Novela do Banco Econômico tem novo capítulo

radarSurgiu um fato novo na longa, arrastada e interminável novela da liquidação do Banco Econômico. Credores do banco entraram com uma ação no Ministério Público da Bahia. Estes credores, a quem o Econômico deve mais de R$ 700 milhões, cobram explicações do liquidante da instituição, Natalício Pegorini. Para eles, não há transparência na divulgação dos dados contábeis do banco. O último balanço apresentou um rombo de R$ 600 milhões. Mas Pegorini afirma que a situação do Econômico está ajustada, sob controle.

Os credores do Econômico esperam na fila há 19 anos. Enquanto isso, o ex-banqueiro Ângelo Calmon de Sá (foto) teve seus bens desbloqueados. Uma clara demonstração de que, mesmo depois de quase duas décadas após a quebra do Econômico, Calmon de Sá segue como um personagem influente. O banqueiro sempre teve um relacionamento estreito com as mais diversas instâncias de poder. Deve-se se ressaltar também sua proximidade com a própria mídia, em alguns casos com uma sinuosa mistura entre as relações corporativas e pessoais. Um exemplo clássico: entre os anos 70 e 80, era notória a proximidade entre Ângelo Calmon de Sá e o presidente do Jornal do Brasil, Manuel Francisco do Nascimento Brito.

Os mais antigos nas redações ainda hoje relatam os termos dessa “parceria”: o JB não publicava qualquer informação desfavorável ao Econômico; o banqueiro, por sua vez, entrava com sucessivos empréstimos para garantir a sobrevivência do periódico carioca. No início da década de 90, o cruzamento entre o banco e o jornal chegou a tal ponto que Francisco de Sá Junior, irmão de Ângelo Calmon e ex-presidente do Econômico, foi convidado para integrar o Conselho Editorial do Jornal do Brasil.

O que se seguiu depois, todos sabem. Talvez por uma ironia do destino, o Econômico de Calmon de Sá e o JB de Nascimento Brito tiveram um caminho semelhante. O banco quebrou, num dos maiores escândalos da história do sistema financeiro nacional. A saga jornalística dos Nascimento Brito, por sua vez, teve um fim melancólico. Ao menos, a emblemática marca JB ainda sobrevive. Em 2001, o empresário Nelson Tanure, que hoje tem participações em empresas como HRT e TIM, assumiu, por meio de um contrato de arrendamento, o Jornal do Brasil, que se encontrava em situação pré-falimentar. Sob administração de Tanure, o jornal passou por mudanças e fez uma ampla parceria com o New York Times. Em 2003, o empresário negociou a mesma operação de arrendamento da marca Gazeta Mercantil, jornal de economia fundado em 1920, até então era dirigido por seu proprietário Luiz Fernando Levy. Em 2009, Tanure exerceu direito de rescisão contratual do arrendamento da marca Gazeta Mercantil e restituiu-a à empresa de Luiz Fernando Levy. Desde então, a Gazeta Mercantil não tem sido publicada. O contrato, no entendimento de juristas, não configurou a sucessão de dívidas fiscais e trabalhistas assumidas antes pela família Levy. Tanure honrou compromissos financeiros da sua gestão, não tendo, portanto, dívidas a saldar com o extinto jornal.

Em 2009, Nelson Tanure mudou o foco de seus investimentos da mídia jornalística para outras áreas de comunicação. Vendeu todos seus títulos de revistas e outras publicações, mantendo, no entanto, o Jornal do Brasil. Em abril do mesmo ano, negociou a fusão da Intelig com a TIM do Brasil, tornou acionista da nova empresa. Todas as dívidas contraídas ao longo da sua gestão foram pagas, conforme atestam decisões da Justiça. Para manter o centenário título em circulação, o empresário optou em 2010 pela edição online. Os leitores do JB, portanto, sabem onde encontrar o jornal; já não se pode dizer o mesmo dos credores e antigos clientes do Econômico em relação ao banqueiro Ângelo Calmon de Sá.

Fonte: Marco Aurélio da Cunha Pacheco

 

 

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