Uma disputa fiscal está rachando ao meio a indústria brasileira de bicicletas. De um lado da pista, está a Caloi, líder histórica do setor e dona de quase metade das vendas no país; do outro, praticamente todas as demais fabricantes nacionais. O motivo é a proposta em análise no governo para a redução do IPI para as bicicletas. O presidente da Caloi, Eduardo Musa (foto), vem trabalhando nos bastidores contra a diminuição do imposto, agenda que só interessa à concorrência.
Com fábrica na Zona Franca de Manaus, a Caloi usufrui de uma série de vantagens fiscais, com isenções na cobrança de ICMS, PIS, Cofins e do próprio IPI. São benefícios que não contemplam alguns de seus principais competidores, em sua maioria instalados fora de Manaus, a começar pela segunda maior fabricante do setor, a Houston. A companhia até está montando uma fábrica na Zona Franca, mas o início da produção só deve ocorrer no fim do ano. Além disso, mesmo com o desembarque em Manaus, o complexo industrial de Teresina (PI) ainda deverá responder pela maior parte da produção da companhia. Quem também engrossa o coro pela redução do IPI é a Monark. Outrora a grande adversária da Caloi, a empresa tem fábrica em São Paulo.
Os executivos destas empresas vêm pedalando exaustivamente pelos gabinetes de Brasília. Levam na garupa um estudo da consultoria Tendências, mostrando que a redução de 10% no preço médio das bicicletas resultaria em um aumento do consumo da ordem de 15%. Antes de olhar para o bolso do consumidor, a concorrência logicamente mira o próprio caixa. A redução do IPI seria uma forma de combater as notórias vantagens competitivas da Caloi.
Responsável por mais de 45% das vendas de bicicletas do país, a Caloi joga o jogo e trabalha para manter sua primazia. Em conversas com seus pares da indústria e com autoridades do governo, Eduardo Musa repete que a companhia poderá suspender investimentos e promover demissões caso o IPI seja reduzido. No pôquer dos ciclistas, a concorrência aposta que tudo não passa de blefe.
Fonte: Relatório Reservado