Copa pode ter contribuído com a queda do PIB, diz analista

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Nos últimos quatro anos, o governo se esforçou em convencer os brasileiros que a Copa do Mundo ajudaria a impulsionar a economia, criando empregos, multiplicando os investimentos e atraindo um grande contingente de turistas para o país.

“O Mundial é uma oportunidade histórica para promovermos desenvolvimento socioeconômico no âmbito local e nacional”, disse, por exemplo, Joel Benin, assessor para Grandes Eventos do Ministério dos Esportes, no início do ano. “Ele gerará 3,6 milhões de empregos, movimentará bilhões e deixará um legado importante na área econômica”.

Passado o evento, porém, consultorias econômicas, como a Tendências e a Capital Economics, fizeram seus cálculos e concluíram que o seu efeito geral sobre o PIB foi nulo ou insignificante. Mas poucas esperavam um impacto negativo.

E, às vésperas da divulgação do PIB do último trimestre, nesta sexta-feira, foi justamente o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que se apressou em culpar o evento esportivo pelo que – já se previa – seria um brusco desaquecimento.

“(A Copa) foi um sucesso do ponto de vista de organização. Do ponto de vista da produção e do comércio, prejudicou”, disse Mantega em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo e ao site de notícias UOL há pouco mais de uma semana.”(Durante o evento) tivemos muito poucos dias úteis. A produção industrial caiu e o comércio cresceu pouco. De fato, não foi um bom resultado.”

A divulgação dos resultados para o PIB confirmou que, como os analistas esperavam, o Brasil entrou em “recessão técnica” no primeiro semestre de 2014 – situação caracterizada por dois trimestres seguidos de crescimento negativo.

Segundo dados do IBGE, o PIB do último trimestre recuou -0,6% na comparação com o trimestre anterior e -0,9% em relação ao mesmo período do ano passado.

Também houve uma revisão para baixo do resultado do primeiro trimestre, de um crescimento de 0,2% para uma queda de 0,2%.

Entre os fatores que puxaram o PIB para baixo estão a queda de 5,4% nos investimentos neste trimestre e a redução de 1,5% na produção da indústria. Também houve uma queda de 0,5% nos serviços e 0,7% nos gastos do governo.

Mas a Copa foi a culpada pela queda do PIB no período? Se há consenso de que temos um problema no que diz respeito ao crescimento, o diagnóstico de suas causas está longe de ser uma unanimidade.

Além do Mundial, o governo também culpa o cenário externo desfavorável pela recessão.

Para analistas consultados pela BBC Brasil, as causas do desaquecimento são internas e a Copa até pode ter contribuído um pouco para a queda do PIB no primeiro trimestre ao paralisar alguns setores do comércio e serviços e ajudar a frear a indústria, mas definitivamente não está entre as principais causas da recessão.

“O Mundial foi apenas a cereja do bolo”, diz Alessandra Ribeiro, da Consultoria Tendências.
“A indústria, por exemplo, já vinha reduzindo suas atividades em função de uma série de fatores ligados a más políticas, queda no consumo, expectativas negativas e problemas de competitividade. Quando começaram os jogos seu ritmo caiu de vez, mas o cenário não seria muito mais favorável sem o Mundial.”

O economista Cláudio Considera, responsável pelo Monitor do PIB do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV) e Neil Shearing, da consultoria Capital Economics concordam.

“O impacto da Copa na economia como um todo – seja ele positivo ou negativo – deve ter sido pequeno.”, diz Shearing. “É preciso lembrar que o torneio só ocorreu no final do segundo trimestre – e em abril e maio o desempenho da economia também foi fraco.”

Fonte: Terra

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