Brasil daqui a três meses.

A reunião entre os dois foi convocada pela Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e contou com a presença de observadores da Organização das Nações Unidas (ONU) e de países como o Brasil. O enviado do governo brasileiro ao encontro foi o assessor especial da Presidência da República pra assuntos internacionais, Celso Amorim.

O encontro entre as delegações da Guiana e da Venezuela começou no final da manhã e a declaração final só foi divulgada por volta das 22h (horário de Brasília).

No texto de três páginas, os dois países se comprometeram a:

O encontro entre Maduro e Irfaan Ali foi o episódio mais recente da escalada de tensões entre os dois países em função da disputa sobre Essequibo.

Após a reunião, Nicolás Maduro comemorou o resultado do encontro.

“Excelente dia de diálogo! […] Conseguimos”, disse o presidente venezuelano em rede social.

Irfaan Ali também se manifestou em suas redes após o encontro.

“Gostaria de agradecer à nossa equipe técnica, incluindo todos os agentes estatais, advogados, diplomatas e especialistas nacionais, regionais e internacionais que nos apoiaram com sua experiência no desafio de hoje”, disse o presidente guianense.

Mais cedo, durante uma entrevista coletiva, o presidente da Guiana disse que havia deixado claro a Maduro que sua posição era de que a questão fosse resolvida pela Corte Internacional de Justiça (CIJ), vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU).

“Não há, absolutamente, nenhum recuo da Guiana em assegurar que esse assunto seja determinado pela CIJ e que o resultado desse caso seja respeitado por todos”, afirmou.

Antes da reunião, Maduro postou em suas redes sociais que havia chegado a São Vicente e Granadinas para defender os direitos da Venezuela.

“Chegamos a São Vicente e Granadinas com o mandato do povo da Venezuela para avançar mediante o diálogo e a palavra de paz, defendendo os direitos do povo e da nossa pátria”, publicou Maduro no X (antigo Twitter).

Origem da disputa

A controvérsia sobre Essequibo tem mais de 150 anos. A região tem 160 km², maior que o Estado do Ceará ou que todo o território da Inglaterra. A área equivale a dois terços do território da Guiana.

No século 19, a Venezuela e o Reino Unido disputaram as fronteiras entre o país sul-americano e a então chamada Guiana Inglesa.

O assunto foi submetido a uma arbitragem internacional e, em 1899, a Sentença Arbitral de Paris decidiu a favor do Reino Unido. As fronteiras atuais da Guiana foram definidas nesta sentença.

Mas em 1949, documentos desse processo foram divulgados e a Venezuela passou a alegar que o processo de arbitragem não teria sido imparcial.

Desde então, o país sustentou que a arbitragem que definiu as fronteiras da Venezuela com a Guiana deve ser considerada nula e sem valor.

Em 1966, quando a Guiana se tornou independente, a Venezuela e o Reino Unido assinaram um acordo que reconheceu a reivindicação venezuelana e que dizia que os países buscariam soluções para resolver a disputa de forma pacífica — mas a área continuou a ser ocupada e administrada pela Guiana.

Esta controvérsia foi revivida por Nicolás Maduro nos últimos anos após a descoberta de reservas de petróleo potencialmente gigantes na costa de Essequibo.

Foram descobertas pelo menos 11 bilhões de barris de petróleo. O início da exploração petrolífera na região vem fazendo com que o produto interno bruto (PIB) da Guiana cresça em velocidade acelerada.

Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o PIB cresceu 62% no ano passado e deverá chegar a 37% este ano.

Escalada de tensões

As tensões em torno de Essequibo aumentaram nas últimas semanas. Em 3 de dezembro, a Venezuela realizou um referendo sobre a criação de um Estado venezuelano nesta área de disputa e o voto “sim” ganhou por uma grande maioria, de acordo com as autoridades da Venezuela.

Apesar disso, há alegações de que a participação no referendo foi baixa.

Após o referendo, Nicolás Maduro anunciou o envio de uma lei para a criação de um estado venezuelano dentro do território de Essequibo e também determinou que a companhia estatal de petróleo do país, a PDVSA, criasse uma divisão especial para iniciar a pesquisa e exploração petrolífera na região, o que foi considerado uma afronta pelo governo da Guiana.

Em resposta, o presidente da Guiana vem afirmando que não abrirá mão da soberania do país.

Em entrevista exclusiva à BBC News Brasil e à BBC News Mundo (serviço em espanhol da BBC), Irfaan Ali disse que fará “o que for necessário” para se defender da Venezuela e não descartou a abertura de uma base militar norte-americana no país.

As tensões deixaram governos da região preocupados. No início do mês, o governo brasileiro anunciou que reforçou o número de tropas estacionadas na fronteira do país com Venezuela e Guiana, no Estado de Roraima.

A região é considerada estratégica no caso de uma tentativa de invasão militar da Venezuela sobre o território de Essequibo.

Na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ofereceu o Brasil e o Ministério das Relações Exteriores para mediar a crise.

Também na semana passada, os governos dos Estados Unidos e da Guiana anunciaram a realização de exercícios militares em território guianense.

Na ocasião, o secretário do Departamento de Estado norte-americano, Antony Blinken, conversou por telefone com Irfaan Ali.

Em nota divulgada pelo órgão, Blinken teria reiterado o apoio “inabalável” dos Estados Unidos à Guiana e defendido que a controvérsia sobre Essequibo fosse resolvida de maneira pacífica.

Inflação ultrapassa 160% em 12 meses e deve crescer com Milei

O governo de Alberto Fernández terminou na Argentina deixando como herança uma taxa de inflação de 160,9% em 12 meses, sendo novembro o mês que registrou o maior índice, com 12,8%. A taxa, porém, deve aumentar até o fim deste ano, principalmente após o pacote de medidas econômicas apresentadas na terça-feira, 12, pelo novo presidente Javier Milei, que provocou uma desvalorização de 55% no valor da moeda.

Os novos dados foram publicados nesta quinta-feira, 13, pelo Indec, o instituto de estatísticas do país. De janeiro a novembro, o país registrou uma variação de 148,2%, o que projeta um 2023 fechando com taxa próxima de 200%, a maior já registrada desde o fim da hiperinflação.

No anúncio das dez medidas econômicas do novo governo, o ministro da Economia, Luis Caputo, previu que o índice de dezembro poderia ser de 20% a 30% e alertou que virão meses difíceis para os argentinos.

O setor que registrou maior aumento foi o de Saúde, com 15,9%, impulsionado por um aumento no preço dos medicamenos, muito ocasionado por uma escassez de insumos de produção. Logo em seguida vem os alimentos e as bebidas não alcoólicas, com 15,7%, sendo que os maiores aumentos foram na água mineral, refrigerante, sucos, verduras e frutas. A comunicação vem em seguida, com 15,2%, devido a um aumento nos preços dos serviços de telefonia móvel e de internet.

A taxa não surpreende, pois já era um valor estimado por muitos economistas e consultoras. No dia a dia, os argentinos já sentiam os reflexos nas últimas semanas. Logo após o segundo turno das eleições presidenciais, chegou ao fim de maneira não-oficial o programa Preços Justos do então ministro e candidato Sergio Massa. O programa mantinha o preço dos alimentos artificialmente mais baixos para amenizar os efeitos da inflação.

O controle de preços chega oficialmente ao fim apenas no fim deste ano, mas desde as eleições os supermercados não recebiam listas atualizadas de controle de preços Com o fim do Preços Justo, muitos argentinos já relatavam uma piora nos preços, com artigos básicos da alimentação, como mate, saindo de 900 pesos para 1200.

As carnes também vinham aumentando e são previstas para registrar um aumento considerável. Sem o programa, fornecedores projetam um aumento de 20 a 25% nos alimentos como macarrão, farinha, pães e óleos.

