O Comitê de Política Monetária (Copom) alertou que uma deterioração adicional das expectativas de inflação pode levar a um prolongamento do ciclo de alta de juros. Na ata da última reunião, divulgada nesta terça-feira (12/11) pelo Banco Central (BC), o colegiado apontou ainda que o crescimento dos gastos públicos e a sustentabilidade do arcabouço fiscal vêm tendo impactos relevantes sobre os preços de ativos e as expectativas.
“Uma política fiscal crível, embasada em regras previsíveis e transparência em seus resultados, em conjunto com a persecução de estratégias fiscais que sinalizem e reforcem o compromisso com o arcabouço fiscal nos próximos anos são importantes elementos para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de riscos dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”, diz um trecho do documento.
Na semana passada, o Copom intensificou o ritmo de elevação da taxa básica de juros (Selic), que subiu de 10,75% ao ano para 11,25% ao ano. A ata do encontro traz os argumentos que embasaram a decisão.
Durante a reunião, foi enfatizado o desafio de estabilizar a dívida pública em virtude de aspectos mais estruturais do orçamento público. “Mencionou-se que a redução de crescimento dos gastos, principalmente de forma mais estrutural, pode inclusive ser indutor de crescimento econômico no médio prazo por meio de seu impacto nas condições financeiras, no prêmio de risco e na melhor alocação de recursos”, aponta.
O BC também reforçou a defesa da adoção de medidas fiscais pelo governo, tema atualmente em discussão no governo, que prepara um pacote de corte de despesas obrigatórias. O argumento é que ações nesse sentido podem induzir o crescimento econômico.
“O Comitê reforçou a visão de que o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia”, destaca.
A desancoragem das expectativas de inflação foi apontada como um fator de desconforto comum a todos os membros do colegiado. “O Comitê avalia que a condução da política monetária é um fator fundamental para a reancoragem das expectativas e continuará tomando decisões que salvaguardam a credibilidade e reflitam o papel fundamental das expectativas na dinâmica de inflação”, frisa.
A estimativa para 2024 mantém-se acima do teto da meta de inflação a ser perseguida pela autoridade monetária, de 3% para este ano, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. O Copom afirma que “a reancoragem das expectativas é um elemento essencial para assegurar a convergência da inflação para a meta ao menor custo possível em termos de atividade”.
Segundo os diretores do BC, os preços dos alimentos estão pressionados por diversos fatores, dentre eles a estiagem observada ao longo do ano. Além disso, o encarecimento do dólar tem pressionado os preços dos bens industrializados, o que sugere maior aumento no custo desses componentes nos próximos meses.
O dinamismo do mercado de trabalho nacional é outro ponto em destaque. De acordo com o texto, a queda do desemprego ao menor nível da história é avaliada com cautela, pois o cenário pode motiva altas na inflação. “As recorrentes surpresas de curto e médio prazo na taxa de desemprego reafirmam um mercado de trabalho apertado, com dinamismo na geração de vagas, na troca de emprego e nas contratações”, avaliam os diretores da autoridade monetária.
O Comitê também aponta que o cenário externo se mantém desafiador, com incertezas econômicas e geopolíticas relevantes. O documento menciona as incertezas com a conjuntura econômica dos Estados Unidos. Os diretores consideram que eventuais mudanças na política econômica norte-americana trazem “adicional incerteza” ao cenário, com “possíveis estímulos fiscais, restrições na oferta de trabalho e introdução de tarifas à importação”.
A reunião do Copom foi finalizada no dia em que a eleição de Donald Trump foi confirmada. A avaliação prevê desaceleração da economia norte-americana. Sobre a China, o colegiado também debateu a desaceleração da segunda maior economia do planeta na tentativa de “decompor os aspectos cíclicos e estruturais envolvidos”.