Financiamento de imóvel deve ficar mais caro, diz Abecip

Os custos dos financiamentos de imóveis devem ser elevados nos próximos anos em decorrência de mudanças estruturais nas fontes que fornecem recursos para o crédito imobiliário, segundo Gilberto Duarte, presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).

Em evento realizado nesta terça-feira (26) sobre os resultados do mercado imobiliário em 2015 e as perspectivas para 2016, Duarte afirmou que em 2015 a poupança, principal fonte de recursos do crédito imobiliário no país, forneceu 75,6 bilhões de reais para a aquisição e construção de imóveis, o que representa uma queda significativa de 33% em relação ao ano de 2014.

A redução é fruto da menor atratividade da caderneta, que registrou captação negativa (número de saques superior ao de depósitos) de 50,1 bilhões de reais em 2015. “Com os aumentos da taxa básica de juros, a poupança perdeu sua vantagem e investidores dispostos a correr mais riscos buscaram outras opções de investimento mais rentáveis”, diz Duarte.

O número de financiamentos também apresentou queda acentuada no ano passado: enquanto em 2014 538,3 mil imóveis foram financiados com recursos da poupança, em 2015 o número caiu para 341,5 mil, uma redução de 36,6%.

Diante desse cenário, Duarte, que também é diretor de crédito imobiliário do Santander, afirma que os bancos devem buscar novas fontes de recurso – os chamados fundings, no jargão do mercado – para os financiamentos, que permitam manter uma independência maior da poupança.

Entre essas novas fontes de recurso estão investimentos que já existem no mercado, como as Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), além de títulos que ainda dependem de regulamentação, como a Letra Imobiliária Garantida (LIG).

Como esses títulos são menos populares do que a poupança, para atrair investidores eles oferecem taxas de remuneração mais convidativas. E são justamente essas taxas maiores que contribuem para o encarecimento dos financiamentos.

Enquanto na poupança os bancos pagam ao investidor 0,5% ao mês mais a Taxa Referencial (TR) para que ele aplique seu dinheiro, o que atualmente representa uma remuneração de cerca de 8% ao ano, nesses outros investimentos as remunerações oferecidas costumam superar a taxa Selic, que atualmente está em 14,25% ao ano.

Como os bancos sempre pagam aos investidores taxas menores do que as cobradas nos empréstimos, para garantir seus lucros, quando a fonte de recurso do crédito imobiliário migra da poupança para outros investimentos, as taxas mais altas são repassadas aos financiamentos, que ficam mais caros.

“O mercado hoje opera a taxas confortáveis, por causa da poupança, que é remunerada pela TR. Como esse funding está se exaurindo, o mercado tem dois caminhos: parar ou buscar um novo mix de fundings. Esse novo mix deve ser lastreado em LCIs, CRIs e outros títulos que, conjunturalmente, devem representar custos maiores nos financiamentos”, afirma Duarte.

Ele ressalta, no entanto, que o encarecimento deve ser mais sentido pelos compradores de imóveis de maior valor. Financiamentos feitos pelo Sistema Financeiro de Habitação (SFH) – que inclui imóveis de até 750 mil reais nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e no Distrito Federal, e de até 650 mil reais nos outros estados – ainda devem utilizar majoritariamente os recursos da poupança.

Os demais financiamentos, feitos dentro do Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI), é que devem sentir os maiores impactos da mudança nas fontes de recurso.

Fonte: Exame

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