Os setores que registraram menores variações em novembro foram moradia, água, eletricidade e combustíveis (7,1%) e Educação (8,3%). Muitos desses são serviços subsidiados pelo governo.

Toda essa situação, no entanto, não reflete os impactos da enorme desvalorização promovida por Milei ontem que promete explodir a inflação ainda mais. A aposta do governo é um plano de choque que implica a eliminação do déficit financeiro do país, ao redor de 5,2% do PIB, por meio de uma redução significativa das despesas e também do aumento dos impostos.

Com as medidas de Milei, a expectativa é de que a Argentina termine o ano com uma inflação próxima de 200%, muito maior do que a última antes da hiperinflação dos anos 1990. Em 1991, ano em que foi aplicada a conversibilidade de Carlos Meném, que equiparou o peso ao dólar, a Argentina registrava uma taxa acumulada do ano de 84%.

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BC deve reduzir hoje juro para o menor patamar desde março de 2022

O Banco Central deve anunciar nesta nesta quarta-feira o quarto corte seguido na taxa básica de juros, a Selic. Conforme expectativa majoritária do mercado e indicação da própria autoridade monetária, a queda será de 0,5 ponto percentual.

Com isso, a Selic vai de 12,25% para 11,75% ao ano, o menor patamar desde março de 2022, quando também estava em 11,75%.

Será a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) no ano de 2023. O comitê se reúne a cada 45 para decidir o rumo da taxa básica da economia.

Enquanto neste ano a Selic deve terminar em 11,75%, no ano seguinte, a expectativa de mercado aponta para uma taxa de 9,25%. Os números são do Boletim Focus, divulgado pelo próprio BC.

Governo quer mais

O patamar está longe do desejo do governo. No sábado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, avaliou que as medidas apresentadas ao Congresso para o ajuste fiscal e correções tributárias, aliadas à promulgação da Reforma Tributária sobre o consumo, criam um ambiente para “exigir” o corte da taxa básica de juros.

Nesta terça, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou um movimento de pressão ao chefe do Banco Central, Roberto Campos Neto, para a aceleração da queda da taxa básica de juros.

— Nós temos que mexer com o coração do presidente do Banco Central, ‘reduz um pouco o juro, que as pessoas estão querendo tomar dinheiro emprestado’. Os governadores podem ajudar, fazer pressão — disse, em cerimônia sobre o financiamento dos Bancos Públicos para investimentos nos estados.

Haddad, por sua vez, falou em “gordura” para cortar juros.

— A taxa de juros começou a cair poucos meses atrás e ainda temos gordura na política monetária e nossa taxa real está muito distante do segundo colocado (no mundo) — afirmou o ministro.

Sempre que questionado publicamente, Haddad nega cravar um número considerado ideal pela Fazenda, mas dá indicações. Também neste sábado, ele criticou, por exemplo, o fato de a Selic terminar o ano em 11,75%, quando a inflação está próxima de 4%.

Na última ata do Copom, que detalha a decisão sobre juro, os oito diretores e o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, “anteveem” cortes de 0,50 ponto percentual “nas próximas reuniões”. Eles também avaliam que esse “ritmo (é) apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”.

O corte está sinalizado para, pelo menos, duas reuniões à frente. Essa é a interpretação apresentada pelo próprio Campos Neto em palestra nesta última semana.

A taxa básica ficou estacionada em 13,75% de agosto de 2022 a agosto de 2023.

Fatores de risco

O Banco Central continua com a lupa para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação como risco. As pressões inflacionárias globais e inflação de serviços são alguns dos indicadores mensurados com atenção.

Ou seja, a depender do cenário macroeconômico, a autarquia monetária pode acelerar ou diminuir o ritmo de corte da Selic.

Com impulso nos preços alimentos e passagens aéreas, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15 ) acelerou para 0,33% em novembro, conforme dados do IBGE .

Milei: Nenhum governo recebeu situação pior que essa que estamos recebendo

O presidente da Argentina, Javier Milei, afirmou em seu discurso de posse que “nenhum governo recebeu uma situação do que estamos recebendo”, mencionando que o kirchnerismo no começo dizia ter superávits recordes e hoje deixa déficits de 17% do PIB. “Ao mesmo tempo, desses 17% do PIB, 15% correspondem ao déficit consolidado entre o Tesouro e o Banco Central, portanto não há solução viável sem que ataque déficit fiscal”, afirmou.

Milei disse que a Argentina fará um ajuste fiscal de 5% do PIB que, diferentemente do passado, cairá sobre o Estado, e não sobre o setor privado.

O recém-empossado presidente disse ainda que a troca cambial, outra herança do governo, constitui um “pesadelo social e produtivo, porque implica altas taxas de juros, baixo nível de atividade, pouco emprego formal, e salários miseráveis que impulsionam o aumento de pobres indigentes”.

Outra herança do governo anterior, segundo Milei, foi uma inflação a níveis de 15.000% ao ano, cujo combate deve ser “prioridade máxima”, para “evitar uma catástrofe que levaria a pobreza acima de 90% e a indigência acima de 50%, portanto não há solução alternativa para o ajuste fiscal”.

Milei afirmou que “haverá inflação, mas não é algo diferente do que aconteceu nos últimos 12 anos”. Segundo ele, o PIB per capta caiu 15% nos últimos 12 anos, em um contexto em que se acumulou 5.000% de inflação na Argentina. “Portanto, há mais de uma década vivemos com essa inflação. Portanto esse é o último momento ruim para começarmos com a reconstrução da Argentina”, acrescenta o chefe do Executivo.

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Busca por austeridade abre caminho para autoritarismo, diz economista italiana

A busca pela austeridade não é uma forma inevitável de conduzir uma economia em crise, mas sim um projeto político que subjuga trabalhadores pelo mundo e abre caminho para projetos de poder para governos autoritários.

É o que defende Clara Mattei, economista, professora da The New School for Social Research, e autora do livro A ordem do capital: como economistas inventaram a austeridade e abriram caminho para o fascismo (Boitempo Editorial, 2023).

A austeridade é um conjunto de políticas econômicas que visam reduzir os déficits nos orçamentos públicos, por meio de cortes de gastos ou aumento de impostos.

“A ideia da minha pesquisa é apresentar a austeridade não como um caminho inevitável para consertar a economia, mas como um projeto político, e entender como esse projeto influencia a direção para onde os recursos públicos vão, saindo das pessoas comuns em favor de uma elite, que faz com que sua renda não seja baseada em salários, mas em capital”, diz.

“A austeridade não é uma correção de defeitos, mas, na verdade, é uma característica estrutural do capitalismo”, completa.

Considerado pelo jornal britânico Financial Times um dos melhores livros de 2022 (quando foi publicado em língua inglesa), a obra traça as origens da austeridade no período entre guerras na Europa, abrindo caminho para ditadores, como o fascista Benito Mussolini, na Itália.

Ela critica ainda a aliança moderna de economistas liberais e extremistas de direita, como Jair Bolsonaro (PL), no Brasil.

“Em momentos em que as pessoas estão muito perturbadas e não querem cumprir a ideologia da austeridade, ela tem que acontecer por meio de coerção política que é dada por um governo autoritário. Como a coerção econômica não é suficiente, você precisa de mais coerção política”, diz.

Em entrevista à BBC News Brasil, Mattei critica a opção brasileira de dar autonomia ao Banco Central e o novo arcabouço fiscal, um mecanismo de controle do endividamento focado no equilíbrio entre arrecadação e despesas, criado pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“O que o Bolsonaro fez e o que Lula faz é muito semelhante porque a austeridade vai além das distinções partidárias e vai além das oposições ideológicas porque, em última análise, a realidade é que, se você quiser ter uma boa aparência aos olhos do FMI [Fundo Monetário Internacional], se quiser ter uma boa aparência aos olhos das agências de rating, a receita é a austeridade”, afirma.

Confira abaixo os principais trechos da entrevista.

BBC News Brasil – Para começar, quais as origens da austeridade e por que os economistas passaram a buscar o controle das contas públicas?

Clara Mattei – A ideia da minha pesquisa é apresentar a austeridade não como um caminho inevitável para consertar a economia, mas como um projeto político, e entender como esse projeto influencia a direção para onde os recursos públicos vão, saindo das pessoas comuns em favor de uma elite, que faz com que sua renda não seja baseada em salários, mas em capital.

A ideia é que a austeridade, como conhecemos hoje, está difundida em todos os lugares em que os governos operam economias globalizadas, ou seja, não apenas nos EUA ou no Norte Global, mas em países como o Brasil.

Essas políticas têm um objetivo político específico: o de tentar uma supressão a qualquer alternativa ao capitalismo atual. Então, o momento em que normalizamos a austeridade como sinônimo de política econômica é o mesmo em que o capitalismo é totalmente desafiado.

No momento, a austeridade tem sido tão inquestionável que estamos convencidos de que o capitalismo é um sistema eterno, como se a busca eterna pela austeridade fosse a única organização econômica possível. Mas, na verdade, o que você vê é que, se você levar a história a sério, você percebe que o capitalismo é muito frágil e requer proteção constante.

Então, essa é a ideia. É dizer que o capitalismo, como gerador de riqueza e de crescimento do PIB, é baseado em uma relação social pela qual a maioria de nós tem que acordar e ir trabalhar por um salário muito baixo. E essa relação é tudo, menos algo natural.

E, na verdade, nos momentos da história em que as pessoas estavam se rebelando contra essa relação social e propunham sociedades em que a distribuição da produção era pensada mais democraticamente, em que os trabalhadores poderiam decidir sobre os recursos que eles estão produzindo, nesse momentos economistas empunharam a austeridade como proteção do capitalismo.

Então, eu digo que, se existe capitalismo, tem que haver austeridade. A austeridade não é uma correção de defeitos, mas, na verdade, é uma característica estrutural do capitalismo.

E é por isso que, em última análise, você vê como a austeridade funciona em momentos em que o sistema pode entrar em colapso porque as pessoas não acreditam mais nele. Então digamos que ela foi inventada, ou melhor, se tornou visível como um ato de estratégia de contra-ação num momento em que estas alternativas estavam surgindo depois da Primeira Guerra Mundial.

Economistas foram chamados pelos governos para realmente definirem a receita da austeridade, que tem tudo a ver com consumir menos e produzir mais e a ideia de que a maioria de nós tem que sofrer fundamentalmente e aceitar que a economia só funciona se tivermos salários baixos e não exigirmos muita distribuição.

Por isso, os economistas tiveram um grande papel porque, em última análise, estamos justificando isso através de modelos.

Assim, o livro tenta usar a história para dizer que precisamos repensar os debates públicos sobre austeridade. A austeridade não é apenas o Estado gastar menos e tributar mais. Esta é uma definição apolítica de austeridade que olha para o todo. O agregado perde de vista quem ganha e quem perde sob a austeridade. A austeridade não é menos Estado. É o Estado trabalhando ativamente em favor de poucos.

Portanto, trata-se de cortar despesas sociais, cortar hospitais, transporte escolar, beneficiar o povo em favor de subsidiar bancos, investimentos no complexo industrial militar, etc. Trata-se de aumentar os impostos sobre o povo através de tributos sobre o consumo que continuam subindo constantemente, enquanto os impostos sobre heranças, sobre ganhos de capital, sobre lucros extras, todos os impostos sobre os ricos são constantemente cortados, certo? É muito regressivo e é assim em todo o mundo.

E depois temos ainda a austeridade monetária, que consiste em aumentos nas taxas de juros. E, finalmente, temos a esterilidade industrial, que consiste na privatização e na redução do poder dos trabalhadores. E, mais uma vez, trata-se de uma intervenção direta do Estado na austeridade industrial para subjugar fundamentalmente os trabalhadores. Então é esta tríade de políticas e todas as três trabalham juntas, reforçando-se mutuamente com o objetivo de disciplinar as pessoas para que aceitem o capitalismo.

BBC News Brasil – E como essa busca incessante pela austeridade, que vai além do controle das contas públicas, abriu as portas para o fascismo, que é o tema do seu livro?

Mattei – A história normal é que o fascismo é, em última análise, o oposto da austeridade e as pessoas tornam-se fascistas porque se rebelam contra a austeridade. O que quero mostrar é que, historicamente, o berço do fascismo, que é a Itália de Benito Mussolini, os verdadeiros fatores que fizeram com que o ditador emergisse, chegasse ao poder e fortalecesse seu governo foram medidas de austeridade.

Então, na verdade, Mussolini chegou ao poder em um momento em que cada um dos trabalhadores na Itália era muito forte. Eles exigiam não apenas salários mais altos, mas também controle real sobre o processo de trabalho. Eles ocuparam fábricas. Eles administravam a produção por conta própria. Os camponeses administravam a agricultura no campo.

E Mussolini foi considerado pelos liberais nacionais e internacionais como o homem certo para um momento crítico. Há uma citação de Montagu Norman, ex-presidente do Banco da Inglaterra, considerado um símbolo do liberalismo, que diz em 1926 que o fascismo trouxe verdadeiramente ordem ao caos ao longo dos últimos anos, e que algo deste tipo era, sem dúvida, necessário para que o pêndulo não oscilasse na direção oposta.

O ponto aqui é que Mussolini foi aplaudido por causa de sua capacidade de criar a paz industrial à força, banindo fundamentalmente os trabalhadores. E é por isso que a austeridade e o fascismo, de mãos dadas, reforçaram-se mutuamente. Mussolini teve muito sucesso em chamar a atenção da elite global internacional, a elite liberal, devido à sua capacidade de impor austeridade, para que pudéssemos dizer que a austeridade era uma arma muito poderosa nas mãos dele.

Ao mesmo tempo, poderíamos dizer que isso ainda ocorre. Na Itália, temos Giorgia Meloni que, de certa forma, se refere como herdeira do fascismo. As pessoas não precisavam votar nela com a ideia de que ela seria crítica à austeridade imposta pela União Europeia. Em última análise, esse conjunto, o fascismo e o capitalismo não são opostos. Eles trabalham juntos e Meloni, como outros governos autoritários, uma vez no poder, tem praticado uma austeridade ainda mais dura do que os seus antecessores, que eram, obviamente, fãs tecnocratas da austeridade, como Mário Draghi [Ex-primeiro-ministro da Itália e ex-presidente do Banco Central Europeu].

BBC News Brasil – Apesar dessa ligação, há um dogma em governos de qualquer orientação ideológica de que o descontrole das contas públicas causa inflação e afugenta investimentos. Como a senhora vê isso?

Mattei – O objetivo deste trabalho histórico é, na verdade, mostrar como funcionam essas teorias econômicas que dizem que a austeridade é uma necessidade porque, se não a fizer, você corre o risco de ter inflação graças aos déficits orçamentários e esse o fato de que o capital internacional pode sair do país.

O ponto aqui é dizer que esse dogma não é falso. Ele revela a lógica do capitalismo, que é uma lógica baseada na opressão estrutural da maioria. Então, eu acho que isso é muito importante. A questão é que eles não estão necessariamente mentindo, mas estão expressando a dura realidade que vivemos numa economia que funciona para poucos em detrimento de muitos.

O que é importante perceber é que os economistas não são técnicos, são políticos e não são neutros, são de uma classe. E, então, esses modelos, de certa forma, fingem estar acima das classes.

Mas a realidade é que eles estão apoiando um sistema econômico que é estruturalmente baseado na exploração. Então, definitivamente deve haver uma saída porque é o caso de como o capitalismo global foi estruturado e, novamente, o capitalismo global não é natural, é uma construção de escolhas políticas das nossas instituições. A questão aqui é que essas escolhas foram feitas não pelo povo, mas pelas elites que comandam as instituições.

A questão dos bancos centrais independentes, do FMI, são todos isolados da intrusão democrática, do debate público e das eleições públicas, em geral. É por isso que um gestor dessas instituições não precisa dar a mínima, nunca se explicam, se arrependem ou pedem desculpas. Eles podem fazer o que quiserem. Portanto, este sistema foi construído por instituições que não representam o povo, mas sim a elite. Acontece que, uma vez construído o sistema que nos oprime e que tem, de fato, certas forças das quais não é fácil escapar, principalmente se você está no Sul Global.

Se você tem um problema na balança comercial, sua moeda perde valor, o capital sai do país e você fica mais fraco perante a concorrência global. Se você não conseguir manter seus salários baixos o suficiente em seu país, o capital irá para outro lugar e acontece que se você ainda taxar os ricos, os voos de capital acontecem, certo? Então não estamos lá. Não é como se fosse um conto de fadas. Eles estão nos contando sobre algo que é profundamente real, mas profundamente político, de modo que não devemos considerá-lo como a única maneira possível de fazer isso.

BBC News Brasil – Mas então, como sair desse processo, principalmente para países do Sul Global, que são obrigados a seguir a lógica de austeridade imposta pelo FMI sempre que precisam de ajuda?

Mattei – Acho que a maneira de sair é começar a questionar profundamente a própria lógica do sistema. As pessoas precisam dizer que não irão melhorar, se tornando mais competitivas, controlando orçamentos e deflacionando, porque, na verdade, se você olhar para o que está acontecendo, estamos apenas aumentando nossa dependência dessa economia global que nos oprime.

Então a maneira de sair dessa situação é realmente romper com essa dependência. E como fazer isso? Bem, acho que deveriam ser as pessoas no local que lutam por isso, mas trata-se realmente de lutar contra a dependência do mercado e isso pode acontecer a nível local. E penso que então os efeitos repercutem em termos da sua posição geopolítica em relação ao mundo.

Então a austeridade existe para aumentar a dependência do mercado, mesmo se perdermos o direito à escolaridade, à habitação ou aos cuidados de saúde porque agora precisamos de pagar por isso se ficarmos mais desempregados e o nosso trabalho se tornar mais precário porque existe a tríade da austeridade que nos tornamos mais dependentes do mercado.

Acho que o primeiro passo aqui é realmente encontrar maneiras pelas quais possamos organizar a distribuição da produção, rompendo com a dependência do mercado, e isso, creio, significa exercícios realmente locais de democracia econômica sobre a recuperação de espaços. Iniciativas coletivas que reforçam um senso de autonomia das pessoas em relação a este mercado que só nos oprime. É só assim que se pode realmente pressionar os governos a agirem em maior escala.

Além disso, as pessoas precisam perceber e entender como o capitalismo funciona. É por isso que escrevo livros, porque acho que o primeiro passo é realmente entender criticamente como o capitalismo funciona, e como, se você tentar cumprir os ditames da austeridade, estará na verdade cavando ainda mais a sepultura, de certa forma.

A emancipação vem de movimentos e práticas que vão contra a lógica do capitalismo e não movimentos e práticas que o reforcem.

Por exemplo, o fato de a única forma de curar a inflação é suprimir os salários, que é o resultado dos aumentos das taxas de juros é, obviamente, uma teoria que é profundamente política porque se baseia na repressão, mas é isso que também deve ser desafiado porque a questão é que, historicamente, temos visto isso mesmo dentro do próprio capitalismo.

A maneira de conter a inflação é, na verdade, estabelecer limites de preços ou tributar os lucros extras que estão sendo obtidos graças à inflação. Então essa ideia de que, na verdade, tem que ser as pessoas que sofrem sempre é uma receita que está alinhada com a lógica do capital. Mas pode-se dizer que mesmo se não quisermos superar o capital, poderíamos usar modelos diferentes que dizem realmente que o que precisamos fazer é colocar limite nos preços, tributar os ricos, etc.

A inflação tem tudo a ver com a decisão ativa das grandes corporações de aumentar os preços, e não é algo mecânico ou não natural. Sim. A inflação é, na verdade, produto de decisões políticas das empresas privadas para aumentar os preços. Então, como pode o Estado impedir que isso aconteça? “Ei, se você aumentar os preços, vamos tributá-lo e vamos decidir por vontade política que você não será capaz de aumentar os preços.”

Todas essas são opções que poderiam funcionar mesmo dentro do capitalismo, mas que são constantemente retiradas da mesa porque a ideia é que, na verdade, a única possibilidade é aumentar os juros. E este é o caminho a seguir natural, neutro e objetivo, certo? Então isso mostra mais uma vez como a austeridade é realmente política.

BBC News Brasil – A senhora também critica que uma das medidas de despolitização da economia teria sido isentar as decisões econômicas do escrutínio democrático, estabelecendo e protegendo instituições econômicas “independentes”, como o Banco Central, que se tornou “independente” no Brasil desde 2019. Como a senhora vê essa iniciativa?

Mattei – Foi uma ideia terrível. Mas acho que deveríamos parar de pensar em termos de Brasil. Como se tivéssemos que parar de pensar na Itália ou mesmo em termos da América. Infelizmente, novamente, estas são unidades que escondem o que realmente está acontecendo, que é que há brasileiros ricos que ganham com bancos centrais independentes e depois há a maioria dos brasileiros.

Somos constantemente privados de direitos e empobrecidos e os recursos são extraídos disso. Então isso é o que é importante dizer. O Banco Central foi uma boa ideia para a ordem de capital, então, definitivamente, a questão aqui é que você só pode fazer aumentos severos nas taxas de juros se as pessoas não estiverem no seu caminho e isso funciona muito bem.

As pessoas ganham? Claro que não. Penso que a questão aqui é voltar a dar o poder para que as pessoas possam opinar sobre a gestão monetária, para que a gestão monetária seja realmente feita em favor das suas prioridades, que não são as prioridades do capital, dado que a prioridade das pessoas é a satisfação das suas necessidades, a sua existência é baseada em necessidades muito concretas e simples, mas o sistema é baseado na acumulação infinita de capital que é ilimitado e é completamente desapegado.

BBC News Brasil – No seu livro, a senhora fala que, na Itália, o compromisso com a austeridade por parte dos especialistas financeiros era “tão grande que eles estavam dispostos a confiar em uma ditadura sangrenta para reerguer os pilares desmoronados da acumulação de capital” ao se referir ao período de Mussolini. Como viu a aliança política de Bolsonaro com a Faria Lima no Brasil?

Mattei – Em primeiro lugar, a maneira de ajudar uns aos outros é criar esta falsa sensação entre as pessoas comuns de que, na verdade, o liberalismo e o fascismo são opostos, portanto, eles precisam um do outro nesse sentido.

Eles precisam de alguém que seja supostamente diferente deles para que possam fingir que existe uma forma essencialmente diferente de gerir o capitalismo, se for liberal e não fascista. Isto é mentira porque, se olharmos para a história que conto, é que existe um paralelismo entre o que aconteceu na Grã-Bretanha liberal na década de 1920 e o que aconteceu na Itália fascista na década de 1920.

As histórias são basicamente as mesmas, a diferença é que na Itália, Mussolini usou um estado forte para impor uma supressão salarial por lei. Assim, aprovaram leis para suprimir os salários e fizeram greves se tornarem ilegais e prenderam quem discordava.

Já na Grã-Bretanha, eles usaram os aumentos nas taxas de juros para ter o efeito de desacelerar a economia, aumentando a taxa de desemprego, o que acabaria por significar matar toda a mobilização trabalhista, fechando todas as alternativas e os obrigando a voltar à ordem do capital.

Portanto, o que você vê é que a austeridade desempenha um papel semelhante em ambos os países, com nuances que realmente não importam. Então, antes de mais nada, acho que eles precisam uns dos outros porque a hipocrisia liberal é fingir que aquele fascismo não é capitalista e que só o liberalismo é capitalista, certo?

Então essa é a primeira coisa: eles precisam um do outro porque, na verdade, especialmente em alguns momentos, as pessoas estão fartas do sistema e exigem algo novo, e eles não deixam.

No Chile, Salvador Allende (1908-1973) foi eleito com a ideia de que a terra deveria ser realmente pública novamente, reverter as privatizações e empreender uma redistribuição séria de recursos em favor do povo. Isso é algo que aterroriza.

As instituições que dirigem o capital ordenam para que, nestes momentos, de desafios extremos à ordem do capital, o mesmo seja feito como na Itália, a melhor forma de impor austeridade e potencialmente a mais maneiras eficientes, é claro, um estado forte.

Portanto, em momentos em que as pessoas estão muito perturbadas e não querem cumprir a ideologia da austeridade, ela tem que acontecer por meio de coerção política que é dada por um governo autoritário. Como a coerção econômica não é suficiente, você precisa de mais coerção política. E é por isso que Pinochet era tão amado por alguém como Milton Friedman e todos os grandes economistas. Pois foi ai que eles perceberam que a tortura era necessária se você quisesse reimpor o capitalismo de mercado que funcionava como riqueza nos livros.

A austeridade mostra como o capitalismo é um sistema antidemocrático. Em última análise, o capitalismo funciona suavemente quando a democracia é suprimida. Portanto, a austeridade funciona muito bem quando é um regime autoritário capaz de isolar a tomada de decisões das pessoas.

Nos Estados Unidos, você tem o FED, o banco central americano, independente, sem que as pessoas estejam envolvidas. Já na Itália, perdemos a vertente monetária, que agora é definida pelo Banco Central Europeu. Em última análise, o que experimentamos em todas as supostas democracias liberais são graus menores destas tendências antidemocráticas que são próprias do capitalismo e especiais do capitalismo de austeridade.

BBC News Brasil – Atualmente, mesmo em um governo de centro-esquerda, como o de Lula, foi aprovado por aqui o novo arcabouço fiscal, que é um mecanismo de controle do endividamento focado no equilíbrio entre arrecadação e despesas. Além disso, o país tem uma das maiores taxas de juros reais do mundo. Como a senhora vê isso?

Mattei – A primeira coisa a fazer é trazer a economia conversar com as pessoas de uma forma que as faça perceber que estas decisões sobre orçamentos equilibrados e deflação monetária não são coisas separadas da sua vida cotidiana e que têm impactos diretos.

Então eu acho que esse é realmente o papel importante do jornalismo e da mídia, por exemplo, é falar sobre coisas que importam, como a relação entre o que significa recuperar o orçamento e os recursos para as pessoas e como isso atinge suas necessidades de sobrevivência.

A economia é política e o primeiro passo é perceber que, na verdade, infelizmente, a austeridade atravessa as linhas partidárias. O que o Bolsonaro fez e o que Lula faz é muito semelhante porque a austeridade vai além das distinções partidárias e vai além das oposições ideológicas porque, em última análise, a realidade é que se você quiser ter uma boa aparência aos olhos do FMI se quiser ter uma boa aparência aos olhos das agências de rating, a receita é a austeridade.

Portanto, você precisa ter salários competitivos, o que significa que você precisa suprimir os salários. Você precisa abrir o mercado às privatizações para que as grandes corporações possam vir e saquear o seu país e investir por aqui, o que significa tirar recursos das pessoas e, em última análise, é disto que se trata o capitalismo.

Acho que a realidade é que, se Lula quiser seguir outro caminho, precisa começar a questionar se queremos ser integrados em uma economia capitalista que funciona sobre os ombros dos trabalhadores e especialmente dos trabalhadores do Sul Global.

Então, penso que a primeira coisa é abrir os olhos para como funciona o capitalismo. É por isso que estou escrevendo esses livros, porque só então você poderá responsabilizar seu governo.

Então, se você quiser votar em Lula, você pode dizer que sim, mas não vamos nos comprometer com a austeridade porque queremos uma direção realmente diferente. Penso que as pessoas estão preparadas para uma organização econômica completamente diferente. E, novamente, a mensagem aqui é percebermos que o capitalismo não é natural, nem eterno, nem o único sistema possível.

Trata-se de dizer que estamos fartos de orçamentos equilibrados porque isto é apenas uma retórica para continuar a subsidiar o subconjunto habitual de suspeitos e levando à miséria a maioria.

BBC News Brasil – A senhora disse que austeridade não é apenas controlar as contas públicas, mas também vetar a organização dos trabalhadores e impostos mais progressivos. O Brasil discute hoje a volta do imposto sindical e uma segunda parte de uma reforma tributária que promete ser mais progressiva. Acha que é o suficiente?

Mattei – A mensagem do livro é dizer que as questões de políticas fiscais e monetárias nunca estão separadas das questões de relações trabalhistas. Hoje tudo é sobre políticas fiscais que visam enfraquecer os trabalhadores através da austeridade e das políticas monetárias.

Portanto, a ideia aqui é definitivamente que, se propormos diferentes medidas fiscais, isso terá o efeito de encorajar a capacitação dos trabalhadores e das pessoas nas suas relações laborais. Essas são formas de pressionar o governo a fazer coisas que vão contra a lógica da ordem do capital. E é por isso que a política é importante. É por isso que as pessoas têm que se envolver porque, em última análise, o Estado é sensível às pressões para uma mudança radical.

Talvez essas mudanças possam subverter o sistema, de modo que, na verdade, tenhamos que entrar em uma lógica diferente para equilibrar. Então, se agora o FED está aumentando as taxas de juros, prejudicando os trabalhadores nos Estados Unidos, no Brasil, podemos tentar fazer o oposto, podemos dizer “ei, vamos realmente propor a apresentação de impostos progressivos”. Isso é um passo muito, muito importante, porque faz com que as pessoas tenham espaço para se organizarem coletivamente.

Portanto, qualquer reforma que o Estado faça para realmente devolver recursos às pessoas e realmente use os impostos para derrotar a desigualdade, diminuir a desigualdade, proporciona espaço para uma potencial ação coletiva.

Giorgia Meloni suspendeu qualquer plano de transporte gratuito ou de renda básica pois estas são medidas que permitem corrigir a ideia para uma outra, na qual temos direitos como seres humanos e não somos apenas mercadorias à venda. E então sou muito favorável a todas essas campanhas que são o oposto da austeridade que vem sendo discutida.

Lula diz que Padilha ‘se mata’ por acordos no Congresso

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que o partido precisa se questionar por que elegeu uma base parlamentar pequena em relação aos governos petistas anteriores e ressaltou o trabalho de seus articuladores políticos para garantir a aprovação das propostas prioritárias neste primeiro ano de mandato.

Em discurso para a militância petista, Lula disse que seus correligionários precisam melhorar o discurso com a população para aumentar o número de congressistas nas próximas eleições.

“Temos de nos perguntar por que um partido que muitas vezes no discurso pensa que tem toda a verdade do planeta só conseguiu eleger 70 deputados. Por que tão pouco se a gente é tão bom? Se a gente acha que poderia ter muito mais”, afirmou.

Em seguida, reforçou o trabalho do ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e de seus líderes no Congresso.

“Reconstruir coisas com base parlamentar menor do que a que a gente já teve. É preciso muito competência do José Guimarães, Jaques Wagner, líderes na Câmara, do companheiro Padilha, que se mata o dia inteiro para tentar acordar a aprovação de uma coisa de interesse do nosso governo, da Fazenda, do Partido, de cada um de nós”, afirmou.

Lula disse que, em seus primeiros mandatos, não teve de trabalhar tanto quanto nesses primeiros 12 meses de gestão. O presidente reforçou a importância do Estado nos investimentos públicos quando não há recursos privados disponíveis e disse que um dos motivos para o não acordo com a União Europeia até aqui envolve justamente as compras governamentais.

“A economia brasileira tem que crescer. Para ela crescer tem que ter investimento. Para ter investimento, tem privado, quando a gente tem projeto. Mas se não tem privado, tem que ter dinheiro público para fazer a economia crescer, para gerar emprego e distribuir riqueza nesse país”, afirmou.

“É por isso que a gente não fez acordo com a União Europeia, porque a gente não quer ceder em compras governamentais. É uma coisa para a gente atender os interesses do governo, do fortalecimento da indústria e fazer com que micro, pequenas e médias empresas cresçam”, completou.

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Cúpula do Mercosul começa hoje no Rio: veja por que avanço no acordo com UE foi descartado

A reunião do Mercosul que começa hoje no Rio frustrará as expectativas de anúncio de algum avanço no acordo do bloco com a União Europeia. O encontro encerra a presidência rotativa do Brasil à frente do Mercosul e dá início ao mandato paraguaio.

Nesta quarta, será realizada a Reunião Ordinária do Conselho do Mercado Comum (CMC), órgão decisório de nível ministerial, com a presença dos chefes da equipe econômica de cada país. Na quinta, é a vez dos chefes de Estado se reunirem, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Depois de passar pela Alemanha, em viagem internacional, Lula disse que não desistirá do acordo e voltou a defendê-lo, ao lado do chanceler alemão, Olaf Scholz, que engrossou o coro.

— Não vou desistir enquanto eu não conversar com todos os presidentes e ouvir um não de todos. Aí nós vamos partir para outra — disse Lula.

Na semana passada, o presidente da França, Emmanuel Macron, se colocou contra o acordo, e a eleição na Argentina dificultou ainda mais o cenário. O atual governo do país indicou que não seria adequado ir adiante em um momento de transição, já que o presidente eleito, Javier Milei, tomará posse no próximo dia 10.

A expectativa era que o acordo fosse anunciado durante a presidência da Espanha na UE e do Brasil no Mercosul. Com o adiamento, as negociações seguem, mas não haverá uma rodada presencial decisiva, que estava prevista para acontecer às margens da cúpula. Ainda assim, a visão do governo brasileiro é de que o acordo nunca esteve tão perto quanto agora.

“As negociações do Acordo de Associação Mercosul-União Europeia avançaram significativamente. As partes encontram-se mais perto de uma conclusão do que em qualquer momento anterior na atual etapa negociadora”, disse a Presidência em nota.

O acordo prevê aproximar dois dos maiores blocos econômicos mundiais, com PIB combinado de cerca de US$ 17 trilhões e população de aproximadamente 700 milhões de pessoas. Na visão do governo brasileiro, o Mercosul tem buscado, nesta fase de negociação, estabelecer “compromissos mais equilibrados” com a UE. Um dos receios é a ameaça de sanções por não cumprimento de compromissos ambientais.

“O Mercosul tem manifestado preocupação com os impactos nocivos ao comércio que podem decorrer de uma nova geração de leis adotadas na União Europeia. Na área ambiental, o Mercosul está aberto a reafirmar compromissos que os Estados Partes assumiram em regimes internacionais. Entretanto, não aceita a vinculação entre tais compromissos e a ameaça de sanções comerciais”, afirmou o governo brasileiro.

Durante a cúpula, está prevista a promulgação do Protocolo de adesão da Bolívia ao bloco.

“Espera-se que a Bolívia possa concluir o seu processo de adesão com brevidade e trabalhar com os demais Estados Partes para definir cronograma de internalização das normas e regulamentos do Mercosul”, disse o governo brasileiro em nota.

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PIB do 3º trimestre será conhecido hoje: veja o desempenho da economia esperado pelo mercado

O Produto Interno Bruto (PIB) — a soma de todas as riquezas produzidas em bens e serviços no país — do 3º trimestre será conhecido na manhã desta terça-feira. A divulgação do número oficial do IBGE é aguardada pelos analistas de mercado com um viés negativo.

A maior parte dos economistas projetam desaceleração do crescimento da economia para 1,8% no período entre julho e setembro sobre mesmo trimestre do ano passado. No segundo trimestre, o crescimento foi de 3,4% nessa comparação com o mesmo período de 2022.

Campos Neto faz balanço da relação do BC com governo Lula em 2023: ‘É um primeiro teste e teve um ruído natural’ Hambúrguer ou sushi? Para ter sempre uma opção para o cliente, restaurantes se tornam multimarcas

Já na comparação com o trimestre imediatamente anterior, o mercado projeta retração de 0,3% no terceiro sobre o segundo, quando a economia havia crescido 0,9% ante o primeiro.

— A agricultura e a pecuária provavelmente apagaram parte do avanço de 20% visto no 1º semestre — diz Adriana Dupita, da Bloomberg Economics.

Analistas ouvidos pelo blog da colunista Míriam Leitão, do GLOBO, também apontaram a contribuição negativa do agro para prever um pequeno recuo da economia no terceiro trimestre, entre 0,1% e 0,2%.

IPCA: Calorão pressiona preço de alimentos e analistas estimam cenário pior para 2024

Em entrevista ao colunista do GLOBO Alvaro Gribel, o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, previu que o IBGE vai divulgar hoje uma queda do PIB em torno de 0,5% no terceiro trimestre.

— A economia teve três anos de crescimento mais forte, puxado principalmente pela alta das commodities. Agora, já começamos a ver a desaceleração, a partir desse dado do terceiro trimestre. Como o mercado de trabalho reage sempre depois, ainda veremos esse número bom em outubro. Em 2024, no entanto, o emprego também deve começar a desacelerar — sintetizou o economista.

2 de 2 Economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale — Foto: Claudio Belli/Agência O Globo Economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale — Foto: Claudio Belli/Agência O Globo

O dado do PIB de hoje pode ajudar os analistas a calibrarem as apostas sobre a taxa básica de juros, a Selic. Boa parte do mercado vê na desaceleração da economia um sinal de que o controle da inflação está consolidado e que a Selic pode cair para algo perto de 9,5% até o fim de 2024.

As projeções medianas do mercado para a inflação neste e no próximo ano têm se estabilizado, segundo o Boletim Focus, do Banco Central. Na edição de ontem, a previsão foi de 4,54% em 2023. Para 2025, a projeção mediana é de 3,92%. Ambas estão dentro do limite máximo da meta (3,25% em 2023 e 3% em 2024, com margem de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo) e subiram 0,1 ponto percentual em relação à sondagem da semana passada.

Minha Casa, Minha Vida: Promessa de Lula, ampliação de programa para famílias com renda até R$ 12 mil está travada

A estimativa para o PIB em 2023 também se manteve estável, nos mesmos 2,84% para 2023 da semana passada. Para 2024, a expectativa é de um avanço mais modesto do PIB brasileiro: 1,5%.

Governo reduziu previsão para o ano

Há duas semanas, o Ministério da Fazenda reduziu as projeções de crescimento para o PIB de 2023 e de 2024. Para este ano, o número caiu de 3,2% para 3%. A mudança ocorre em função de uma expectativa mais baixa de crescimento para o terceiro trimestre, que caiu de 0,1% para zero. Para 2024, a redução foi de 2,3%, para 2,2%.

Segundo o secretário de Política Econômica, Guilherme Mello, o cenário interno ainda é de uma economia resiliente, apesar do aumento das incertezas do cenário externo.

Ele apontou o mercado de trabalho com desemprego em queda, melhora da concessão de crédito, como efeito do programa Desenrola, e redução das curvas de juros. A revisão para baixo, contudo, reflete os números piores do terceiro trimestre deste ano, que deve ficar estagnado, pela projeção da pasta.

— De forma geral, o Brasil foi menos afetado pelas incertezas no ambiente internacional que vários de seus pares internacionais — afirmou o secretário.

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Quais são as cidades mais caras e mais baratas do mundo, segundo a revista The Economist

Uma pequena fortuna. É quanto podem custar alimentos, bebidas alcoólicas ou roupas em Singapura, a cidade mais cara do mundo para se viver, segundo um ranking elaborado pela revista britânica The Economist.

Todos os anos, a publicação prepara a lista com base no que um dólar pode comprar em cada uma das cidades que são analisadas.

Quanto mais forte for a moeda local, maior será a posição das cidades do país na lista.

Isso significa que, quanto mais forte for a moeda, mais cara será a cidade. E quanto mais fraca a moeda, mais barato o local vai figurar na tabela.

Em Singapura, uma coisa que tem um valor de extremo luxo é o custo de um certificado necessário para comprar um carro: a versão mais barata deste documento superou a cifra de US$ 106 mil (R$ 521 mil) no início de outubro.

A cidade introduziu o sistema de certificado de titularidade (conhecido pela sigla COE) em 1990 como uma medida para aliviar os congestionamentos.

Os potenciais proprietários de automóveis devem ter um COE antes de poderem adquirir um veículo. A validade do título expira após 10 anos.

Os direitos são vendidos em leilões quinzenais e o governo controla a quantidade de certificados à venda, que depende do número de carros retirados das ruas e estradas.

Apesar de ser relativamente pequena, Singapura é frequentemente classificada como um dos países com maior número de milionários no mundo e, portanto, raramente sai do primeiro lugar do ranking: a cidade-Estado ficou no topo do pódio em nove dos últimos 11 anos.

A cidade-Estado asiática aparece empatada no ranking deste ano com Zurique. Ambos os locais são considerados capitais financeiros.

A maior cidade da Suíça é sempre cara, especialmente em setores como alimentos, utensílios domésticos e entretenimento. Zurique ficou em primeiro lugar em 2020 e raramente sai das dez primeiras posições do ranking.

“A ascensão [de Zurique] ao topo da lista deve-se principalmente ao fato de o franco suíço ter valorizado mais de 10% em relação ao dólar no ano passado”, contextualiza a The Economist.

“A cidade de referência da pesquisa é Nova York, portanto, se a moeda de um país se fortalecer, as cidades geralmente subirão no ranking”, explica a revista.

A fraqueza recente do dólar fez com que as cidades americanas caíssem no ranking este ano. Nova York, a cidade mais cara do ano passado, caiu para o terceiro lugar. Nessa posição, aparece ao lado de outra cidade suíça — Genebra.

Para a Unidade de Inteligência da The Economist, a crise global do custo de vida que começou em 2022 ainda persiste em 2023, apesar de os preços cobrados pela energia e os problemas da cadeia de abastecimento terem diminuído.

Mesmo assim, a inflação continua elevada em todo o mundo: os preços dos 200 produtos e serviços que foram analisados pela revista aumentaram em média 7,4% durante 2023.

Este valor é ligeiramente inferior aos 8,1% de 2022, mas ainda fica bem acima da média de 2,9% dos cinco anos anteriores.

As cidades mais baratas

A cidade mais barata no ranking continua a ser Damasco, a capital da Síria, apesar de a média de preço na moeda local ter aumentado 321% no ano.

A retirada dos subsídios governamentais e a desvalorização da moeda fizeram com que os custos de importação disparassem por lá.

Nas últimas posições do ranking, também aparecem Teerã (Irã) e Trípoli (Líbia). A taxa de inflação em Teerã é elevada, quase 49%, enquanto os preços em Trípoli subiram pouco mais de 5% no ano passado.

A The Economist afirmou que as três cidades são particularmente baratas em alimentos, bem como em itens domésticos e de higiene pessoal.

E a América Latina?

No estudo deste ano, as três cidades que mais subiram no ranking estão na América Latina. Foram Santiago de Querétaro e Aguascalientes, no México, e San José, capital da Costa Rica.

Embora o ranking deste ano abranja 173 das principais cidades do mundo, a média global foi calculada excluindo Kiev (Ucrânia) e Caracas (Venezuela), que continuam a enfrentar um ciclo de hiperinflação acima da curva.

Na América Latina, a Cidade do México é a mais cara.

“Em 2023, o peso mexicano provou ser uma das moedas mais fortes dos mercados emergentes, graças aos aumentos das taxas de juro e ao forte investimento interno”, detalha a revista.

“Os bancos centrais de grande parte da América Latina foram os primeiros a seguir os aumentos das taxas de juros da Reserva Federal dos EUA para apoiar as moedas locais. Como resultado, o peso mexicano e o colón costarriquenho se fortaleceram”, explica a publicação.

Três cidades brasileiras aparecem no ranking da The Economist: São Paulo, Rio de Janeiro e Manaus. Elas têm uma posição intermediária na América Latina — são mais caras que Assunção (Paraguai) e Buenos Aires (Argentina), mas mais baratas que Quito (Equador), Santiago (Chile) e Montevidéu (Uruguai).

Buenos Aires, a mais barata da América Latina

Embora as autoridades estimem que a inflação na Argentina terminará 2023 em 180% ao ano, a capital argentina é a cidade mais barata da América Latina e do Caribe.

O principal motivo é a desvalorização sofrida pelo peso.

Atualmente, quem tem dólares na capital argentina pode conseguir em troca muito mais pesos do que há um ano.

“A Argentina tem uma trajetória fiscal insustentável, uma taxa de câmbio sobrevalorizada e uma balança comercial muito vulnerável. A inflação aumentou rapidamente, enquanto o peso argentino oficial enfraqueceu mais lentamente”, afirma Mali Chivakul, economista de mercados emergentes do banco J. Safra Sarasin.

“Como resultado, a taxa de câmbio real valorizou-se de forma acentuada desde 2022.”

“A estimativa do FMI sobre a sobrevalorização da taxa de câmbio real situa-se entre 15% e 20%. E o mercado paralelo argentino oferece um câmbio não oficial até 150% mais fraco que o oficial”, acrescenta o especialista.

Por isso, embora a população da capital sofra intensamente com um ciclo de inflação, a comparação com o dólar torna Buenos Aires uma cidade relativamente barata em relação às demais.

Preso mais um integrante da organização criminosa de Pastor Osório

O Departamento de Combate a Corrupção e ao Crime Organizado (Decor), da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), prendeu, na tarde desta sexta-feira (1/12), mais um integrante da organização criminosa liderada por Osório José Lopes Júnior, conhecido como Pastor Osório.

De acordo com a PCDF, o suspeito vinha atuando com empresa de fachada, localizado em um shopping da área central de Taguatinga, que funcionaria como um falso banco digital, convencendo as vítimas a investirem quantias em dinheiro com promessa de retornos de quantias exorbitantes, que seriam pagas por meio do falso banco.

O suspeito, que não teve a identidade divulgada, utilizava principalmente a internet como ferramenta para aplicar os golpes. De acordo com a investigação, era por meio de conversas enganosas em redes sociais, abusando da fé alheia, da crença religiosa e uma teoria conspiratória apelidada de “Nesara Gesara”, que o investigado e seus comparsas convencem as vítimas, em sua grande maioria evangélicas.

Uma das vítimas, uma idosa, chegou a “investir” R$ 5 mil com a falsa promessa de que receberia da falsa instituição financeira o crédito no valor de R$5.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000 (cinco nonilhões de reais), de acordo com o falso contrato entregue a ela.

Para efeito de comparação, o Produto Interno Bruto (PIB) Global, que representa a soma de todas as riquezas geradas por todos os países do planeta, foi de 101,6 trilhões de dólares, valor bilhões de vezes menor do que o que foi prometido para a vítima.

Na segunda fase da operação policial denominada Falso Profeta, ocorrida em setembro deste ano, o suspeito foi alvo de cumprimento de mandados de busca e apreensão em sua casa e nos endereços de fachada das suas empresas em Taguatinga e Atibaia (SP).

Ele estava proibido de realizar quaisquer tipos de postagens, pessoalmente ou por interposta pessoa, em páginas na internet e perfis nas redes e mídias sociais. No entanto, de acordo com a Polícia Civil, o suspeito descumpriu a ordem judicial com reiteradas postagens em redes sociais, tanto na página do falso banco quanto na de outros investigados, acarretando a expedição do mandado de prisão preventiva pelo Poder Judiciário do DF.

O suspeito é investigado pelos crimes de falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e estelionatos por meio de redes sociais (fraude eletrônica). O procurado foi encaminhado à carceragem da PCDF, onde permanece à disposição da Justiça.

Em setembro, o homem conhecido como Pastor Osório, líder da organização criminosa, foi preso na zona rural de Gurupi (TO). O estelionatário foi recambiado para o Distrito Federal no mês seguinte.

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Indústria cobra governo federal por plano para compra de novos equipamentos

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e 26 federações estaduais de indústria publicaram nesta quarta-feira (29/11) uma carta aberta ao governo federal. No documento, eles pedem para que o programa de depreciação imediata seja anunciado no prazo prometido pelo governo federal. O programa facilita a compra de novos maquinários.

Estudo da CNI apontou que as máquinas e equipamentos industriais têm, em média, 14 anos, e 38% deles estão próximos ou já ultrapassaram a idade sinalizada pelo fabricante como ciclo de vida ideal. A carta aponta que esse cenário enfraquece a produção nacional e a competitividade futura.

“Diante desse cenário extremamente adverso, caminhamos para nova queda tanto do PIB da indústria de

transformação, quanto da produção industrial em 2023. Gostaríamos de chamar atenção para a urgência do Programa de Depreciação Imediata, destinado à renovação de máquinas e equipamentos. Trata-se de uma ferramenta amplamente utilizada pelas principais economias no mundo e capaz de estimular investimentos, gerar empregos e impulsionar o crescimento econômico”, diz o texto. Ainda segundo as entidades, o plano “não implica renúncia fiscal e nem subsídio” , mas apenas adiamento das cobranças de Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) e Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ).

O programa foi anunciado ao setor industrial pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad em 25 de maio deste ano, durante evento no Palácio do Planalto. Meses depois, em 24 de julho, Alckmin e Haddad garantiram que o programa seria implementado até dezembro deste ano – com investimento de R$ 3 bilhões até R$ 15 bilhões.

“É urgente que o governo implemente o programa prometido, para evitar riscos maiores em relação à dinâmica do investimento produtivo e ao crescimento econômico”, apela o documento.

Como funciona a depreciação imediata?

Nas regras atuais da depreciação tributária a compra de um maquinário com, por exemplo, vida útil de 10 anos, deve ser deduzido do lucro real da empresa durante esses 10 anos. Assim, a cada ano, 10% do valor pago é abatido da base de cálculo em que deverá incidir o Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).

Com o novo programa, a depreciação imediata, o valor integral da máquina será deduzido do lucro real da empresa logo no ano de sua aquisição, e nos anos posteriores a empresa não terá valor a deduzir relativo a essa máquina. Em resumo, equivale a uma antecipação do valor a ser deduzido no IRPJ/CSLL e não uma redução da tributação.

“Não é uma medida de renúncia fiscal pois, por terem feito toda a dedução no primeiro ano, nos anos seguintes as empresas não terão nenhum valor referente a esses investimentos a deduzir da base de cálculo do IRPJ e da CSLL, o que vai aumentar o total de tributo a ser recolhido. Na prática, essa medida, apesar de não diminuir a tributação total acumulada ao longo dos anos, ajuda o fluxo de caixa das empresas, justamente quando ela tende a ter mais despesas, que é quando realiza os investimentos”, explicam as entidades.

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Comissão no Senado aprova indicações de Lula para diretoria do Banco Central

A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) aprovou, nesta terça-feira (28/11) as indicações feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para ocupar duas cadeiras na diretoria do Banco Central. Rodrigo Alves Teixeira e Paulo Pichetti foram sabatinados nesta manhã e receberam o aval dos senadores.

Com a indicação apreciada pela CAE, os nomes dos indicados seguem para sabatina no plenário da Casa, que deve ocorrer na segunda semana de dezembro. Se aprovados pelo conjunto de senadores, Rodrigo Teixeira vai ocupar a vaga deixada por Mauricio Moura, da Diretoria de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta. Paulo Pichetti ficará com a cadeira de Fernanda Guardado, da Diretoria de Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos Corporativos.

Os lugares vão ficar vagos a partir de 31 de dezembro deste ano, quando acabam os mandatos dos atuais diretores. A intenção é que Pichetti e Teixeira sejam sabatinados antes do recesso de fim de ano, para que assumam os cargos no início do próximo ano e participem da primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), prevista para janeiro de 2024.

Com isso, a diretoria do Banco Central contará com quatro nomes indicados por Lula, do total de nove cadeiras que compõem o Copom. Além dos dois sabatinados nesta manhã, o governo indicou Gabriel Galípolo, atual diretor de Política Monetária, e Ailton de Aquino, diretor de Fiscalização.

Doutor em Economia, Rodrigo Teixeira integra o quadro de funcionários do Banco Central desde 2002, quando ingressou na carreira de analista. Entre 2011 e 2012, foi Diretor Adjunto de Relações Econômicas e Políticas Internacionais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e assessor econômico do Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão.

Entre 2013 e 2015 ocupou cargos públicos no Estado de São Paulo, durante o mandato do ex-prefeito Fernando Haddad, atual ministro da Fazenda. Foi chefe de Gabinete e vice-secretário da Secretaria Municipal de Planejamento, Orçamento e Gestão da Prefeitura de São Paulo; membro do Conselho Fiscal da Companhia São Paulo de Desenvolvimento e Mobilização de Ativos, e do Conselho Fiscal da companhia SP Negócios; e presidente do Conselho Deliberativo do Instituto de Previdência Municipal de São Paulo.

No final do governo da ex-presidente Dilma Rousseff, foi assessor na Secretaria de Orçamento Federal e na Casa Civil da Presidência da República; bem como membro do Conselho de Administração da Companhia Energética de Alagoas, pertencente ao grupo Eletrobras.

Neste mandato do presidente Lula, voltou para a Casa Civil da Presidência da República, onde exerce o cargo de Secretário-Adjunto da Secretaria Especial de Análise Governamental. Além disso, é membro do Conselho de Administração da Empresa Gestora de Ativos (Emgea), do Grupo Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Camex) e do Conselho Deliberativo da Agência Brasileira de Promoção de Exportações (Apex-Brasil).

Pichetti é PhD em Economia, foi pesquisador na Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), de 2001 a 2005, e é pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas, desde 2006.

O indicado também atuou como consultor de Pesquisa Econômica e Elaboração de Estatísticas, incluindo projetos para a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento.

Atualmente, exerce a função de Coordenador de Índices de Preços ao Consumidor e Índices de Preços do Mercado Imobiliário no Ibre. Além disso, é membro do Comitê de Datação de Ciclos Econômicos no Brasil (Codace).

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